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PM enforca motociclista e atira em adolescente em briga de trânsito no DF

Jéssica Lima

Colaboração para o UOL, de Brasília

23/11/2022 13h26Atualizada em 23/11/2022 14h26

Um policial militar foi preso, na noite de ontem, após atirar na perna de um adolescente de 16 anos e dar um "mata-leão" na irmã dele, de 18. O crime aconteceu depois que a jovem colidiu a moto que pilotava no carro do PM, em frente a um condomínio de luxo, no Jardim Botânico (DF). As agressões foram gravadas por familiares das vítimas.

No vídeo, é possível ver a jovem, já acompanhada da família, em discussão com o militar, identificado como Eguinaldo José de Souza Júnior, que afirma que ela não pode deixar o local. A mulher que grava a ação com o celular, diz que ela vai deixar a área e o PM avança sobre a moça e aplica um mata-leão nela. Na sequência, pai e irmão da jovem reagem e conseguem soltar os braços do agente, que cai no chão e tiros são ouvidos. Segundos depois, o adolescente cai na calçada.

Durante toda a ação, a mulher que grava pede calma e questiona o PM sobre como ele poderia estar tomando aquela atitude enquanto está com o filho no carro. "Você não tem consciência?", questiona, pedindo que todos fiquem longe dele, a quem se refere como "descontrolado". As imagens mostram ainda um tio da jovem, revoltado, dizendo querer procurar uma faca para revidar as agressões e os presentes preocupados em acionar uma ambulância para socorrer o adolescente baleado.

Segundo a Polícia Militar, a jovem não tem habilitação, conduzia a motocicleta com o irmão de 16 anos na garupa, e tentou fugir do local, após a colisão, mas foi impedida pelo PM. "Não conseguindo, chamou familiares que tentaram, a todo custo, retirar a jovem do local a fim de evitar os procedimentos de trânsito legais", diz em nota oficial.

A corporação alega ainda que os familiares iniciaram a agressão ao policial, que, na tentativa de cessá-las e com o receio de ter a arma tomada e utilizada contra si, efetuou dois disparos em direção ao chão e um deles atingiu o adolescente na perna. A nota afirma ainda que o policial teve o veículo apedrejado, no qual estava o seu filho de 9 anos — que a fim de se proteger, saiu do carro e tentou fugir das agressões. "Os familiares ainda ameaçavam o policial dizendo para pegar uma faca para feri-lo".

Ao UOL, os familiares informaram que a motorista estava muito nervosa e queria ir pra casa. Por isso, eles teriam informado ao Policial Militar que resolveriam a situação, pagando inclusive os prejuízos. Mas, que, ao perceber a jovem indo embora, ele teria ficado "descontrolado".

"Em nenhum momento o condutor informou que seria policial militar. Quando vi ele dando um mata-leão na minha filha, fiz o que qualquer pai faria. Partimos pra cima dele, pra que ele a largasse", conta o mecânico Lourenço Fernandes. "Ele deveria ser mais preparado. O que ele mostrou foi o contrário. Extremante agressivo e violento. Uma simples conversa resolveria tudo. Mas, infelizmente, o fim não foi esse e nossa família está desesperada", conta Fernandes.

As imagens gravadas registram as agressões e o momento de desespero após o adolescente ser baleado. Ele foi socorrido pelo SAMU e levado para o Hospital de Base, onde passou por uma cirurgia ainda na noite de ontem.

"Estamos aflitos com a recuperação do meu filho. A cirurgia foi bem realizada, mas os médicos nos informaram que ele pode ficar sequelas. Queremos Justiça", disse o mecânico.

Investigações

O caso é investigado pela 30ª DP, delegacia localizada em São Sebastião. Ao UOL, o delegado informou que o policial militar foi preso por lesão corporal grave e passou por audiência de custódia nesta quarta-feira (23), em que teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.

Já o advogado de Souza Júnior alegou que ele teria agido por legítima defesa. "Após a batida, o PM ligou para o 190. A jovem imediatamente ligou para os familiares que chegaram antes da viatura e não deixaram ela sair. O que ele fez foi apenas impedir que ela fugisse. Foram três contra um. Apesar do policial agir por legítima defesa, ele foi autuado por lesão corporal, assim como o pai da motorista", explica o advogado Marcelo Almeida.

A irmã de Eguinaldo José Souza Júnior acompanhou os trâmites na delegacia. Érika Souza, 39, descreveu o militar como uma pessoa tranquila e pacata.

"O que o motivou a fazer tudo, foi a injusta agressão de três homens contra ele. O meu irmão é preparado, tanto que o tiro foi na altura da perna do agressor. Se ele não fosse preparado, teria atirado para todos os lados, sem rumo", opina.