'Viajei por um ursinho': loucuras e segredos dos reis da máquina de pelúcia
Você já deve ter visto uma dessas por aí. As máquinas de pelúcia voltaram. E os "caçadores" não estão para brincadeira.
Especialistas em buscar ursinhos impossíveis cometem loucuras pelas pelúcias. As gigantes, claro, são as mais cobiçadas.
Homens, mulheres e casais estão engajados na missão e contam seus feitos nas redes sociais. Eles treinam horas por dia, ficam à espreita, estudam as garras (das máquinas) e a "anatomia" dos ursinhos.
Gerente de trade marketing, Clayton da Silva, 41, começou a sua maratona de caçar pelúcias em janeiro do ano passado.
Nos últimos seis meses, tenta todos os dias.
"Já viajei para outra cidade para pegar uma pelúcia que ainda não tinha e esperei o shopping abrir quase duas horas antes para pegar uma pelúcia nova", conta ele, de Santo André, na Grande São Paulo.
Silva é expert em pelúcias gigantes. E já capturou mais de 400.
Cheguei a pegar, em um único dia, 16 ursos. Hoje, sei onde estão as máquinas e as características de cada uma delas
Clayton da Silva
Ansiedade e realização
O hype das máquinas não se justifica apenas pelo ursinho. Na verdade, as pelúcias capturadas materializam muitos sentimentos.
Primeiro, é o planejamento da jogada —com muita concentração. Depois, vêm a ansiedade e a apreensão pela captura. "Quando dá certo você fica, feliz, alegre, realizado, emocionado."
O casal de vendedores de Ourinhos (SP) William Evangelista Felício, 32, e Ariane Damaris Evangelista, 28, até transmite as caçadas online.
Juntos, eles buscam as pelúcias desde 2019. E, dia sim, dia não, estão frente a frente com os ursinhos.
"Quando você acerta uma boa jogada, pega mais de uma numa mesma trava ou consegue pegar várias pelúcias com pouco dinheiro, é uma sensação muito boa."
Com mais de 53 mil seguidores no TikTok, os dois têm uma coleção pessoal reduzida. E por um só motivo: "Caçamos para nossos seguidores", diz Ariane.
Eles já fizeram uma maratona de caçadas que começou às 8 horas e só terminou às 22 horas. "Pegamos, neste dia, mais de 100 pelúcias".
A 'ciência' das máquinas
Engana-se quem pensa que é sorte.
William diz que o bom caçador estuda a máquina e, até chegar ao sucesso, erra bastante. Mesmo com muito treino, eles avisam: caçar pelúcias não é uma ciência exata.
"Tem de ser observador, ter paciência e jogar com inteligência", diz William. Ver outros jogadores também ajuda a especializar.
Outra dica dada pelos caçadores é, principalmente no caso das pelúcias gigantes, aproveitar quando elas se enroscam em algum lugar ou puxá-las e arrastá-las para o buraco, sem precisar esperar a trava.
Ursos soltos, próximos ao acrílico ou com algum acessório que enrosque na garra são mais fáceis de pegar. Outra dica é escolher a máquina recém abastecida — assim, é mais simples pegar as pelúcias que estão próximas à saída.
"Analisar a máquina antes de gastar dinheiro é a melhor opção", afirma o funcionário público Fernando Pitta, de 43 anos, caçador em São Vicente (SP).
Gastos
William e Ariane não têm noção de quanto já gastaram nas caçadas. Já Pitta admite que chegou a desembolsar mais de mil reais em um só dia com as caçadas.
Ele já nem tem mais onde guardar tantas pelúcias: são mais de 500 gigantes.
O "vício" nas maquininhas, como Pitta mesmo define, vem desde a infância, quando essas máquinas surgiram.
"Primeiro, nas máquinas pequenas. No final de 2021, as máquinas gigantes apareceram e aí, com elas, a adrenalina de tirar as pelúcias é muito boa. Em um único dia já peguei 16."
Algumas capturas, diz ele, são mais satisfatórias. "O que mais me desafia são as [pelúcias] difíceis. Enroscar na etiqueta ou em algum acessório sempre dá mais prazer, porque sai por habilidade e não por sorte."
Com tantos ursos capturados, já teve até quem pensou que ele era o dono do equipamento.
A maioria acha que trabalhamos para a casa, que ficamos ali fingindo que pegamos só para o pessoal jogar. Aí acabamos fazendo amizade, mostramos os vídeos e as pessoas acreditam
Fernando Pitta
Hoje, ele conta que costuma doar para quem está olhando as capturas, principalmente as crianças ou até mesmo vender.
E nem é a captura que traz mais felicidade:
"É ver a alegria dos outros quando ajudo a tirar uma pelúcia. Eles próprios começam a acreditar que é possível."
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