PCC: Gegê prometeu 'salvar' Marcola, não cumpriu e foi morto, diz relatório
Resumo da notícia
- Gegê do Mangue morreu por não cumprir promessa e por desviar dinheiro do PCC
- A informação é de um relatório que afirma que amigo de infância de Marcola articulou o assassinato
- Esse amigo de Marcola treinou criminosos na Bolívia para tentar resgatá-lo da prisão
- O plano não foi concretizado, e Marcola segue preso
Rogério Jeremias de Simone, 41, o Gegê do Mangue, foi enterrado como 'traidor' em fevereiro do ano passado após ter sido morto no Ceará. Considerado o número "um" do PCC (Primeiro Comando da Capital) em liberdade, ele foi penalizado pela própria facção por não cumprir o que prometeu e desviar dinheiro do grupo.
As informações são de um relatório sigiloso do Núcleo Regional de Inteligência e Segurança Penitenciária da Croeste (Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado de São Paulo), obtido com exclusividade pelo UOL.
Segundo o documento, em 1º de fevereiro de 2017, ao deixar a prisão, Gegê do Mangue prometeu resgatar Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, que estava detido na penitenciária dois de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
"Gegê passou a ser a principal liderança da facção em liberdade, assumindo o controle de todas as atividades criminosas do grupo. Teria prometido, no momento de sua liberdade, que iria resgatar Marcola, com quem possuía uma imensa dívida de gratidão. Teria dito que Marcola não precisava fazer nada relacionado ao plano, pois toda a execução seria feita por ele. Porém, não o fez, e aproveitando-se do fato de ser a principal liderança em liberdade, voltou todos os seus esforços para o tráfico de drogas em benefício próprio, porém, utilizando a estrutura da facção", aponta o relatório.
Ainda de acordo com o documento, "após ficar um ano em liberdade e nada fazer em prol da facção, nem tampouco organizar a ação de resgate, Gegê foi assassinado a mando de Gilberto Aparecido dos Santos, vulgo Fuminho, um dos maiores traficantes de drogas brasileiro e amigo de infância de Marcola. Fuminho teria percebido que Gegê não tinha interesse algum na liberdade de Marcola, pois, uma vez resgatado, Gegê passaria a ser um coadjuvante na facção e Marcola descobriria as diversas irregularidades praticadas por ele", indica a investigação.
Com um único tiro no rosto, Gegê do Mangue foi assassinado ao lado de seu comparsa Fabiano Alves de Souza, o Paca, 38, em 15 de fevereiro de 2018. O duplo homicídio gerou uma guerra interna na maior facção criminosa do país, cujos efeitos se fazem sentir até hoje. Responsável por executar o plano organizado por Fuminho, o traficante Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, foi morto a tiros uma semana depois do crime, a tiros de metralhadora, em São Paulo.
Desde que ficou em liberdade, a rotina de Gegê incluía estadias no Paraguai (grande produtor de maconha), Bolívia (maior produtor de folha de coca, base para a produção de cocaína) e Ceará, onde "planejava ampliar seus negócios ilícitos", de acordo com o o MP-CE (Ministério Público do Ceará). Ele e Paca moravam em uma mansão em Aquiraz (CE) avaliada em R$ 2 milhões.
Paralela ao relatório da investigação da Croeste, apuração do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) aponta que Gegê e Paca foram mortos a mando da cúpula do PCC porque se suspeitava que eles estariam roubando a própria facção, em remessas de cocaína que sairiam do porto de Santos (SP) para outros continentes. A informação é de Lincoln Gakiya, promotor de Justiça considerado como o principal investigador do país contra a facção.
Fuminho assumiu plano de resgate de Marcola
A promessa que Gegê do Mangue fez a Marcola precisava ser cumprida por alguém. Fuminho, que, na verdade, era chamado de "Fininho", por ter o porte físico magricelo e ter tido o nome interpretado erroneamente em cartas apreendidas, era amigo de infância de Marcola, segundo a investigação. Apesar não ser integrante do PCC, é considerado aliado da facção e sócio de Marcola.
"Fuminho organizou várias 'equipes' para virem realizar o resgate, que teria várias frentes de ação. Uma delas fecharia a rodovia Raposo Tavares, nos dois sentidos. Outra, atacaria o Batalhão da Polícia Militar de Presidente Venceslau. Uma outra frente impediria que o helicóptero Águia, que fica no aeroporto de Presidente Prudente, levantasse voo", aponta o relatório.
De acordo com o documento, parte desses criminosos, que efetivamente iriam participar da ação de resgate, estão radicados na Bolívia, onde Fuminho "possui grande influência, devido ao dinheiro conseguido com o tráfico de drogas". Não são apenas brasileiros. Há criminosos de várias nacionalidades, inclusive africanos, com experiência em armamento pesado.
"Todos esses criminosos passaram por vários treinamentos em uma das fazendas de Fuminho em solo boliviano. No dia da ação, se juntariam aos grupos que estão aqui no Brasil, que são os mesmos que realizaram os roubos nas empresas de transporte de valores", relata a inteligência da Croeste.
Na ação, os criminosos utilizariam até helicóptero e aviões. Se aproximariam da Unidade utilizando fuzis calibre .50 e lança foguetes. Com explosivos, iriam destruir a muralha. Depois, se dirigiriam às celas para retirar 15 integrantes da cúpula da organização criminosa:
- Marco Willians Herbas Camacho, matrícula 45.465, vulgo Marcola
- Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, matrícula 152.503, vulgo Marcolinha (irmão de Marcola)
- Márcio Luciano Neves Soares, matrícula 228.760, vulgo Pezão
- Pedro Luiz da Silva Moraes, matrícula 85.110, vulgo Chacal
- Reinaldo Teixeira dos Santos, matrícula 212.361, vulgo Funchal
- Alessandro Garcia de Jesus Rosa, matrícula 211.354, vulgo Sandrinho
- Alexandre Cardoso da Silva, matrícula 117.193, vulgo Bradok
- Antonio Jose Müller Junior, matrícula 111.379, vulgo Granada
- Daniel Vinicius Canonico, matrícula 117.183, vulgo Cego
- Fernando Gonçalves dos Santos, matrícula 171.579, vulgo Azul
- Julio Cesar Guedes de Moraes, matrícula 85.066, vulgo Carambola
- Lourinaldo Gomes Flor, matrícula 38.824, vulgo Lori
- Lucival de Jesus Feitosa, matrícula 183.417, vulgo Val do Bristol
- Luis Eduardo Marcondes Machado de Barros, matrícula 153.586, vulgo Du da Bela Vista
- Patric Velinton Salomão, matrícula 190.711, vulgo Forjado
Os 15 e outros sete integrantes, todos da cúpula e do segundo escalão na hierarquia do PCC, foram transferidos do estado de São Paulo para o sistema penitenciário federal por determinação judicial. Os governos estadual e federal não tiveram influência direta na ação. Todos eles estão em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado) até, pelo menos, fevereiro do ano que vem.
Atualmente, a cúpula da facção paulista está subdividida da seguinte maneira em três presídios federais distintos:
BRASÍLIA:
- Marco Willians Herbas Camacho (Marcola)
- Alejandro Juvenal Herbas Camacho Junior (Marcolinha)
- Cláudio Barbará da Silva (Barbará)
- Pedro Luiz da Silva Moraes (Chacal)
- Antonio José Muller Júnior (Granada)
- Reinaldo Teixeira dos Santos (Funchal)
- Patric Velinton Salomão (Forjado)
- Abel Pacheco de Andrade (Vida Loka)
- Roberto Soriano (Tiriça)
- Wanderson Nilton Paula Lima (Andinho)
PORTO VELHO:
- Lourinaldo Gomes Flor (Louro)
- Alessandro Garcia de Jesus Rosa (Pulft)
- Fernando Gonçalves dos Santos (Colorido)
- Lucival de Jesus Feitosa (Val do Bristol)
- Almir Rodrigues Ferreira (Nenê de Siminone)
- Reginaldo do Nascimento (Jatobá)
- Rogério Araújo Taschini (Rogerinho)
- Célio Marcelo da Silva (Bin Laden)
MOSSORÓ (RN):
- Márcio Luciano Neves Soares (Pezão)
- Alexandre Cardozo da Silva (Bradok)
- Daniel Vinícius Canônico (Cego)
- Julio Cesar Guedes de Moraes (Julinho Carambola)
- Luis Eduardo Marcondes Machado de Barros (Du da Bela Vista)
- Cristiano Dias Gangi (Crisão)
- José de Arimatéia Pereira Faria de Carvalho (Pequeno)
Ouça o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Este e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
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