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'É tipo Carinha de Anjo?' Freiras no Insta revelam 'mistérios' do convento

Camila Corsini

Do UOL, em São Paulo

03/04/2023 04h00

Poucos sabem como é dedicar-se integralmente à fé. Quando a vida religiosa diz respeito às mulheres então, é ainda mais cercada de mistérios e mitos.

Freiras e conventos faziam sucesso em novelas infantis dos anos 2000 — mas a ficção reflete muito pouco da realidade vivida por mulheres que se dedicam à fé católica.

Para trazer informações sobre a vida religiosa, a madre Elizabete, de 26 anos, decidiu filmar a própria rotina e a de suas irmãs de fé.

Em vídeos curtos no Instagram, ela tira dúvidas dos seguidores e publica conteúdos derrubando mitos e trazendo curiosidades sobre como é ser freira nos dias de hoje.

Elizabete lidera uma comunidade de irmãs no Instituto Filhas da Misericórdia, de Fortaleza. Divide a casa com outras quatro irmãs, que dormem no local. Com a incursão nas redes sociais, recebe perguntas inusitadas.

"Já nos perguntaram se a madre é brava igual na [novela] Carinha de Anjo", conta ela, aos risos.

Os vídeos engraçados são a nossa vida, momentos em que a gente consegue registrar com espontaneidade. Não tinha muito tempo para fazer postagens elaboradas, então comecei a filmar vídeos curtos. Deu certo e teve boa aceitação
Madre Elizabete

A ideia inicial dos vídeos era apresentar o vocacional religioso para outras jovens da cidade. Neste curso, chamado também de tempo de discernimento, as mulheres são acompanhadas pelas irmãs e recebem uma série de formações sobre a vida de fé.

Em determinado momento, elas se juntam na casa e passam cerca de um mês por lá. "Ela decide se vai ficar ou não, e a congregação decide se a aceita ou não", explica.

Deus é quem chama cada pessoa. Tem quem ache bonito, mas não sente o chamado para essa vivência. Mas com certeza desperta no coração de muitas meninas o desejo de se entregar à vida religiosa.

Mitos e verdades

Quando abrem a caixinha de perguntas na rede social, tem de tudo. "Pessoas mais leigas no assunto questionam até se a gente pode se casar ou não", conta Elizabete.

Pelas leis da Igreja, o homem e a mulher que escolhem seguir a vida religiosa devem fazer um voto de celibato assim que entram para a ordem religiosa. Ou seja: não, elas não podem se casar.

E pode entrar no convento mesmo tendo um namorado? "Você pode, mas o namorado tem de ser Jesus", explica uma das irmãs em um dos vídeos, que termina em música de meme e emoji de óculos.

Em outro vídeo divulgado pela congregação, alguém pergunta: "é verdade que freira é proibida de ir ao cinema?"

Como resposta, a madre e uma outra irmã colocam os óculos 3D e mostram que estão prontas para assistir a um filme no cinema, como qualquer outra pessoa.

Religiosas - Reprodução - Reprodução
Religiosas fazem vídeos bem humorados, mostrando rotina
Imagem: Reprodução

Maquiagem?

Em outra postagem, elas explicam que nem todas as freiras usam maquiagem e brinco como na novela do SBT.

"Nós, Filhas da Misericórdia, não usamos maquiagem e isso vale para a maioria das congregações que conhecemos", escreveram, destacando que existem exceções.

Se pode mascar chiclete, visitar a família, ir à praia... Todos esses questionamentos já passaram por elas e se transformaram em conteúdo nas redes sociais.

A vida no convento

Apesar de jovem, Elizabete já está no convento há nove anos. "Entrei com 17 e hoje tenho 26. Passei por todo esse processo vocacional e entrei mesmo há nove anos. Mas, no instituto, estou há uns 12 anos", conta.

Segundo a madre, a vida lá dentro não tem muito segredo. Quase todo o tempo delas é composto por orações — mas isso não as impede de trabalhar, estudar e cumprir outras obrigações do dia a dia.

A vida religiosa tem seus horários, geralmente divididos entre oração, estudo, trabalhos da casa e apostolado. Temos entre três e quatro orações da liturgia das horas, uma hora de oração pessoal, do terço da misericórdia e do terço mariano. E a adoração é feita cada dia por uma irmã

"Dos trabalhos da casa, a gente faz tudo. Lava a casa, varre, passa pano, lava roupa, faz comida. Tudo isso é a gente que faz", completa.

"As irmãs que estão no processo formativo, que ainda não foram consagradas, têm formação de segunda a sexta. Temos outros trabalhos e responsabilidades pessoais, além de momentos de evangelização, como grupos de oração e visitas."

O local é administrado internamente, ou seja, sem a ajuda financeira da igreja, exceto quando recebe doações.

Por isso, a madre espera que, com o crescimento da página, seja possível trocar a casa em que estão agora por um convento — com direito a capela, oratório e um maior espaço de acolhida para outras pessoas.