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Não é só capivara Filó: Ibama alertou para ninho de jacaré, jiboias e mais

Agenor com a capivara Filó; ele foi autuado pelo Ibama após repercussão dos vídeos - Arquivo pessoal/Agenor Bruce Tupinambá
Agenor com a capivara Filó; ele foi autuado pelo Ibama após repercussão dos vídeos Imagem: Arquivo pessoal/Agenor Bruce Tupinambá

Do UOL, em São Paulo

03/05/2023 04h00Atualizada em 03/05/2023 11h38

O tiktoker Agenor Tupinambá ficou conhecido por mostrar sua rotina com uma capivara chamada Filó em Autazes (AM).

Este, no entanto, não foi o único animal silvestre que Agenor usou ou manteve de forma irregular, segundo uma nota técnica elaborada pelo Ibama e obtida pelo UOL. A assessoria do influenciador nega.

O que aconteceu

Nota técnica do Ibama aponta que Agenor Tupinambá "utilizou diversos animais silvestres de origem ilegal" além da capivara Filó. Isso teria resultado na morte "de um filhote de preguiça e, segundo relatos, provavelmente de um outro filhote de capivara". A nota, do dia 24 de abril, é assinada por dois analistas do Ibama. As conclusões foram obtidas por meio da análise de redes sociais do influenciador e entrevista, segundo o documento.

Ninho e filhote de jacaré manuseado. Segundo a nota técnica, o influenciador "manuseou ovos de jacaré no ninho modificando-o", além de ter manuseado um filhote da mesma espécie. Ambas as ações são consideradas irregulares.

Papagaio para redes sociais. A nota aponta que Agenor teria utilizado e mantido em cativeiro dois papagaios para se promover nas redes sociais. O documento aponta ainda uma suspeita de as asas terem sido "mutiladas cortando ou arrancando penas".

Morte de preguiça por maus-tratos. Agenor Tupinambá também manteve uma preguiça filhote em cativeiro, segundo a nota. E usou outra preguiça adulta para se promover nas redes. O Ibama aponta que a preguiça filhote morreu pelas condições de "maus-tratos". Agenor nega as acusações e diz que fez tudo o que podia para salvar o animal.

Diferentes espécies em cativeiro. Além das já citadas, o Ibama apontou haver uma paca em cativeiro, o uso de duas jiboias para se promover nas redes e uma arara vermelha, também em situação de clausura.

Exposição nas redes sociais de animais sem licença ambiental. Uma aranha caranguejeira, uma coruja e um carão também aparecem no documento como animais sem licença ambiental utilizados por ele para se promover nas redes sociais. O Ibama, no entanto, não confirma que estes animais tenham sido mantidos em cativeiro.

Alguns podem ter sido capturados na natureza e imediatamente soltos, mas outros como papagaios, arara, preguiça, capivara e paca não estão entre esta possibilidade. Ressalta-se que a captura ou apanha em si já é ato infracional e ilegal, sendo que a manutenção do animal em cativeiro torna continuada a conduta
Nota técnica do Ibama

O agente do Ibama Roberto Cabral já havia falado, em suas redes sociais, que o imbróglio com Agenor se referia também a outros animais. "Se trata de outra capivara, que teria morrido, de duas preguiças, sendo que uma delas morreu, duas jiboias, uma paca, uma arara, dois papagaios, uma coruja e uma aranha. Ou seja, uma série de animais que foram explorados de forma ilegal para conseguir likes na internet."

O documento também pontua que Agenor Tupinambá "não reside em meio à mata", mas em uma área rural, em uma fazenda, "onde podem ocorrer encontro com animais silvestres, mas isso não implica que o flutuante onde reside seja ambiente natural de paca, arara, capivara, preguiça, papagaio, entre outros animais".

O Ibama ainda contradiz a versão do influencer de que Filó vivia livre. O instituto questiona hábitos como o de colocar roupas no animal.

Assim o fosse, sem a proteção do grupo, já haveria sido predado caso estivesse em ambiente natural. O animal está sendo mantido em uma casa flutuante que fica em uma fazenda. Vestir o animal com roupas e mantê-lo em condições artificiais constitui abuso e dificulta sua necessária e legal possibilidade de reinserção no ambiente natural
Nota do Ibama

O UOL entrou em contato com o Ibama e com a assessoria de Agenor Tupinambá. Por meio de nota, a assessoria do influenciador afirmou que "o único animal silvestre sob a tutela do Agenor é a Filó".

"Outros animais como cobra, papagaio etc são espécies que ele encontrou na sua rotina diária de trabalho, fez o registro, mas jamais cuidou, levou para casa ou algo do tipo."

Entenda o caso

Agenor Tupinambá ganhou destaque nas redes sociais ao compartilhar a rotina com uma capivara de estimação. Além da capivara, ele também aparecia manejando outros animais silvestres.

O caso chegou ao conhecimento do Ibama após a morte de um bicho-preguiça que Agenor criava na propriedade.

O tiktoker foi multado em mais de R$ 17 mil pelo Ibama após o órgão constatar irregularidades no tratamento dele com animais silvestres. Estudante de agronomia, Agenor foi acusado de suspeita de abuso, maus-tratos e exploração contra animais, além da acusação de matar um animal — o que ele nega.

Ele recebeu duas notificações para apagar o conteúdo alusivo à criação de animais silvestres em ambiente doméstico e a entrega do papagaio e da capivara Filó a um centro do Ibama em Manaus. No entanto, a capivara foi devolvida a Agenor no domingo (30) após uma decisão da Justiça Federal do Amazonas autorizar a guarda provisória do animal até o fim do processo.

A decisão foi criticada pelo agente do Ibama Roberto Cabral.Em vídeo, ele afirmou que Agenor é um "fazendeiro, peão boiadeiro" e que "uma série de animais que foram explorados de forma ilegal para conseguir likes na internet."

A decisão judicial prejudica e muito a reintrodução desse animal. O melhor destino para a capivara não é uma casa, mesmo que seja flutuante, Lembrando que a área é desmatada e não existem capivaras naquele local. O melhor para ela é ser realmente livre junto com outras de suas espécies
Roberto Cabral