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McDonald's e doação de coração: o que bloqueios golpistas já atrapalham

Bolsonaristas queimam pneus em bloqueio em rodovia - Eduardo Militão/UOL
Bolsonaristas queimam pneus em bloqueio em rodovia Imagem: Eduardo Militão/UOL

Lorraine Perillo

Colaboração para o UOL

07/11/2022 04h00

Atos golpistas continuam em algumas estradas durante a última semana, após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito de 2022. Bolsonaristas que não aceitam o resultado das urnas bloquearam as estradas, impedindo que caminhões com mantimentos, remédios e até carga viva (como bois e ovelhas) conseguissem passar e chegar aos seus destinos.

Com essas manobras, diversos estabelecimentos ficaram sem estoque de alimentos e produtos básicos. Veja abaixo algumas das frentes prejudicadas com o desabastecimento devido aos atos.

Alimentos estragados

No ano em que o Brasil voltou para o mapa da fome, com mais de 33 milhões de brasileiros vivendo em insegurança alimentar, a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) estimou a perda de, pelo menos, 500 mil litros de leite por conta das paralisações da semana passada.

Ainda segundo eles, 30 de linhas de produção de diversos alimentos ficaram paradas nas estradas por conta dos protestos. Além de leite, o fornecimento de carga viva (bois, porcos e aves), além de peixes, hortaliças, legumes e frutas também foi afetado, causando desabastecimento em diversas cidades.

Entregas atrasadas

Clientes reclamam da demora das entregas e lojas disponibilizam reembolso dos produtos. Os atos têm prejudicado a entrega de compras de Amazon, Mercado Livre e dos Correios. O Magazine Luiza disse que ainda não houve "impacto negativo" na logística. Shopee e AliExpress foram procurados, mas não responderam até a publicação deste texto. A Shein, por sua vez, não quis se pronunciar.

Paciente perde doação de órgão

Além da demora na entrega de mantimentos, pacientes em espera por tratamento e órgãos também estão sofrendo com os bloqueios nas estradas. A interdição impediu que a equipe médica chegasse em Goiás para coletar o coração que seria doado a um paciente em São Paulo.

De acordo com a Secretaria de Saúde, a demora para chegar até os pacientes impossibilitaram que a doação se concluísse com segurança, uma vez que o órgão teria, no máximo, 4 horas para sair de um paciente e entrar em outro. Em nota, a SES-SP lamentou a perda.

McDonald's sofre com desabastecimento

O McDonald's informou que suas lojas estão com dificuldades de repor alguns ingredientes e itens do cardápio por conta dos bloqueios nas estradas.

"Devido ao desabastecimento provocado pelo bloqueio nas estradas, informamos que alguns ingredientes ou até mesmo produtos do nosso cardápio estão em falta. Estamos fazendo o possível para normalizar o atendimento e voltar às atividades sem nenhum transtorno aos nossos consumidores", disse a empresa

Idosa perde exame de câncer

Uma idosa de 67 anos de Itaboraí, no Rio de Janeiro, perdeu um exame necessário para o tratamento de câncer, que estava marcado há mais de um mês. Em entrevista para o UOL, a neta explicou que a viagem já estava planejada, mas os bloqueios na BR-101 e na ponte Rio-Niterói atrapalharam. A família também tem receio que, mesmo realizando o exame, a idosa não consiga voltar ao hospital caso necessite.

Cirurgias adiadas e vacinas atrasadas

Em seis cidades de Santa Catarina, hospitais públicos foram obrigados a adiar, ao menos, 47 cirurgias eletivas entre os dias 31 de outubro e 3 de novembro. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, os protestos atrasaram a entrega de mais de 90 mil vacinas que saíram de São José com destino a Araranguá, Criciúma e Tubarão. Após ficar duas horas no trânsito, o veículo precisou voltar à central para impedir que as vacinas fossem inutilizadas.

Filho não consegue visitar mãe na UTI

Pedro Valentim, de 42 anos, recebeu a informação de que sua mãe, uma idosa de 62 anos, havia sido internada às pressas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. O rapaz, que estava em Florianópolis (SC), viajou às pressas para tentar visitá-la, mas não conseguiu passar pelos bloqueios na rodovia Palhoça, em Santa Catarina. Na mesma região, grupos que promoviam os bloqueios faziam churrasco e ouviam música.

Atraso em atendimento após tombo

Um ônibus que fazia uma viagem de São Paulo até Garopaba, no litoral catarinense, ficou 42 horas parado na estrada por conta dos bloqueios. Idosos e crianças passaram mal, e um passageiro ficou o trajeto inteiro com a suspeita de estar com a clavícula quebrada após um tombo pouco antes de entrar no ônibus ainda no Terminal Tietê, em São Paulo. A viagem terminou próximo de Curitiba por decisão dos motoristas.

Estudantes hostilizados perdem viagem

Estudantes do curso de Geologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) viveram momentos intensos de assédio e constrangimento na rodovia Presidente Dutra, na altura de Barra Mansa (RJ). Ao UOL, a estudante Késsia Oliveira contou que os ônibus em que estavam os alunos foram barrados assim que os bolsonaristas identificaram o símbolo da universidade. A viagem tinha como objetivo uma visita de campo em Uberaba (MG) e não chegou a ser concluída. Alunos e professores desceram do ônibus em grupos de quatro e passaram a noite em um hotel próximo.

Falta de combustíveis

Ainda devido aos bloqueios, caminhões-tanque que transportam combustíveis não conseguiram chegar aos postos de estados específicos, causando falta de abastecimento. No entanto, não há um desabastecimento nacional. A Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes) disse que aguarda a liberação das estradas pelos caminhoneiros o mais breve possível, "em prol do restabelecimento da normalidade do abastecimento nacional.

Velórios não esperam

Ceci Tigre, de 68 anos, perdeu a chance de se despedir de sua irmã, Gessi, pela última vez porque o bloqueio impediu que combustíveis chegassem aos postos de sua cidade, dificultando o abastecimento dos carros. Ela não conseguiu fazer a viagem de 180 km entre Indaial e Curitibanos, em Santa Catarina.

Fátima Sampaio, esposa do jornalista Cid Moreira, também ficou 15 horas na estrada para ir ao velório de um sobrinho, uma viagem que levaria em torno de 6 horas. Em suas redes sociais, ela reclamou bastante do período em que passou viajando e fez um desabafo sobre a importância da vida.