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PCC elaborou plano com clonagem de carro da PF para tentar matar delegado

Do UOL, em Brasília e São Paulo

23/03/2023 13h21

Além do senador Sergio Moro e do promotor Lincoln Gakiya, em outra investigação sobre ataques contra autoridades, o PCC (Primeiro Comando da Capital) esquematizou um plano para matar o delegado da Polícia Federal Elvis Secco, ex-coordenador-geral de repressão às drogas, armas e facções criminosas da PF.

Documentos obtidos com exclusividade pelo UOL apontam que a ordem teria partido de uma liderança do PCC e envolvia o uso de duas caminhonetes clonadas da Polícia Federal.

Entenda a investigação

  • Elvis Secco é uma das autoridades que estão no topo da lista de ameaças de morte do PCC, conforme informaram à reportagem duas fontes com acesso às investigações sobre a facção.
  • Segundo o documento, ao qual o UOL obteve acesso, o plano para matá-lo teria sido encomendado por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, "braço direito" de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado por autoridades como líder máximo da facção.
  • Foi Elvis Secco quem coordenou a prisão de Fuminho em 2020, em Moçambique, na África.
  • Em junho de 2022, um relatório de inteligência mostrou que Colorido, apontado como primeiro líder do PCC na rua até a data da sua prisão, recebeu informações, no presídio federal, que ordenavam diretamente a execução de Secco, por conta de uma prisão feita por ele em abril de 2020.
  • Em entrevista ao UOL, em 2020, Elvis Secco afirmou que estava em curso uma "Lava Jato do PCC". Segundo ele, a sofisticação da lavagem de dinheiro e o padrão de vida de seus líderes são comparáveis aos envolvidos nos esquemas de corrupção de empreiteiras.
  • Fuminho e Marcola estão presos na penitenciária federal de Brasília. Marcola foi transferido recentemente pelo governo federal.
  • Ontem, Polícia Federal prendeu integrantes do PCC durante a primeira operação de uma investigação que mirou ataques da facção contra o senador Sergio Moro (União Brasil) e o promotor do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya.

Como autoridades descobriram o plano

  • A reportagem teve acesso a um segundo relatório de inteligência, de 2021, onde constam os nomes de policiais federais e autoridades do Ministério Público de SP e da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo que seriam alvos da facção.
  • Os nomes foram encontrados em duas anotações na penitenciária de Presidente Venceslau 2, onde se encontra o segundo escalão do PCC, na cela de Carlos Alberto Damasio, conhecido como "Fumaça", e Ricardo Bernel Antoniazzi, conhecido como "Ricardinho".
  • Os manuscritos mostravam planos de mapeamentos, localizações e seus gastos para matar 14 pessoas, sendo 11 delegados da PF.
  • Elvis Secco foi procurado pela reportagem, mas não quis comentar a história.

Quem é Fuminho?

"Braço direito" de Marcola, Fuminho estava foragido da Justiça brasileira havia 21 anos, até ser preso novamente em 2020, em Moçambique, na África.

No país, ele já administrava parte do tráfico local de drogas e de armas, em associação com organizações criminosas locais, e planejava controlar o crime no sul da África, nos mesmos moldes que controlou na América do Sul nos últimos dez anos, segundo investigações.

13.abr.2020 - Fuminho ao ser detido em Moçambique - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
13.abr.2020 - Fuminho ao ser detido em Moçambique
Imagem: Arquivo pessoal

Fuminho fugiu junto com Marcola da prisão, em janeiro de 1999. O líder máximo da facção foi recapturado meses depois. Desde então, Fuminho se tornou o principal sócio de Marcola, alçado ao posto de um dos principais traficantes da América do Sul.

Apesar de ser tido como um dos líderes do PCC, investigadores e pesquisadores afirmam que ele não integra a facção. Ele era um dos principais sócios do PCC e prestava serviços como importação de drogas e armas de países vizinhos para o Brasil, além de atender pedidos diretamente de Marcola.

Segundo investigações, ele era o encarregado de encabeçar um plano para resgatar Marcola e também foi a cabeça pensante do assassinato de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, até então "número 2" do PCC, a mando de Marcola. Gegê do Mangue foi morto por não ter se empenhado em resgatar Marcola e porque estaria desviando dinheiro da facção.