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PCC usou câmeras e PF, drones: o que se sabe sobre os planos contra Moro

O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) era um dos alvos da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) - Pedro França/Agência Senado
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) era um dos alvos da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) Imagem: Pedro França/Agência Senado

Colaboração para o UOL

23/03/2023 11h32

A Polícia Federal cumpriu ações com o objetivo de desarticular um plano do PCC (Primeiro Comando da Capital) que pretendia realizar ataques contra autoridades, como o atual senador Sergio Moro (União Brasil) e o promotor Lincoln Gakiya.

O UOL apurou que o PCC investiu US$ 550 mil (R$ 2,9 milhões) no plano de um atentado contra o Moro. O dinheiro foi usado para montar uma estrutura na região metropolitana de Curitiba —que envolvia chácaras, veículos blindados e armas.

O que aconteceu:

  • O ex-juiz e senador Sergio Moro era um dos alvos da facção criminosa PCC, que pretendia realizar ataques contra servidores públicos e autoridades.
  • Moro foi o responsável por coordenar, em 2019, a transferência de Marcola, líder do PCC, e mais 21 suspeitos de integrar o grupo para presídios federais, quando ainda era ministro.
  • Além de Moro, o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, também era um dos alvos do grupo. Ele foi responsável por transferir chefes da facção, como Marcola, para presídios federais, e vive sob escolta e vigilância desde dezembro de 2018.
  • Extorsão mediante sequestro também era uma das ações planejadas pelo grupo criminoso, segundo a PF.
  • A operação Sequaz encontrou um esconderijo do PCC, em São José dos Pinhais (PR).
  • Ao menos nove pessoas já foram presas, todas no estado de São Paulo; alvos estão também em Rondônia, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul.
  • Um dos suspeitos presos foi solto em abril de 2020 pelo então ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello, hoje aposentado. Valter Lima Nascimento, conhecido como Guinho havia sido detido após ser condenado em 2016 a 20 anos e 5 meses de prisão por tráfico de drogas.
  • A PF também apreendeu cofre com dinheiro, carros de luxo, uma moto, armas, relógios e celulares na ação.
  • Temendo que outros políticos possam estar na mira dos criminosos, o presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, deputado federal Sanderson (PL), disse ao UOL que irá pedir à Polícia Federal informações sobre a operação.
  • Ataque às autoridades era plano B. A ideia inicial era retirar líder do PCC da prisão em agosto de 2022.
  • Segundo o UOL apurou, Marcola gastou R$ 60 milhões nos planos para tentar ser resgatado da cadeia. Mas o plano foi frustrado pela PF.

PF usou drones; PCC acessava câmeras

A Polícia Federal vigiou os investigados em uma casa alugada pelo grupo para servir como base do crime. A residência localizada no bairro Jardim Social, em Curitiba, tem duas edificações.

Os agentes da PF usaram drones para tentar flagrar os investigados dentro da residência. Verificaram, em dias alternados, luzes acesas e sacolas de lixo. Também observaram que existiam roupas masculinas no varal da casa dos fundos e toalhas estendidas na casa da frente.

A PF apontou que o PCC tinha acesso ao Detecta, um sistema de monitoramento implantado pelo governo de São Paulo em 2014.

Membros do PCC descobriam, por meio do Detecta, até o trajeto percorrido por veículos de interesse da organização criminosa.

O sistema conta com mais de 3.000 câmeras, instaladas em quase 1.500 pontos do estado de São Paulo. Além do monitoramento por imagens, o programa reúne um banco de dados das polícias Civil e Militar e do Detran.

Moro sabia de plano para matá-lo

O senador Rogério Marinho (PL-RN) revelou que Moro sabia há mais de um mês do plano para matá-lo. Ele adiantou ainda que o ex-juiz deve propor ao Senado medidas mais enérgicas para o combate ao crime organizado.

Ele já tinha essa informação [do plano para matá-lo] havia mais de um mês e que isso estava sendo monitorado pela Polícia Federal. Houve um desfecho para se prender os criminosos que estavam engendrando este plano. A polícia estava fornecendo segurança a Moro e sua família.
Rogério Marinho, senador (PL-RN)

Alívio de Rosângela Moro

A deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP) disse estar aliviada, como esposa e mãe, após a ação da PF. Ela afirmou que, como deputada, vai "trabalhar em leis ainda mais duras para combate ao crime organizado".

No Twitter, ela escreveu que retaliações não podem persistir. "Hoje somos nós, amanhã podem ser vocês ou seus filhos".

Deltan lembra fala de Lula

O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos) afirmou que "criminosos querem vingança" após a PF descobrir o plano do PCC.

  • Dallagnol se referiu ao comentário de Lula contra Moro. "Querem 'ferrar' Sergio Moro, cada um com suas armas", escreveu o deputado no Twitter.
  • "Chocado, indignado e motivado a lutar ainda mais contra o crime", disse Dallagnol.
  • Nessa semana, em entrevista à TV 247, Lula chorou ao lembrar do período preso e disse que quis se vingar de Moro.

Há um risco institucional que precisa chamar atenção de todos nós: quando há um atentado ou tentativa de homicídio contra um agente da lei por ter feito seu papel contra o crime organizado, é um atentado contra todos os agentes da lei. Isso deixa a sociedade vulnerável porque ele fez uma função de repressão contra o crime organizado para que ninguém mais ouse desafiá-los ou enfrentá-los no futuro.
Deltan Dallagnol ao UOL News

Durante sua participação também no UOL News, Rosângela Moro, parlamentar e esposa de Sergio Moro, afirmou que o presidente alimentou o discurso de ódio com a frase.

Lula voltou a falar do caso e sugeriu que poderia haver armação por parte de Moro. O senador nega a acusação.

Dino diz que é leviano ligar frase de Lula a plano

Ao contrário de Dallagnol, o ministro da Justiça, Flávio Dino, chamou de "narrativas completamente falsas" a vinculação nas redes sociais da declaração dada por Lula à operação contra o plano do PCC.

  • Dino disse que foi informado sobre a existência do plano há cerca de 45 dias pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O relato foi passado para a PF para investigação.
  • "Não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem, literalmente, e vincular a uma investigação que tem meses", disse o ministro.

Outros ministros e parlamentares também rebateram a associação.

  • O ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria de Comunicação Social), afirmou que a tentativa de vínculo é "estratégia perversa" que "serve à disputa política", em entrevista à imprensa no Planalto.
  • O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), classificou a associação de "viagem lunática", em entrevista ao UOL News.

Gleisi Hoffmann: 'aula de civilidade e democracia'

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também comentou a ação da Polícia Federal.

  • Gleisi usou as redes sociais para dizer que o governo Lula deu uma "aula de civilidade e democracia" a Moro, a quem se referiu como um "juiz parcial" que "não se importou com o ódio que alimentou" durante os trabalhos da Lava Jato.
  • Ela também comemorou o fato de a polícia agir de "forma independente sem proteger ninguém e apurando crimes contra quem for".

Bolsonaro compara PCC e Moro a facada

O ex-presidente Jair Bolsonaro mentiu ao comparar o plano do PCC contra Moro à facada que sofreu em 2018 e ao assassinato de Celso Daniel, em 2002.

  • "Tudo não pode ser só coincidência". "Em 2002 Celso Daniel, em 2018 Jair Bolsonaro e agora Sérgio Moro. Tudo não pode ser só coincidência. O Poder absoluto a qualquer preço sempre foi o objetivo da esquerda", escreveu Bolsonaro no Twitter.
  • Ex-presidente citou CPMI. "Nossa solidariedade a Sérgio Moro, Lincoln Gakiya e familiares. A CPMI assombra os inimigos da democracia", continuou, sem especificar a qual CPMI se referia.
  • Ao contrário do que sugeriu Bolsonaro, a facada que levou durante evento de campanha não foi um ataque político, segundo três investigações independentes da Polícia Federal.
  • Evocado com frequência por apoiadores de Bolsonaro, o caso Celso Daniel também não foi político. Então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel foi morto em 2002, e seis pessoas foram condenadas e cumprem pena. Três investigações concluíram que foi um crime comum, e que nenhum dos envolvidos tinha relação com o PT.

Pronunciamento de Moro

  • Segundo o senador, em entrevista à GloboNews, quando ele foi informado, os indícios já apontavam que a família dele também estava em risco. "Era uma investigação que ainda estaria para iniciar."
  • Para Moro, planejamento era para mandar recado a ele. "O objetivo era uma retaliação para dizer 'não mexam conosco', que haveria um preço a pagar."
  • Combate ao crime motivou ação dos criminosos, de acordo com o senador. "Isso foi assustador para mim e para minha família. É um preço infelizmente alto a se pagar pelo combate que fizemos contra o crime organizado, não só como juiz, mas como ministro da Justiça."

Ou nós os enfrentamos, ou quem vai pagar são não só as autoridades, mas também a sociedade. Tem que fazer com políticas rigorosas, inteligentes, não podemos nos render.
Sergio Moro em fala no Plenário

Novo projeto de lei

Moro protocolou um projeto de lei que busca punir quem planejar atentados contra agentes da lei envolvidos no combate ao crime organizado.

  • Entre outras condutas, passa a ser crime: "Solicitar, mediante promessa ou concessão de vantagem de qualquer natureza, ou ordenar a alguém a prática de violência ou de grave ameaça contra ocupante de cargo público, advogado, parte, testemunha, intérprete ou perito particular", diz a peça.
  • A medida prevê prisão de quatro a 12 anos e recolhimento em presídio federal de segurança máxima. Ainda entre as propostas, está um item que estende as medidas de proteção previstas para policiais, juízes e promotores, em atividade ou aposentados, ameaçados pelo crime organizado.

Confira também o que falaram os colunistas do UOL:

Josias de Souza

É deletéria a evidência de que o crime está ficando ousado no Brasil. A informação de que um grupo se articulou para cometer crimes simultâneos envolvendo autoridades é impressionante. Mas é alvissareiro ver que a polícia conseguiu desarmar. Mostra que há inteligência e ela está funcionando.
Josias de Souza, colunista do UOL

Reinaldo Azevedo

Associar essa operação àquilo que Lula disse é uma barbaridade, não se sustenta. A exploração política será feita e indica que o Palácio do Planalto precisa tomar mais cuidado com entrevistas.
Reinaldo Azevedo, colunista do UOL