'Pastor não deixava que a gente andasse de biquíni', diz filha de Flordelis

Em depoimento na manhã desta quinta (10), no Tribunal do Júri de Niterói, Roberta dos Santos, uma das filhas adotivas de Flordelis, negou que o pastor Anderson do Carmo tenha abusado sexualmente de algum de seus irmãos.

A tese vem sendo levantada pela defesa da ex-deputada federal, no julgamento dela e de quatro parentes, por envolvimento no assassinato do pastor, em junho de 2019. A filha contou que foi adotada aos três meses de idade e permaneceu na casa de Flordelis até 2015, quando se casou. Em três momentos do depoimento, ela chorou ao lembrar do pastor e disse estar indignada com as acusações de abuso sexual.

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"Quando me perguntam sobre abuso sexual [de Anderson], me dá embrulho no estômago. É um deboche. O pastor respeitava a todos, não permitia, por exemplo, que a gente andasse de biquíni, de short curto porque dizia que tinha muito homem naquela casa."

Em depoimento na manhã de ontem, Luana Rangel Pimenta, nora de Flordelis, também negou que Anderson tenha praticado algum abuso e disse que o pastor era quem evitava que a casa virasse "uma pornografia".

Ontem à noite, porém, Daiane Freires, filha afetiva de Flordelis, revelou que, em vários episódios, ficou sabendo de relações sexuais mantidas pelo pastor com outras mulheres da casa. Segundo ela, Flordelis sabia das relações paralelas do marido.

"Uma noite ele entrou no nosso quarto e alisou a minha irmã. No dia seguinte, quando amanheceu, perguntamos porque ela não contava para a mãe [Flordelis]. Ela falou que conversou com a mãe, mas que ela pegou a Bíblia e mostrou que, se a mulher está ciente que o marido está procurando outra mulher, não é pecado", relatou ela, em resposta a pergunta feita por Janira Rocha, advogada de Flordelis.

'Tinha muita gente folgada'. No depoimento na manhã de hoje, Roberta dos Santos reforçou o relato de outras testemunhas de que o pastor era rigoroso, o que gerava descontentamento em alguns filhos.

"Niel [como Anderson era chamado] não era uma pessoa fácil, mas nada era motivo para fazer o que fizeram com ele. Ele era rígido, e a casa tinha muita gente folgada que não aceitava regras, que não queria trabalhar. Isso foi um dos motivos que, com certeza, motivaram esse ódio para fazer o que fizeram."

Roberta disse saber que sua família não "era normal". Ela citou o fato, por exemplo, de alguns filhos serem privilegiados, inclusive na alimentação.

"Era uma família torta, errada, mas era uma família. (...) Quando chegavam as compras da casa, algumas sacolas já vinham separadas com um nó para diferenciar quem ficaria com aquela comida."
Roberta dos Santos, filhas adotiva de Flordelis

'Certeza que foi ela'. Roberta reforçou o que já havia dito em outros depoimentos: que tem certeza de que Flordelis foi a mandante do assassinato. Segundo ela, nada teria acontecido se a ex-deputada não quisesse, pelo poder que ela exercia na casa.

O Niel estaria vivo hoje com toda certeza, se ela quisesse. Ela era soberana naquela casa. Só foi assassinado porque ela permitiu."

A filha lembrou do semblante de Flordelis quando a encontrou após a morte do pastor.

"Quando eu cheguei e olhei na cara dela, a fisionomia era de um completo alívio. Era uma pessoa que você olhava e estava leve. Se tinha 1% de dúvida, ali tive certeza."

Invejosa. Após o depoimento, Roberta reclamou para a juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, que comanda a sessão, que teria sido chamada de invejosa por uma das advogadas que representam Flordelis, o que a defesa nega. A magistrada afirmou que as versões serão registradas na ata do julgamento.

Além de Roberta, serão ouvidas outras duas testemunhas de acusação e 13 da defesa. Não há previsão para o término das sessões, que já duram quatro dias.

O que está em julgamento. Começou na segunda (7) o julgamento de Flordelis pela acusação de ter arquitetado o assassinato de seu marido, Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Outras quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime também são julgadas. Ela terá seu destino decidido por um júri popular. Além de Flordelis, são julgados sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.

O pastor Anderson do Carmo foi assassinado com dezenas de tiros quando descia do carro, no quintal de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói.

A ex-deputada —cassada em razão do envolvimento no caso— é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.

Já Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.

O que diz Flordelis. Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora e ex-deputada reafirmou sua inocência.

"Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada."

Em entrevista à imprensa nesta semana, Janira Rocha, advogada de Flordelis, expôs a linha de que Simone Rodrigues foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas da ex-deputada.

"Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou", diz a defensora da ex-deputada.

Os demais acusados dizem que são inocentes.

O que já aconteceu no julgamento:

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