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Mãe de menino usado em tatuagem sem permissão denuncia racismo: 'Exausta'

Foto de menino de quatro anos foi tatuada no braço de um homem em São Bernardo do Campo - Neto Coutinho Tattoo/Reprodução de Instagram
Foto de menino de quatro anos foi tatuada no braço de um homem em São Bernardo do Campo Imagem: Neto Coutinho Tattoo/Reprodução de Instagram

Do UOL, em São Paulo

10/12/2022 18h35Atualizada em 10/12/2022 18h50

Mãe de menino usado em tatuagem sem permissão, Preta Lagbara disse que vem sofrendo ataques racistas desde que denunciou o caso, e disse estar "exausta". Ela afirma que recebeu mensagens enviadas por seguidores e familiares do tatuador que reproduziu uma foto do filho dela, Ayo, no corpo de um desconhecido em São Bernardo do Campo (SP).

"Mas teve ofensa contra mim, sofri racismo, racismo religioso e ameaça contra o Ronald [fotógrafo responsável pela imagem do filho dela]. Vou na delegacia e vou expor as fotos e os nomes de todos os familiares do netocoutinhotatoo que estão vindo ao meu direct, tentar tirar o resto de sanidade que me resta, tentando me desestabilizar, que inclusive são perfis públicos. Também vou expor os seguidores do netocoutinhotatoo que estão praticando crimes de racismo contra mim e contra a minha religião", escreveu.

O UOL entrou em contato com o tatuador para saber se ele deseja se posicionar. Se houver um retorno, esta nota será atualizada.

A tatuagem em questão foi copiada de um ensaio fotográfico feito em janeiro pelo fotógrafo Ronald Santos. O caso ganhou repercussão quando, ao não receber retorno do tatuador, Preta compartilhou uma nota denunciando o ocorrido.

Segundo ela, após os compartilhamentos nas redes sociais, o tatuador Neto Coutinho a procurou por mensagem no Instagram, e justificou que retirou a imagem do Pinterest sem saber de quem era a fotografia.

Na publicação feita ontem, Preta também reclama da espera, e ressalta que 11 dias após a denúncia ainda não sabe quem é a pessoa tatuada com a foto do filho dela, e que o tatuador responsável pelo desenho "não resolve a situação da remoção".

"O rosto do meu filho continua no corpo de um homem estranho. E quem se dizia arrependido, quem pediu desculpas a mim e ao meu filho, segue a vida trabalhando tranquilamente, enquanto estou aqui, sem dormir, sem conseguir produzir na faculdade, sem conseguir gerir minha empresa. Exausta, abalada psicologicamente e fisicamente", escreveu.

O tatuador Neto Coutinho usou as redes sociais para se posicionar e, em uma publicação assinada pelo advogado Gabriel Rodrigues, expressou "profundo pedido de desculpas, principalmente aos pais, familiares e à própria criança". Na postagem feita há mais de 10 dias, ele reconheceu "o equívoco cometido" e disse que não tinha intenção de trazer prejuízo para os envolvidos.

Na época, a reportagem procurou o tatuador por e-mail e redes sociais, mas não houve retorno.

A utilização da fotografia sem autorização do responsável pela captura pode configurar em crime de violação de direitos autorais, explicou ao UOL o advogado especialista em propriedade intelectual do Barcellos Tucunduva Advogados, Luiz Fernando Andrade.

Por outro lado, o uso da imagem de alguém sem a autorização da pessoa retratada só pode ser considerado um crime caso a foto retrate nudez ou um contexto de injúria, pornografia, racismo ou outro tipo de preconceito.

Nos dois casos, o fotógrafo e o fotografado podem entrar com pedidos de indenização por danos morais ou materiais ao tatuador e ao tatuado.