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'Era um arquivo vivo', diz escritora que passou 6 dias com Pedrinho Matador

Do UOL, em São Paulo

07/03/2023 04h00

A escritora Ilana Casoy entrevistou Pedrinho Matador, serial killer assassinado no último domingo (5) em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, durante seis dias no presídio de Franco da Rocha (SP) em julho de 2005. Ele saiu da cadeia em 2017.

Pedrinho ficou 42 anos preso. Então, era um sobrevivente, e conhecia o sistema penitenciário. Ele era um arquivo vivo."
Ilana Casoy

A escritora conta a história do criminoso na segunda edição do livro "Serial Killers Made in Brazil". A obra foi relançada em 2014.

Pedrinho Matador tinha em sua ficha criminal 71 homicídios, mas dizia que havia matado mais de cem pessoas —a maior parte dos crimes foi dentro da prisão. Ele foi morto em frente à casa onde morava por dois homens em um carro. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

A escritora traçou um paralelo entre a identidade do criminoso e do homem. A descrição dos assassinatos, de certa forma, contrastava com a personalidade de um homem descrito como "simpático e educado".

Toda a construção da identidade do Pedrinho foi formada em cima da 'lenda do mal' e está baseada na vida criminosa dele. Eu conheci a história de vida do Pedro, que tinha preocupações, dores e amores."
Ilana Casoy

A violência, para ele, no entanto, é relatada pela escritora como "algo simples e do cotidiano".

'Meu nome é Pedrinho Matador'

  • "A senhora vai colocar o meu nome aí?", perguntou Pedrinho, após as entrevistas no sistema prisional para a segunda edição do livro.
  • "Pedro Rodrigues Filho, né?", tentou confirmar Ilana.
  • "Se colocar esse nome, ninguém vai saber quem é. Meu nome é Pedrinho Matador", respondeu, segundo detalhou Ilana ao UOL.

Código próprio para matar

Pedrinho tinha um código próprio para matar, que começou a ser estipulado quando ele chegou no sistema prisional com apenas 18 anos, diz Ilana. Segundo ela, Pedrinho foi levado para a cela de uma das lideranças no presídio. Era tido como "carne nova no pedaço".

Quando o colega de cela dormiu, Pedrinho disse ter assassinado o interno com um parafuso no ouvido. "Ali, ele ganhou fama dentro da penitenciária, que só cresceu ao longo dos anos".

Mas a motivação para matar poderia ser banal e até mesmo aleatória.

Ele contou que leu ou ouviu que o intestino tinha sete metros, mas não acreditou. Aí, furou um outro preso, enganchou a ponta da faca no intestino e puxou só para conferir."
Ilana Casoy

"Ele matava pelos mais variados motivos, em motins ou rebeliões. Mas nunca por justiça. Ele eliminava o que ele não achava bom, pelo código dele."

Em uma das entrevistas para a escritora, ele confidenciou um desejo: matar o Maníaco do Parque e Suzane von Richthofen.

'Aprendeu a usar a lenda que ele criou'

O primeiro crime cometido foi aos 14 anos, segundo a polícia. Na lista de suas vítimas, tem até político —matou o vice-prefeito de Alfenas (MG) por demitir o pai que trabalhava de guarda em uma escola.

Dizia, inclusive, ter matado o próprio pai e arrancado o coração dele do peito no sistema prisional. O pai dele teria sido preso acusado de matar a esposa. A escritora diz não ter certeza se Pedrinho matou ou não o pai —embora revele que ele teria desmentido o episódio em uma conversa informal.

Ele tinha habilidade para contar uma história. Falava: 'meu moral cresceu um monte. Por que eu iria desmentir isso?' Há várias lendas. E ele aprendeu a usar a lenda que ele mesmo criou em torno do próprio nome."
Ilana Casoy

A escritora descreve um episódio na primeira entrevista feita no sistema prisional. Na saída da sala onde conversaram, Ilana diz ter se sentido intimidada ao cruzar com um grupo de cerca de 50 internos.

Após segurá-la pelo braço, Pedrinho teria encostado Ilana na parede para protegê-la enquanto os detentos passavam. "Aí, ele disse: 'doutora, estou muito chateado com a senhora. Porque a senhora teve medo. Quem anda comigo, não tem medo'."

De acordo com a escritora, Pedrinho começou a construir uma outra identidade quando saiu da prisão: a identidade de Pedro Rodrigues Filho, ex-matador.

"Ele entendeu que matar não era bom. Senão, seria preso de novo. Aí, passou a ser 'Pedro Rodrigues Filho, ex-matador'. Ele estava na construção de uma nova identidade, mas ainda usando a velha".