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TV: Laudos das mortes no Guarujá mostram divergências com relatos dos BOs

Os laudos das mortes no Guarujá, no litoral de São Paulo, apontam divergências entre as versões registradas por policiais nos boletins de ocorrência. A apuração é do Fantástico, da TV Globo.

O que aconteceu:

A reportagem obteve o laudo e boletins de ocorrência de 15 casos, analisados por peritos de São Paulo e do Rio de Janeiro.

A matéria destacou o caso de três mortos na Operação Escudo que viviam na capital paulista, segundo testemunhas e parentes, mas foram mortos no Guarujá.

Todos os mortos na Operação Escudo foram levados para o IML (Instituto Médico Legal) de Praia Grande. Nos documentos obtidos pela reportagem não fica claro a razão pela qual a perícia não compareceu em todos os locais de crimes. Dos 16 boletins de ocorrência, apenas um tem perícia realizada, em três foram dispensadas e não há informação dos outros 12 casos.

A Operação Escudo, que já deixou 19 mortos, começou após a morte do soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) Patrick Bastos Reis, de 30 anos, morto após ser atacado durante um patrulhamento no Guarujá em 27 de julho.

Caso Matheus:

Matheus Eduardo da Silva, de 22 anos, morreu em 29 de julho. Policiais militares afirmaram ter visto dois homens armados, sendo que um deles teria apontado a arma e três agentes atiraram — sendo três tiros de fuzil e um de pistola. Um dos suspeitos fugiu na ação, e Matheus morreu. Os agentes ainda alegaram que o rapaz estava portando um revólver, maconha e cocaína.

O laudo de Matheus aponta que ele foi morto com dois tiros, sendo um pelas costas e outro atingiu o braço, perfurando coração e pulmão. Os peritos consultados pela emissora dizem que o rapaz estaria inclinado para frente quando foi alvejado, o que indicaria a posição de fuga e não de reação. O segundo tiro teria sido dado de lado e por isso atingiu os órgãos.

Não cabe em confronto tiro pelas costas, estaria fugindo. Se tá atirando, vai acertar alguém também pela frente. O laudo médico legal é fundamental. Claro que depois entram outros elementos de investigação, levantamento de testemunha.
Nelson Massini, perito

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Matheus era usuário de drogas e morava em Heliópolis, na zona sul da capital. Ele tinha passagens por roubo, receptação e aliciamento de menores. A mãe do rapaz disse que ele nunca foi para o Guarujá e só conheceu a praia uma vez, em Ilhabela.

Uma vizinha afirmou que viu o rapaz em Heliópolis um dia antes de ser morto. Já outro amigo da família disse que, no mesmo dia, Matheus "tinha sido abordado pela Polícia Militar, e colocado dentro da viatura da polícia".

Caso Maicon:

Maicon Souza Santa Roza, 25 anos, morreu em 31 de julho. No boletim de ocorrência, policiais militares alegam que um homem apontou a arma e entrou em um barraco, atirando na sequência. A PM disse que reagiu disparando um tiro de fuzil e dois de pistola.

O laudo do rapaz mostra que ele morreu com cinco tiros, sendo que quatro deles sugerem que o homem já estava no chão quando foi alvejado, informaram os peritos ouvidos pela emissora.

Ele toma um tiro na perna, frontal, e cai. Os demais disparos foram feitos com inclinação. Já estaria deitado.
Nelson Massini, perito

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Maicon nasceu na Bahia e foi processado por furto, tráfico de drogas e porte de armas. Ele foi acolhido duas vezes em centros de acolhimento na capital paulista, segundo a prefeitura, e participou de atividades para geração de renda e desenvolvimento educacional e social.

Caso Jefferson:

Jefferson Junio Ramos Diogo, de 34 anos, assim como Matheus, morreu em 29 de julho. Os policiais disseram que viram três homens armados, um deles apontou a arma, e os agentes reagiram, atingindo o homem armado. O boletim de ocorrência aponta que todos os criminosos fugiram, incluindo o ferido (que não deixou a arma no local do crime). Os agentes continuaram atirando e Jefferson morreu.

O laudo do homem mostra que ele morreu com quatro tiros, dois deles o incapacitariam de fugir. O último tiro foi na cabeça.

Ele toma um tiro na perna, que quebra o fêmur. Com essa fratura ele jamais correria. E também toma um tiro no braço, o que inviabilizaria de ele empunhar uma arma. Porque tiro no braço e na perna não mata. Mas o da cabeça eu diria que é o tiro de misericórdia. Não poderia nunca ser o primeiro, se supõe que seja o último.
Nelson Massini, perito

A família de Jefferson, de São José dos Campos, afirmou que ele era vivia nas ruas da capital paulista, já que o monitorava por saques bancários que ele fazia. O homem passou pelo atendimento social na capital dez dias antes de morrer.

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O que diz a Secretaria de Segurança Pública:

Em nota à emissora, a SSP-SP afirmou "que todos os casos estão sendo investigados pela DEIC (Divisão Especializada de Investigações Criminais) de Santos com apoio do Departamento de Homicídios".

A pasta afirmou que não foram registrados "sinais de tortura ou qualquer incompatibilidade com os episódios relatados" em nenhum dos laudos do IML.

"Dos 19 casos de reação à ação policial que resultaram em morte, 11 envolveram policiais de batalhões que possuíam câmeras", ressaltou a pasta, alegando que o "conjunto de provas — incluindo imagens de câmeras corporais — têm sido compartilhado com Ministério Público e Poder Judiciário". O acesso às imagens foi negado à emissora. O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) recebeu imagens de apenas seis das 15 ocorrências com morte durante a Operação Escudo.

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