Confundida com a KKK por capuz, tradição goiana é cercada de mistério
Em um primeiro olhar, o símbolo da bateria da Atlética de Medicina da PUC-Goiás se parece com um membro da Ku Klux Klan, uma organização terrorista e racista que prega a supremacia branca e existe até hoje nos Estados Unidos. Mas, não se confunda, o capuz em forma de cone, neste caso, representa os farricocos, personagens da Procissão do Fogaréu, que ocorre anualmente na cidade de Goiás (GO).
O que é a Procissão do Fogaréu?
Toda madrugada de quinta-feira santa, 40 homens se vestem com túnicas coloridas e um capuz cônico e pontudo. Eles levam tochas na mão. São os farricocos, homens que representam os soldados romanos enviados para prender Jesus.
- A partir da meia-noite, eles seguem descalços pelas ruas de pedra da cidade histórica, que já foi capital do Estado, acompanhados por uma multidão.
- A procissão segue acompanhada pela música de uma fanfarra que toca tambores e dita o ritmo da caminhada, ora lenta, ora rápida.
- A procissão termina na Igreja São Francisco de Paula, em uma cerimônia que representa a prisão de Cristo no Monte das Oliveiras.
- Após a prisão de Cristo, que é quando um estandarte de linho com a imagem de Jesus é carregado por um farricoco de branco, o bispo da Diocese de Goiás, da Igreja Católica, faz uma homilia em que relembra os sofrimentos de Jesus durante os 40 dias da quaresma.
- Em seguida, a procissão volta ao ponto de partida.
A Procissão do Fogaréu começou a ser representada em Goiás em 1745, com o padre espanhol Perestelo de Vasconcelos. Desde 1965, a procissão é organizada pela Organização Vilaboense de Artes e Tradições.
Farricocos são homens "secretos"
Tradicionalmente, os farricocos são homens que vão à procissão para se penitenciar. Hoje, os 40 "soldados" seguem sendo homens. As mulheres participam apenas auxiliando a procissão, como, por exemplo, cuidando das roupas usadas por eles.
O anonimato dos farricocos também faz parte da tradição. Historicamente, quem se veste com as roupas dos soldados não revela a identidade.
A roupa, apesar de semelhante à da Ku Klux Klan, remete à dos algozes de tempos medievais. No caso dos farricocos goianos, as roupas são sempre coloridas. Nos pés, os participantes não usam nada e devem caminhar descalços pelas ruas de pedra de Goiás.
Evento turístico
Além do caráter religioso e cultural, a Procissão do Fogaréu atrai turistas para Goiás. Antes da pandemia, a cidade chegava a receber até 60 mil visitantes para a festividade que, desde 2018, faz parte do Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de Goiás.
Mudança após polêmicas
Devido à confusão entre personagens, a bateria da Atlética de Medicina da PUC-Goiás, a Bateria Caótica, que por várias vezes já teve de se explicar nas redes sociais, deve, em breve, mudar seu logotipo.
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