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Alerta por sirenes é 'cruel' e não pode ser solução permanente, diz geólogo

Especialistas já tinham mapeado áreas de risco, mas autoridades passam longe de planos de solução, segundo geólogo  - Reprodução
Especialistas já tinham mapeado áreas de risco, mas autoridades passam longe de planos de solução, segundo geólogo Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

23/02/2023 04h00Atualizada em 23/02/2023 12h57

As soluções para evitar tragédias como a do litoral de São Paulo, em que uma tempestade deixou dezenas de mortos, incluem prioritariamente programas de habitação popular e desocupação de áreas de risco. O uso de sirenes é importante, mas não deve ser visto como solução permanente por ser "extremamente cruel".

A opinião é de Álvaro Rodrigues, geólogo que presta consultoria para empresas de engenharia e trabalhou no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Ele explica que o primeiro passo para reduzir a perda humana e material é impedir novas ocupações em terrenos vulneráveis, muitas vezes já alvo de desmatamento ou alteração de drenagem de água.

No entanto, a iniciativa deve ser aliada à construção de moradias acessíveis, como as do programa Minha Casa Minha Vida. Considerando ainda que as residências em áreas de médio risco podem ser mantidas com adaptações que conservem o meio ambiente e considerem a formação do terreno.

Segundo ele, especialistas já fizeram propostas para remediar os prejuízos causados pela chuva, mas o monitoramento foi ignorado.

Álvaro Rodrigues, geólogo  - Divulgação - Divulgação
Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo formado pela USP
Imagem: Divulgação

Já a instalação de alertas sonoros em áreas de risco, como feito em Petrópolis, é importante para evacuar a região em risco, mas o especialista alerta que a medida deve ser apenas "emergencial".

Muitas vezes, critica ele, são tratadas como muleta de gestão de risco por representar baixo custo aos cofres públicos.

Seria muito interessante ver como as autoridades públicas responsáveis por esse crime de omissão reagiriam fossem eles os moradores em áreas de risco, vendo-se submetidos à brutalidade de, ao som de uma sirene, ou de um torpedo no celular, deixar suas casas às 3 horas da manhã sob chuva torrencial, carregando idosos, crianças, doentes e parentes com necessidades especiais para fugir do barro e das pedras
Álvaro Rodrigues, antigo pesquisador do IPT

O que o governo diz

Ministro de Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes fez um pronunciamento defendendo o envolvimento de escolas, igrejas e comércios locais para mobilizar a população a ir para áreas seguras, mas assumiu que o sistema atual de alertas, que reúne rádio, TV e mensagens de texto, não tem sido eficiente para momentos de maior risco. Até o momento, Góes não mencionou planos do Governo Federal para realocar pessoas vulneráveis.

Ainda segundo o ministro, a Defesa Civil mapeou 14 mil pontos no Brasil com risco de desabamento de encostas. Nesses locais, de acordo com ele, moram quase 4 milhões de pessoas. O UOL tenta contato com a Defesa Civil do estado de São Paulo para obter mais detalhes sobre os dados do litoral paulista.

Aquecimento global não é único culpado

As áreas de risco no litoral norte de São Paulo, atingido por uma tempestade histórica do sábado para o domingo, já tinham sido mapeadas por órgãos geológicos. De acordo com Álvaro, por mais que a chuva tenha sido "extrema", os grandes volumes de água são comuns na Serra do Mar. Por isso mesmo, não é possível relacionar a tragédia com o aquecimento global antes que estudos comprovem este fator.

"Na verdade, pelo histórico de eventos, não precisamos do aquecimento global para entender o que ocorre hoje na Serra do Mar. Todos esses municípios (afetados pelas chuvas) contam com Cartas Geotécnicas e Cartas de Risco elaboradas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, pelo Instituto Geológico e pelo Serviço Geológico do Brasil. Essas cartas permitiriam aos municípios ordenar seu crescimento urbano, não ocupando áreas de grande risco e ocupando com técnicas adequadas áreas de menor risco. É uma tragédia anunciada, sem dúvida", afirma o pesquisador.