Última favela do centro de SP: como é comunidade que governo quer remover
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A última favela remanescente do centro da capital pode desaparecer com o projeto de requalificação do governo de São Paulo. Um dos objetivos da proposta de transferir a sede administrativa para o centro é tornar a região "atrativa para moradia", com maior "valorização imobiliária", conforme apurou o UOL.
Como é comunidade do Moinho?
Comunidade é cercada por trechos das linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM. O acesso ao Moinho é uma entrada atravessada por trilhos. Moradores convivem com barulhos e tremores pela passagem constante dos trens.
A favela foi construída a partir de uma ocupação sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel. Segundo reportagem da BBC, era ali que ficava o Moinho Central, uma indústria de processamento de farinha e de rações para animais. A indústria foi desativada no final da década de 1980. Nos primeiros anos, os moradores eram ex-trabalhadores da fábrica.
Terreno é alvo de disputa há anos. Ele foi controlado pela Rede Ferroviária Federal, depois foi a leilão por dívidas da empresa e chegou a empresários, mas que não concluíram a compra, segundo a BBC. Em 2008, a associação de moradores entrou na Justiça para permanecer no terreno por usucapião. Eles garantiram a posse do terreno, mas a ação ainda não foi julgada.
Passou por dois grandes incêndios. Eles ocorreram em 2011 e 2012 e resultaram na destruição de muitas moradias e em algumas mortes.
O acesso ao saneamento básico ocorreu apenas em 2022. Até então, a favela não tinha água e convivia com esgoto a céu aberto.
Para tomar banho, a gente subia numa cadeira dessas, porque o esgoto chegava alto, e botava o balde em cima de uma outra cadeira. Você tomava banho com lesma subindo na cadeira, rato passando, a gente se lavava e já subia para o quarto em cima. Meu fogão, a gente subia para o andar de cima também, para fazer comida para os meninos. Josefa Flor da Silva, paraibana moradora da favela Moinho à BBC em 2022
Regularização fundiária não é possível, segundo CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo). Como justificativa, o órgão alega a proximidade com as linhas férreas, a situação de confinamento e o histórico de incêndios, além da "extrema precariedade das moradias".
Lideranças comunitárias do Moinho alegam que plano estadual não leva em conta realidade local. "Não conseguimos pagar o que estão exigindo para que a gente saia daqui", diz uma representante da associação de moradores do Moinho que pediu para não ser identificada.
Se sairmos daqui para pagar uma moradia que não vamos conseguir sustentar, vai dar um tempo e vamos parar na rua ou em outra comunidade. Aliás, é assim que surgem as favelas. A questão é que eles pretendem jogar essas comunidades para as periferias. No centro novo e bonito que eles querem, não podemos ficar. Liderança da associação de moradores do Moinho
*Com informações de reportagens publicadas em 24/03/2025, 23/02/2025 e da Agência Estado
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