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"Chega de tanto ódio", diz mãe de menina morta em ataque no ES

Stella Borges e Vinícius Rangel

Do UOL, em São Paulo e colaboração para o UOL, em Vitória

26/11/2022 15h56

O corpo da estudante de 12 anos morta ontem durante um ataque a tiros numa escola em Aracruz (ES) foi velado e enterrado na manhã de hoje na cidade, a 81 quilômetros de Vitória. Além dela, outras duas pessoas morreram e 11 pessoas ficaram feridas nos ataques a duas instituições de ensino. O suspeito, um adolescente de 16 anos, foi apreendido.

A mãe da menina morta, Thais Sagrillo Zucoloto, contou à TV Gazeta, afiliada da Globo, que a menina deixaria o colégio em breve, porque a família se mudaria para a Bahia.

A minha filha sempre foi luz e amor, e hoje eu perdi a minha filha para o ódio. Não sei como vou seguir sem ela. Perder um filho é uma dor que ninguém está preparado. Só Deus para me dizer como vou seguir em frente
Thais Sagrillo Zucoloto, mãe de uma das vítimas de ataque a escolas no ES

"Já chega de tanto ódio gratuito. Minha filha não fez nada. Quantas outras mães estão na mesma situação que eu? Quantas outras vítimas em escolas a gente vai ter? A gente precisa de amor agora e de paz", continuou.

'Era uma menina linda'. Parentes e amigos não se conformavam com a morte precoce da criança. A tia da vítima, muito abalada, disse que soube da notícia do ataque pela mãe.

A família chegou procurar em hospitais da cidade e da região metropolitana, mas descobriu por uma enfermeira que ela não resistiu aos ferimentos.

"Nós andamos por vários hospitais e quando ligamos para o [Hospital Estadual Dr.] Jayme dos Santos Neves, na Serra, descobrimos que ela já tinha partido. A minha filha perdeu a melhor amiga dela, a única prima. Ela nos deixou e isso dói demais. A gente não consegue ainda acreditar nisso", contou Tamires Fonttini Sagrillo Zani.

A tia ainda lembrou de como a menina era simples e que seria uma grande artista. "Ela sempre foi muito simples. Pedimos pra ela escolher um presente e ela pegou o mais barato, demos depois um melhor. Ela nunca pediu coisas caras. Era uma menina linda. Seria uma grande artista igual à mãe. Sempre pintou e desenhou bem. É devastador", lamentou.

Professora também é velada. Além da menina, o corpo de uma das professoras mortas também foi velado hoje em Aracruz. Maria da Penha de Melo Banho, 48, mais conhecida apenas como Penha, era evangélica, dava aulas de artes e atuava na alfabetização de crianças na escola há menos de um ano. Casada há 19 anos, tinha três filhos.

O corpo de Penha foi liberado pela família por volta das 22h de ontem e o velório teve início hoje pela manhã em uma igreja evangélica da cidade. Na porta do local, houve comoção das amigas da vítima.

"Estou em choque, sem saber o porquê de tanta brutalidade feita assim por um jovem. Ele não precisava acabar com a vida da Penha e de ninguém. É muito difícil pra gente lidar com isso. Estamos abalados, destruídos", contou a também professora Susana Oliveira.

Primeira vítima do ataque a ser identificada, a professora de matemática Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, ainda não tinha sido velada até o fim da manhã porque o corpo não havia sido liberado pela família.

Vítimas em estado grave. Até as 9h de hoje, a Secretaria Estadual de Saúde informou o estado de saúde de seis vítimas, todas em estado grave nos hospitais da região metropolitana de Vitória.

No Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves, três professoras de 52, 45, 38 anos, passaram por cirurgias e seguem em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em estado grave. No Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, uma professora, de 58 anos, passou por cirurgia e o estado de saúde é considerado estável.

Já no Hospital Infantil de Vitória, uma criança de 11 anos, passou por cirurgia e uma de 14 também passou por cirurgia e segue intubada. As duas estão em UTI.

O que se sabe sobre o caso? O primeiro ataque foi na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, onde duas professoras foram mortas. A segunda escola atacada foi o Centro Educacional Praia do Coqueiral e uma criança de 12 anos, aluna do 6º ano fundamental, foi morta no local.

Segundo a Polícia Civil, o atirador é filho de um tenente da Polícia Militar e se entregou no momento da detenção. Foi apreendido em casa. O delegado detalhou ainda que o adolescente portava duas armas de fogo, um revólver calibre 38 e uma pistola .40, que pertencia ao pai.

O adolescente, de acordo com a polícia, planejou o crime por dois anos. O infrator estudou, até meses atrás, na Escola Estadual Primo Bitti, e profissionais afirmaram à polícia que vinham recebendo ameaças de vida que anunciavam "vingança". Ainda segundo a polícia, o adolescente foi retirado da unidade de ensino no primeiro semestre deste ano por "não se adaptar à rotina da escola".

As polícias Civil e Militar acreditam que ele seria o autor das ameaças contra uma diretora e um professor da instituição, com base em relatos de estudantes sobre o que teriam ouvido o ex-aluno compartilhar. A motivação das ameaças ainda não foi esclarecida.

Ele responderá por ato infracional análogo ao crime de homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, perigo comum e impossibilidade de defesa às vítimas e por tentativa de homicídio aos feridos.

Como foi o atentado? Imagens feitas por câmeras de segurança registraram a ação do atirador no Centro Educacional Praia do Coqueiral, a segunda invadida, na manhã de ontem. Os vídeos mostram a entrada do suspeito —ele usa um macacão e um chapéu camuflados, uma máscara com sorriso de caveira e um cinto preto em volta da cintura, aparentemente preparado para guardar munições.

Com uma arma nas mãos, o infrator atravessou o portão do colégio, após arrebentar um cadeado, e correu em direção à porta de acesso ao prédio onde ficam as salas de aula. Ele então começa uma "caçada" pelos corredores da escola, correndo por diversas áreas do edifício e esticando a arma com frequência, ficando em posição para atirar.

Um dos trechos mostra dois alunos e uma funcionária caminhando por um corredor quando, de repente, ouvem a ação do atirador. Eles então começam a correr e se separam em busca de refúgio, sendo seguidos. Uma outra câmera capturou um aluno correndo para dentro de uma sala de aula vazia, com a mão na barriga. Logo em seguida, o garoto cai no chão, ensanguentado na região do abdômen. Toda a ação no colégio durou pouco menos de dois minutos.

De acordo com o capitão da PM Sérgio Alexandre, o atirador estava munido de uma pistola e carregadores quando invadiu a primeira unidade de ensino. Ele teria ido diretamente à sala dos professores, onde teria ameaçado profissionais no local e deu início aos disparos. Em seguida, foi até a segunda escola, localizada na mesma avenida.

A apreensão. De acordo com informações de testemunhas à polícia, após o crime, o adolescente se escondeu na casa dos pais e confessou o atentado. O pai dele chamou a polícia e informou onde o filho estava, logo após conferir os vídeos da ação, em que o adolescente aparece utilizando a arma do oficial. O veículo utilizado na ação estava estacionado na garagem da família e também foi rastreado pela polícia.