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Passageiros tiram foto e rastreiam mala após caso de presas na Alemanha

Natasha Nascimento vai passar seis meses em Londres - Camila Corsini
Natasha Nascimento vai passar seis meses em Londres Imagem: Camila Corsini

Camila Corsini

Do UOL, em São Paulo

12/04/2023 09h13Atualizada em 12/04/2023 21h58

O caso das brasileiras Jeanne Paolini e Kátyna Baía, presas na Alemanha após terem tido as etiquetas das bagagens trocadas no aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, acendeu o alerta de quem embarcava ontem no aeroporto para o exterior.

O clima próximo à área de embarque era tranquilo ao longo da tarde. Porém, foi possível observar os passageiros comentando sobre o caso entre si — e planejando quais medidas de segurança poderiam tomar a mais para garantir que as bagagens certas chegariam ao destino.

Investigações da Polícia Federal mostram como acontece o envio de malas com drogas ao exterior por meio de troca de malas em aeroportos.

O método consiste na retirada das etiquetas de bagagens aleatórias despachadas regularmente pelos passageiros.

Depois disso, as etiquetas são colocadas em outras malas, estas contendo drogas ilícitas. Já com a identificação trocada, as bagagens são desviadas da fiscalização automática.

'Vou fotografar minha mala'

A estudante Natasha Nascimento, 23, esperava para embarcar rumo à Inglaterra no final da noite. Ela pretende passar seis meses no país estudando.

"Várias pessoas me mandaram o vídeo [das etiquetas sendo trocadas], então vou fotografar e filmar minha mala, inclusive aberta, na hora de despachar", afirmou a jovem.

Caso aconteça alguma coisa comigo, tenho comprovação de que aquela mala não é a minha.

Apesar de não viajar com muita frequência para fora do Brasil, ela já adotava algumas estratégias temendo extravio de mala. "Tudo o que tem na mala despachada tem também na minha bagagem de mão, em quantidades menores", completou.

'Quero ter evidências'

Esse também é um medo que ronda o consultor de tecnologia Gledson Campos, 37, que esperava um voo para os Estados Unidos. Ele vai passar quatro semanas no país.

"Costumo sempre despachar [as malas], mas tenho muito medo de extravio. Desta vez, mais gente falou para eu tomar cuidado", falou.

Gledson Campos vai passar quatro semanas nos EUA trabalhando - Camila Corsini - Camila Corsini
Gledson Campos vai passar quatro semanas nos EUA trabalhando
Imagem: Camila Corsini

No ano passado, voltando do Reino Unido, ele levou até uma bronca dos funcionários de segurança do aeroporto por deixar as malas sozinhas.

"Estava para perder o voo de volta e larguei minhas malas. Eles vieram atrás de mim e me alertaram que é perigoso fazer isso. Voltei, grudei na bagagem, mas acabei perdendo o voo. Depois percebi o risco que corri no desespero da situação", lembrou Gledson.

Desta vez, o caso das brasileiras que estão na Alemanha o deixou ainda mais preocupado.

Vim falando disso no carro: vou tirar foto, filmar, postar nas minhas redes sociais. Se depois eu vir minhas etiquetas em malas diferentes, tenho evidências. É o que a gente pode fazer.

'Medo é constante'

A família da agente de saúde Cláudia Silva, 37, costuma viajar despachando mala pelo menos uma vez por ano. Ela mora na Austrália e, agora, estava no Brasil a passeio.

"Hoje em dia usamos AirTag (um dispositivo de rastreamento que funciona atrelado ao celular), fazemos proteção da mala com plásticos e colocamos cadeado. O medo é constante", contou.

Ela relata que, ao saber do caso da prisão, nem cogitou abrir mão de alguma dessas medidas - mesmo observando um aumento do preço do embalo das bagagens.

Cláudia Silva viajou de volta para a Austrália, onde mora, com a família - Camila Corsini - Camila Corsini
Cláudia Silva viajou de volta para a Austrália, onde mora, com a família
Imagem: Camila Corsini

"Sempre fazemos isso e vimos que o preço aumentou da última vez para cá. Mas, por segurança, ficamos com a consciência mais tranquila [tomando essas medidas], completou.

Funcionários de uma dessas empresas de proteção de bagagem, que preferiram não se identificar, afirmaram que notaram um aumento na procura pela embalagem e cadeados no final de semana e ao longo da segunda-feira.

O serviço é oferecido para bagagens que serão despachadas por valores a partir de R$ 109 por mala.

Em nota, a GRU Airport, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, informou que o manuseio das bagagens, desde o momento do check-in até a aeronave, é de responsabilidade das empresas aéreas.

Recomendações das empresas aéreas

A Latam, empresa pela qual Kátyna e Jeanne viajaram, disse que não tem novas orientações além daquelas que normalmente são indicadas, como travar a mala com cadeado e tirar fotos e/ou fazer vídeos antes do check-in.

A empresa disse ainda que acompanha o caso com a máxima prioridade e colabora com as investigações desde que foi contatada pelas autoridades, prestando também apoio às famílias das passageiras.

A Azul, em nota, informou que "todos os tripulantes e parceiros da companhia são devidamente treinados, seguem protocolos internos de segurança e qualidade, e atuam integralmente de acordo com as recomendações do órgão regulador".

Já a Gol destacou algumas medidas recomendadas aos passageiros:

  • Na parte externa da bagagem, coloque um identificador próprio com sobrenome, número de telefone e e-mail;
  • Na parte interna da bagagem, coloque um cartão de visita ou um papel com estes mesmos dados;
  • Antes de despachar sua bagagem, retire todas as etiquetas de viagens anteriores;
  • Personalize sua bagagem com fitas, adesivos ou quaisquer outros acessórios que possam identificá-la facilmente na esteira da restituição de bagagens e evitar trocas;
  • Fotografe sua bagagem despachada antes da viagem.