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Padre é afastado após abençoar casais homossexuais em SP; comunidade reage

Padre Assis Tavares é natural de Cabo Verde e radicado no Brasil desde 2012 - Keiny Andrade/UOL
Padre Assis Tavares é natural de Cabo Verde e radicado no Brasil desde 2012 Imagem: Keiny Andrade/UOL

Do UOL, em São Paulo*

09/12/2022 18h15Atualizada em 09/12/2022 18h15

Fiéis da Igreja Católica criaram um abaixo-assinado para revogar a decisão da Arquidiocese de São Paulo de afastar o padre Ivanildo de Assis Mendes Tavares após ele abençoar uma cerimônia de matrimônio na qual participavam casais homoafetivos. Segundo a Arquidiocese, a decisão se deu por "irregularidade" no processo de concessão do sacramento do matrimônio católico, cuja união não poderia se resumir a "simples bênçãos".

O abaixo-assinado, representado por cinco comunidades, incluindo a Comunidade São José Operário - Favela de Vila Prudente, na zona leste de São Paulo, já tem mais de 2,4 mil participantes e cita a tristeza e indignação com o afastamento do padre pela acusação de ter "abençoado pessoas".

"Desde sua chegada à Área Pastoral São José Operário, nas favelas da Vila Prudente, caminhando no meio do povo, entre os becos e vielas, sua opção é bem clara, e para nós, é um irmão que, desde jovem, saiu das Ilhas de Cabo Verde e assumiu sua missão de ser presença no meio do povo oprimido, mas isso tem um custo. Somos testemunhas do quanto Padre Assis é fiel ao evangelho, essa fidelidade que tem como prêmio a Cruz", diz o documento.

Nascido em Cabo Verde, país no noroeste da África, Assis saiu de casa para estudar fora aos 17 anos. Voltou em 2012 apenas para completar sua ordenação como padre e logo depois veio para o Brasil.

O padre foi afastado após ter participado de um casamento comunitário realizado em 22 de outubro, no Ginásio de Esportes Carlos Vicente Ferreira, localizado no Jardim Cruzeiro, em Franco da Rocha (SP). Na ocasião, também foram unidos em matrimônio casais representantes de outras religiões.

Conforme a Prefeitura de Franco da Rocha, durante a 15ª edição do Casamento Comunitário, organizada pelo município, a iyálorisá Tania ti Oyá, o pastor Sérgio Cunha e o kardecista José Lúcio Arantes também fizeram os seus pronunciamentos. Ao menos três casais homoafetivos participaram da cerimônia.

Em entrevista ao canal Um Bispo Contra Todas as Cercas, publicado na quarta-feira (7) no YouTube, o padre disse que não realizou matrimônios no evento, mas que apenas abençoou os fiéis presentes. "Dei uma benção, como dou benção para cachorro, para gato, para carro, para casa", disse ele. "Eu não poderia falar pros três casais homoafetivos 'saiam agora porque agora vou dar a benção'."

Ele ainda disse que estava feliz porque o crime dele tinha sido "benzer pessoas". "Não foi questão de pedofilia, não foi questão de roubar dinheiro do dízimo da Igreja ou separar famílias. Foi simplesmente benzer pessoas. E eu acredito nisso. A minha consciência está tranquila, 'tranquilíssima'".

Em nota enviada ao UOL, a Arquidiocese informou que "teve o seu "uso de Ordem" (autorização para exercer o ministério sacerdotal)" revogado.

"Não se trata de uma 'punição', mas, sim, uma medida cautelar, prevista nas normas da Igreja, quando há uma irregularidade grave, do ponto de vista religioso, que precisa ser melhor esclarecida", informou a decisão.

A Arquidiocese informou que o motivo teria sido "o possível delito canônico de 'simulação de sacramento' do matrimônio ao participar de uma cerimônia de casamento civil comunitário ocorrida em um ginásio de esportes do município de Franco da Rocha (SP)."

"Não houve o devido encaminhamento da celebração das mencionadas uniões, nem foi feito antes, como prescrevem as normas eclesiásticas, o regular 'processo matrimonial' para a verificação das condições para a realização válida e lícita dos casamentos, do ponto de vista religioso."

A Arquidiocese ainda informou que o sacerdote não poderia celebrar casamentos sem a devida autorização do bispo ou do pároco local, inclusive em conjunto com ministros de outras religiões, sem a devida "dispensa".

"Tratou-se, portanto, da participação inteiramente irregular, do ponto de vista das normas da Igreja Católica, para uma celebração de casamentos", diz comunicado.

A Arquidiocese também informou que a decisão não "consistiu apenas em uma benção dada às pessoas individualmente, que, certamente, não pode ser negada a ninguém que a pede", mas, sim, "às uniões civis ali realizadas."

"A Igreja tem o matrimônio como um dos seus sacramentos e não permite que sejam dadas 'simples bênçãos' que possam levar os casais a crerem ter contraído matrimônio católico."

A instituição também ressaltou que a retirada do "uso de Ordem" é uma medida cautelar e que pode ser modificada após apuração dos fatos. A Arquidiocese ainda lamentou o ocorrido.

*Com informações da Agência Estado