Atirador de escolas em Aracruz (ES) responderá por homicídio qualificado
O atirador de 16 anos que matou três pessoas e deixou outras 11 feridas ao invadir duas escolas ontem em Aracruz (ES) responderá por ato infracional análogo ao crime de homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, perigo comum e impossibilidade de defesa às vítimas. Duas das três vítimas mortas tiveram seus corpos velados na manhã deste sábado.
Ele também responderá por tentativa de homicídio aos feridos no atentado. Seis pessoas ainda seguem hospitalizadas. O adolescente foi encaminhado ao Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo. As armas no crime foram apreendidas e serão submetidas a perícia. As informações são da Polícia Civil.
Ataque
Disparos: A ação do adolescente teve início por volta das 9h30 e começou pela Escola Estadual Primo Bitti, onde ele arrombou o cadeado de um dos acessos e fez disparos na sala dos professores, causando duas mortes e deixando vários feridos. Em seguida, o atirador entrou em um carro e se dirigiu ao Centro Educacional Praia de Coqueiral, uma instituição privada. No local, efetuou novos disparos, tirando a vida de uma aluna e ferindo outras vítimas.
Investigação: A Polícia Civil iniciou de imediato a investigação que possibilitou a apreensão do adolescente, que confessou o crime. Filho de policial militar, já se sabe que ele usou duas armas de responsabilidade do pai: um revólver de calibre .38, de propriedade privada, e uma pistola calibre .40, pertencente à Polícia Militar. Ele também levava três carregadores.
O atirador vestia roupa camuflada e uma máscara de esqueleto, similar à usada em fotos nas redes sociais por um dos autores do massacre ocorrido em 2019 na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP). Durante a apreensão, o adolescente não explicou à Polícia Civil por que fez os ataques.
O delegado João Francisco Filho disse que ele estava tranquilo e não manifestou arrependimento. A apuração preliminar apontou que ele fazia tratamento psiquiátrico. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o adolescente não tinha um alvo definido e que ele pode ter agido sob estímulo de grupos extremistas, que se organizam de forma virtual dentro e fora do Brasil.
Luto: O governador Renato Casagrande decretou três dias de luto, e confirmou que, no momento do crime, o adolescente usava uma braçadeira com um símbolo nazista. Imagens das câmeras de segurança registraram a ação.
Vítimas têm corpos velados
Os corpos de duas das três vítimas mortas no ataque estão sendo velados na cidade na manhã deste sábado (26). O ataque deixou outras 11 pessoas feridas, seis delas ainda internadas.
Professora: Maria da Penha de Melo Banho, 48, mais conhecida apenas como Penha, era evangélica, dava aulas de artes e atuava na alfabetização de crianças na escola há menos de um ano. Casada há 19 anos, tinha três filhos.
O corpo de Penha foi liberado pela família por volta das 22h de ontem e o velório teve início hoje pela manhã em uma igreja evangélica da cidade. Na porta do local, houve comoção das amigas da vítima. "Estou em choque, sem saber o porque de tanta brutalidade feita assim por um jovem. Ele não precisava acabar com a vida da Penha e de ninguém. É muito difícil pra gente lidar com isso. Estamos abalados, destruídos", contou a também professora Susana Oliveira.
Estudante: A outra vítima velada nesta manhã é a uma criança de 12 anos. O corpo dela passou por exame de necropsia ontem à tarde no DML (Departamento Médico Legal) em Vitória e liberado por volta das 18h. O velório acontece em uma outra igreja e o enterro deve acontecer no início da tarde. Atingida por vários disparos, a criança não teve tempo de ser socorrida.
"Estou emocionada, triste de ver uma criança linda, com todo futuro pela frente, ser tirada do mundo assim. Não consigo entender o que um ser humano pensa em fazer uma covardia dessa. Triste demais", disse uma amiga da família.
"Cultura da violência": O governador Renato Casagrande (PSB) esteve no velório e conversou com jornalistas. "Essa é uma tragédia que a gente jamais achou que iria viver aqui. Ver que um adolescente planejou esse ataque e aprendeu a manusear armas faz a gente fazer uma reflexão sobre a cultura da violência que está no coração, numa parcela da nossa sociedade, a intolerância, o incentivo à violência. Temos necessidade de cultivar a paz", disse.
Ainda sem despedidas: Primeira vítima do ataque a ser identificada, a professora de matemática Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, ainda não teve o corpo liberado pela família para as cerimônias fúnebres.
Cybelle estava na mesma sala com outros colegas quando no momento dos disparos na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti. Apaixonada pela profissão, defendeu, em sua dissertação de mestrado, os benefícios na aprendizagem de matemática com o uso de números inteiros.
Vítimas internadas em estado grave
Na manhã de hoje, a Secretaria Estadual de Saúde informou o estado de saúde de seis vítimas feridas nos ataques. São quatro professoras e dois estudantes, que estão sendo atendidos em três instituições hospitalares da região metropolitana de Vitoria, a maior parte em estado grave.
Professoras em estado grave: No Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves, três professoras de 52, 45, 38 anos, passaram por cirurgias e seguem em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em estado grave.
No Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, uma professora, de 58 anos, passou por cirurgia e o estado de saúde é considerado estável.
Crianças na UTI: Já no Hospital Infantil de Vitória, uma criança de 11 anos passou por cirurgia. Outra criança, de 14 anos, também passou por cirurgia e segue intubada. As duas estão em UTI.
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