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Caixão de chumbo e triagem em estádio: como foi a tragédia com o césio-137

Técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear na rua onde a cápsula de Césio-137 foi aberta, em Goiânia - Luiz Novaes/Folhapress
Técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear na rua onde a cápsula de Césio-137 foi aberta, em Goiânia Imagem: Luiz Novaes/Folhapress

Colaboração para o UOL

05/07/2023 16h32

A Polícia Civil e a Comissão Nacional de Energia Nuclear estão investigando o furto de duas fontes de césio-137, que desapareceram de uma mineradora em Nazareno (MG). Em 1987, a substância causou o acidente radioativo mais grave da história do Brasil.

Por que material é radioativo?

O césio-137 emite raios gama, radiação ionizante muito perigosa, que pode penetrar profundamente no corpo.

Os raios gama podem retirar elétrons dos átomos de organismos vivos, danificando células e DNA.

Como foi o desastre de 1987?

Em 1987, na cidade de Goiânia, o césio-137 foi responsável pela maior tragédia radioativa do país. Na época, uma clínica com um aparelho de radioterapia foi abandonada e o material não foi descartado da maneira correta.

A peça estava abandonada desde meados de 1985 e foi encontrada por dois catadores de lixo, que a venderam em um ferro-velho. Durante a desmontagem, eles chegaram até a cápsula que armazenava 19 gramas de césio-137, que, administrado dentro da máquina, emitia radiação controlada para matar células cancerígenas. Fora do recipiente de chumbo, o pó altamente solúvel e de fácil dispersão é letal.

À medida que os pedaços da máquina eram vendidos para outros ferros-velhos, aumentava o número de pessoas que reclamavam de náuseas, vômito e diarreia. Também houve fascínio de pessoas pelo brilho emitido pelo material, o que disseminou ainda mais a contaminação direta.

Goiânia ficou 16 dias contaminada com o césio sem saber e dezenas de pessoas tiveram contato direto com o material radioativo. Quatro pessoas morreram, enquanto cerca de 6.500 pessoas foram atingidas com algum grau de radiação e outros 249 casos registraram contaminação mais grave.

Os dois terrenos em que as cápsulas foram abertas, a casa dos catadores Roberto e Wagner e o ferro-velho, foram demolidos. As pessoas que foram contaminadas ou que tinham a possibilidade de ter tido contato com o material passaram por triagem no Estádio Olímpico de Goiânia. No total, 112 mil pessoas passaram por lá.

Testadas - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
Reprodução de imagem mostra pessoas sendo testadas no Estádio Olímpico de Goiânia após o acidente com césio-137
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

As vítimas foram enterradas em caixões de chumbo de 700 kg. Os túmulos foram revestidos de concreto e colocados no local mais afastado possível do Cemitério Parque.

A Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) classifica o caso de Goiânia como o maior acidente radioativo do mundo pela extensão da tragédia.

*Com reportagens publicadas em 23/06/2021, 27/01/2023 e 31/01/2023