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Testemunha diz que pastor tinha relação sexual com filhas de Flordelis

7.nov.2022 - A ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) - Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ
7.nov.2022 - A ex-deputada Flordelis é julgada por júri popular em Niterói (RJ) Imagem: Brunno Dantas/Reprodução TJ-RJ

Do UOL, em Niterói

09/11/2022 19h01Atualizada em 09/11/2022 20h27

Daiane Freires, filha afetiva de Flordelis, revelou em depoimento durante o julgamento da pastora e ex-deputada que, em vários episódios, ficou sabendo de relações sexuais mantidas pelo pastor Anderson do Carmo e outras mulheres da casa. Segundo ela, Flordelis sabia das relações paralelas do marido, assassinado a tiros em junho de 2019.

Daiane é a nona testemunha a depor no julgamento de Flordelis, acusada de arquitetar o assassinato do marido. A testemunha —convocada pela acusação— disse ter presenciado uma das cenas íntimas envolvendo o pastor. Ela não mencionou qual irmã foi procurada por Anderson do Carmo.

"Uma noite ele entrou no nosso quarto e alisou a minha irmã. No dia seguinte, quando amanheceu, perguntamos porque ela não contava para a mãe [Flordelis]. Ela falou que conversou com a mãe, mas que ela pegou a Bíblia e mostrou que, se a mulher está ciente que o marido está procurando outra mulher, não é pecado", relatou ela em resposta a uma pergunta feita por Janira Rocha, uma das advogadas de Flordelis.

Após a delegada Bárbara Lomba, que investigou o caso, relatar em depoimento incesto na família, Rodrigo Faucz, advogado de Flordelis, negou a existência desse tipo de relação. "É algo totalmente inverídico. Essa prática nunca existiu."

Daiane disse ainda que Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis e também ré no processo, usava uma suposta relação com Anderson como "trunfo". Segundo a testemunha, Simone relatou que Anderson teria dito que iria "usufruir" de cirurgias plásticas que pagou para ela —tais como colocação de silicone nos seios.

"A Simone sempre falava como se fosse um trunfo. Lembro de uma vez que a gente já morava nessa casa atual, em que aconteceu o crime, e eu falei: 'Simone, por que você não coloca aparelho?' Ela falou pra mim: 'Eu não. Se eles assim já dão trabalho, imagina eu com aparelho'", disse ela, antes de continuar.

Ela [Simone] tinha feito a barriga e falou que o Niel [nome dado por Flordelis a Anderson] estava procurando ela. Porque ele tinha dado o peito [próteses de silicone] para ela e ele falou que precisava usufruir daquilo que ele deu."
Daiane Freires, filha afetiva de Flordelis

A principal tese sustentada pela defesa de Flordelis para tentar inocentá-la é que o crime foi cometido em reação a supostos abusos sexuais cometidos pelo pastor Anderson do Carmo contra outras mulheres da casa. O advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação em nome da família de Anderson, também nega que Anderson tivesse esse tipo de conduta.

Acusação de rachadinha. Daiane ainda disse que Anderson defendia a prática de rachadinha —devolução de parte dos salários de funcionários comissionados— no gabinete de Flordelis na Câmara dos Deputados. E que o mesmo ocorria com Wagner Andrade Pimenta, o Misael da Flordelis, que exerceu mandato de vereador em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, reduto político da família.

"Eu rompi com o Misael porque ele estava com as mesmas ideias que o pastor tinha e eu não concordava. Rachadinha e fofoca. Eu fui liberta disso e não ia deixar um outro alguém me aprisionar", disse ela.

Segundo investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), Flordelis e Anderson ficavam com uma parte dos salários dos assessores contratados em seu gabinete —vários deles filhos afetivos da pastora, como André Luiz, também réu pela morte de Anderson.

Em audiência em 2020, Daiane já havia falado sobre o esquema. De acordo com seu relato, a mulher de Misael, Luana Vedovi Rangel Pimenta, também foi nomeada no gabinete de Flordelis na Câmara dos Deputados e devolvia parte do salário para Anderson.

O advogado Ângelo Máximo, que representa a família de Anderson do Carmo, disse ao UOL que o suposto esquema de rachadinha no gabinete de Flordelis está sob investigação do Ministério Público Federal. Ele alegou que a responsabilidade por eventuais crimes é de Flordelis, que era a parlamentar eleita.

O UOL tenta contato com Misael e Luana.

O que diz Flordelis. Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora e ex-deputada reafirmou sua inocência.

"Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada."

Em entrevista à imprensa, Janira Rocha, advogada de Flordelis, expôs a linha de que Simone Rodrigues foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas da ex-deputada.

"Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou", diz a defensora da ex-deputada.

Os demais acusados dizem que são inocentes.

O julgamento. Além de Flordelis e Simone, serão julgadas por júri popular a neta Rayane dos Santos Oliveira e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.

A ex-deputada é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica. Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

Antes de Daiane, foram ouvidas outras sete testemunhas de acusação arroladas pelo MP-RJ e uma pelo assistente de acusação. Além delas, também foram convocadas quatro testemunhas de acusação, e 27 escolhidas pelas defesas dos acusados.

Não há prazo para que o julgamento seja encerrado. Fontes ligadas ao caso dizem acreditar que os trabalhos continuem no fim de semana, mas não há confirmação oficial de que isso ocorrerá.