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'Escravizados do vinho': vinícola diz repassar R$ 6.500 por pessoa ao mês

Ginásio recebe escravizados na produção de vinho no RS, que relatam tortura com choque e gás de pimenta - Arquivo - Inspeção do Trabalho
Ginásio recebe escravizados na produção de vinho no RS, que relatam tortura com choque e gás de pimenta Imagem: Arquivo - Inspeção do Trabalho

Do UOL, em São Paulo

26/02/2023 15h09Atualizada em 27/02/2023 17h54

A Vinícola Aurora afirmou que pagava R$ 6.500 por mês por trabalhador terceirizado contratado pela empresa Oliveira e Santana, que foi alvo de uma operação do Ministério Público do Trabalho por manter empregados em condições análogas à escravidão. O dado foi divulgado pela companhia no Instagram.

Na nota de esclarecimento, a Aurora afirma ainda que a contratação de terceirizados para colheita da uva se deve à escassez de mão-de-obra na região no período da safra e que "não compactua com qualquer espécie de atividade considerada, legalmente, como análoga à escravidão".

A Aurora repassa à empresa terceirizada um valor acima de R$ 6,5 mil/mês por trabalhador, acrescido de eventuais horas extras prestadas."
Vinícola Aurora, em nota de esclarecimento

No texto, a Aurora afirma ainda que:

  • Fornece café da manhã, almoço e jantar aos prestadores de serviço durante o turno de trabalho.
  • Oferece a todos os prestadores de serviço os treinamentos previstos na legislação trabalhista.
  • Não faz distinção entre funcionários da empresa e trabalhadores terceirizados.

Dados da Receita Federal apontam que a Oliveira e Santana foi aberta em 2012 e fica sediada em Bento Gonçalves (RS). Com cadastro ativo, a empresa tem Bruno Alves de Souza Assis identificado como seu único sócio-administrador.

Salton admite que falhou em monitorar condições de moradia de terceirizados

Em nota oficial, a Salton —outra vinícola que contratou os serviços da Oliveira e Santana— lamenta os acontecimentos e repudia "qualquer ato de violação dos direitos humanos e trabalho sob condições precárias e análogas à escravidão". A empresa admite que falhou em monitorar a situação na qual se encontravam os terceirizados.

Reconhecemos que não averiguamos in loco as condições de moradia oferecidas por este prestador de serviço aos seus trabalhadores."
Salton, em nota oficial

Em nota enviada ao UOL, a Cooperativa Garibaldi informou que recebeu "com surpresa e indignação" as denúncias relacionadas à Oliveira e Santana e que "repudia qualquer prática que afronte o respeito ao ser humano ou comprometa sua integridade".

A Cooperativa Vinícola Garibaldi encerrou o contrato de prestação de serviço e colocou-se integralmente à disposição das autoridades competentes para colaborar de todas as formas com as investigações
Cooperativa Vinícola Garibaldi, em carta aberta divulgada nesta segunda (27)

Relembre o caso

Na última quarta (22), 207 trabalhadores contratados para fazer a colheita da uva em vinícolas na região de Bento Gonçalves foram encontrados em uma pousada no bairro Borgo, na mesma cidade.

De acordo com depoimentos, eles eram trazidos da Bahia com a promessa de alimentação, hospedagem e transporte custeados pela Oliveira e Santana. Porém, isso não acontecia, sendo cobrada uma dívida logo na chegada e oferecido um alojamento em péssimas condições.

Além disso, segundo os depoimentos, os empregadores forneciam empréstimos a juros extorsivos aos trabalhadores, que relataram também sofrer violências física e psicológica. Com idades entre 18 e 57 anos, eles começaram a voltar para a Bahia na última sexta (24).