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Sargento morto por capitão enviou áudio para colega reclamando de exaustão

Capitão Laroca (à esquerda) matou o sargento Rulian (à direita) dentro do batalhão da PM - Reprodução/Redes sociais
Capitão Laroca (à esquerda) matou o sargento Rulian (à direita) dentro do batalhão da PM Imagem: Reprodução/Redes sociais

Do UOL, em São Paulo

06/04/2023 19h03

Pouco antes de ser morto no alojamento da PM no Ipiranga, em São Paulo, o sargento Rulian Ricardo Adrião da Silva, 40, teria enviado um áudio para um colega de trabalho afirmando que estava trabalhando sem folgas e que estava no seu limite.

O que aconteceu?

O capitão Francisco Carlos Laroca Junior é suspeito de matar o sargento Rulian Ricardo Adrião da Silva a tiros após uma discussão na base da 4ª Companhia do 46º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano.

Laroca Junior disse que foi avisado de que o sargento Silva teria ofendido e gritado com a soldada Daiany de Godoy Silva, 30. Essa versão foi narrada por Laroca em registro da ocorrência da PM, a qual o UOL teve acesso na íntegra.

Segundo a versão do capitão, Silva teria reclamado em "alto tom" e com dedo apontado para o rosto da colega de trabalho, por ter sido escalado para a Operação Paz e Proteção do batalhão. Ele teria então ido ao alojamento onde estava o sargento com um motorista, o cabo Rizzo.

O capitão afirma que perguntou se o sargento estava bem e ele respondeu "de maneira grosseira e desrespeitosa". Laroca disse que pediu para ele confirmar se havia discutido com Daiany.

Naquele momento, segundo a versão do capitão, o sargento colocou a mão direita na lateral direita do corpo e disse ao capitão "vai tomar no seu **, que eu já estou de saco cheio dessa *****" e teria apontado a arma em sua direção efetuando dois disparos que não deram certo.

O que diz o áudio

Em um áudio atribuído a Rulian, o sargento afirma que precisa ir "embora desse lugar quanto antes", se referindo ao 46º Batalhão da PM. "Eu trabalhei essa noite, ia cobrir a folga do outro sargento que tá há 14 dias sem tirar folga, e me mandaram uma mensagem que vai ter uma operação amanhã."

PMs entrevistados pela reportagem dizem há muitas pessoas do interior de SP no batalhão onde o sargento foi morto. Policiais que não são da capital costumam trocar folgas para visitar familiares nos fins de semana. Mas um oficial precisa autorizar isso.

Praças da PM paulista afirmam que escutam expressões ofensivas quando não são autorizados a trocar folgas: "Vai chorar no pau da bandeira" (o que significa que o oficial não quer ouvir reclamação) e "corre a ficha amarela" (termo para pedir baixa e, assim, sair da corporação).

Eu vou trabalhar à noite, em vez de trabalhar de dia. Vou trabalhar amanhã à noite e ele vai folgar no sábado. Então, eu não vou embora de novo. Pelo amor de deus, pensa em um lugar que tem uma má administração, uma má gerência. A gente lida com vidas, temos que gerir vidas. Eu tô no meu limite."
Sargento Rulian Ricardo Adrião da Silva

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública informou que todas as circunstâncias relativas ao caso, incluindo os áudios citados, são alvo de investigação pela Corregedoria da Polícia Militar.

O que diz a militar Daiany?

A militar Daianay afirmou, em depoimento, que o sargento Silva disse que a mudança na folga era "uma falta de respeito" ao ser informado sobre a escala.

Depois, segundo ela, Rulian foi até a administração do batalhão avisar que havia acertado a folga com um colega e que não havia ido para casa.

Daiany afirma que o sargento disse: "Estou trabalhando doente, estou ajudando. O correto é quem está afastado porque com esses vocês não mexem na escala". Ela confirmou que ele apontou o dedo para o seu rosto.

Histórico do capitão

O UOL apurou que o capitão Laroca trabalhou no Corpo de Bombeiros ao lado do secretário de segurança, Guilherme Derrite.
Laroca atuou nos Bombeiros após ser afastado pela Rota, a tropa de elite da Polícia Militar paulista, quando o capitão foi acusado de sequestrar um empresário.
Laroca é um PMs absolvidos em 2011 por simular um tiroteio com dois homens durante os Crimes de Maio.

Ouvidoria demonstra preocupação

Em nota, a Ouvidoria das Polícias afirmou estar preocupada com os disparos dentro do batalhão da PM e que um "caso dessa gravidade impacta o efetivo policial local, dentre praças e oficiais".

A Ouvidoria disse ainda que "as medidas necessárias foram tomadas pelo Comando, de modo imediato à ocorrência, desde os primeiros socorros à preservação do local dos fatos, com encaminhamento à Corregedoria da Polícia Militar, para a condução das investigações."

Situações dessa natureza chamam a atenção do órgão, para a necessidade de avaliação e reformulação permanente das políticas internas, buscando, além da atenção direta ao caso, minimizar riscos de novos casos similares."
Ouvidoria das polícias, em nota

O que diz a PM?

A corporação confirmou que o disparo foi efetuado por outro policial.

"Prontamente socorrido, infelizmente o militar atingido não resistiu ao ferimento. Todas as providências de Polícia Judiciária Militar estão em andamento neste momento e a Corregedoria da Instituição acompanha as apurações"
Nota da PM