'Nossa vida parou': obra do metrô faz chão afundar e casas são interditadas
A profissional de marketing Juliana Geraldes, 45, e o chef de cozinha Thiago Geraldes, 42, viram o trabalho de cinco anos ruir nos últimos 45 dias. Proprietário da BBC Burger, o casal iria reinaugurar a hamburgueria no começo de fevereiro em um novo espaço, na zona norte de São Paulo, mas o local foi interditado.
O motivo é uma obra da linha 6-laranja do Metrô de São Paulo. O solo do estabelecimento comercial afundou, e isso é perceptível visualmente.
Outro lado. A Acciona, empresa responsável pelas obras, informou, em nota enviada ao UOL, que "desde o início está em contato com a comunidade e tem prestado todo o apoio. Para amenizar o desconforto, alguns tiveram que ser removidos de seus imóveis e neste caso receberam todo o apoio da empresa" (leia íntegra mais abaixo).
Concessionária espanhola negocia com proprietários dos imóveis. O casal da hamburgueria cobra da Acciona um ressarcimento pelo prejuízo nos dias que o comércio ficou parado, além do conserto do imóvel.
A nossa vida parou, mas as contas continuam. Queremos ser ressarcidos do prejuízo desses dias fechados. Queremos ter a certeza que vamos voltar a trabalhar com segurança e que não haverá mais afundamento de solo.
Thiago Geraldes, proprietário da hamburgueria
Dos oito funcionários, mais da metade já pediu demissão —fato que não ocorreu nem no auge da pandemia.
O incidente aconteceu em 27 de janeiro, mas o solo continua afundando, afirmam os donos da hamburgueria. Toda a estrutura do prédio foi prejudicada com o surgimento de rachaduras, e parte do teto também caiu.
Segundo moradores da Freguesia do Ó, a obra do Metrô é para retirar as águas subterrâneas na avenida Miguel Conejo, que foi construída em cima de rios e por onde passarão os trens.
"Eles falam que estão tirando a água para passar a tuneladora [máquinas utilizadas na escavação de túneis]", disse Thiago. "O que eles falam é que ficou oco e o solo assentou. Quando afundou teve todo o abalo das estruturas do prédio", completou Juliana.
Em nenhum momento, afirma ela, houve qualquer comunicação de que esse abalo na estrutura do prédio poderia acontecer.
"Sabemos que alguns imprevistos acontecem, mas o que não pode acontecer é a empresa lidar dessa forma. A empresa não pode simplesmente saber que tem um comércio fechado, sendo prejudicado há mais de 40 dias por um erro deles, e deixar a gente do jeito que tá", disse.
Construção da linha laranja do metrô é a mesma que gerou cratera na marginal Tietê. A obra na zona norte da capital acontece perto do trecho da marginal em que o asfalto desmoronou em fevereiro de 2022. O incidente do ano passado também ocorreu em uma obra realizada pela Acciona.
Rachaduras e fissuras
Outros imóveis também foram interditados no mesmo quarteirão. A casa do corretor Vladimir Ferrari Bizarria, 53, que fica nos fundos do prédio da hamburgueria, é uma delas.
Atualmente quem mora na residência é a mãe dele, a aposentada Vanda Ferrari Bizarria Guilherme, 78 —que nasceu e cresceu no local.
Segundo Vladimir, o imóvel não tinha nenhuma rachadura antes do incidente em 27 de janeiro. Depois a residência começou a apresentar fissuras na edícula, que fica nos fundos, e rachaduras no muro que faz divisa com a hamburgueria.
"Fomos pegos de surpresa. Ninguém imaginava que isso iria acontecer", lamentou.
O proprietário afirma que são mais de 45 dias sem suporte da Acciona. "Eles vêm, fazem uma vistoria e somem. Não tem uma continuidade."
Eles querem que a gente assine um termo de confidencialidade, mas eu não vou assinar enquanto eu não tiver uma garantia do que vai ser feito no imóvel.
Vladimir, morador da região
O termo de confidencialidade, segundo moradores, impede que eles falem publicamente sobre as negociações com a empresa responsável pela obra.
O corretor afirma estar preocupado com a situação da casa.
"Até que ponto minha mãe corre risco de um desabamento? Ninguém assume a responsabilidade. Não quero nada além da recuperação do meu imóvel no estado em que se encontrava. Quem causou o problema foram eles.
Vladimir, morador da região
O contrato proposto pela concessionária, segundo Vladimir, "é bem complicado". "Só favorece eles", afirmou. "Com esses termos eu não assino. Eu não quero algo paliativo. Arrumar uma rachadura, passar uma pintura bonitinha."
Nota da empresa responsável pela obra
"A Acciona informa que desde o início está em contato com a comunidade e tem prestado todo o apoio. Para amenizar o desconforto, alguns tiveram que ser removidos de seus imóveis e neste caso receberam todo o apoio da empresa. Com relação aos imóveis, tanto comerciais quanto residenciais, as inspeções prévias foram realizadas e os reparos estão em andamento com o objetivo de que regressem o quanto antes para suas casas.
Reforçamos que não há risco de novos danos, pois todos os imóveis estão instrumentados e seguem sendo monitorados continuamente pelas equipes de engenharia do projeto. A empresa está empenhada em solucionar todas as questões, e reforça que segue em contato diário com os moradores e mantém suas equipes e canais de comunicação sempre à disposição de todos."
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