Julga e tortura: como é o 'tribunal do crime' envolvido em morte de médicos

As polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro encontraram na madrugada de hoje (6) quatro corpos que seriam de suspeitos de assassinar a tiros três médicos em um quiosque da Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense.

Segundo investigações, os quatro suspeitos teriam sido julgados e executados pelo "tribunal do crime" - nome dado ao processo de punição a infratores de facções criminosas como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho).

A polícia apura se os quatro foram mortos pelo CV por terem assassinado os médicos por engano. Eles teriam confundido o ortopedista Perseu Ribeiro Almeida, uma das vítimas, com Taillon de Alcantara Pereira Barbosa - acusado pelo Ministério Público do Rio de integrar uma miliícia em Rio das Pedras, também na Zona Oeste do Rio.

Como funciona o 'tribunal do crime'

Delação de ações de criminosos, citação do nome da facção em conversas com terceiros e até infrações "mais leves", como urinar na rua, podem justificar, dentro da facção, um julgamento do "tribunal do crime".

Facções como o PCC têm uma espécie de estatuto e as penas para os infratores vão de suspensão até assassinato.

O júri do "tribunal do crime" é composto de integrantes soltos e presos. Existe um "debate" entre os "jurados" antes do "veredito", que pode ser a pena de morte.

As pessoas levadas ao "tribunal do crime" são submetidas a sessões de tortura e espancamento. As vítimas podem ser amarradas e amordaçadas em cativeiro.

Os "tribunais do crime" costumam ocorrer com a participação de integrantes da cúpula de facções no sistema prisional por meio de ligações ou videochamadas, em contato com as lideranças que estão nas ruas. Os assassinatos só ocorrem se houver autorização dos líderes.

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Morte e consequências

  • Pessoas consideradas "culpadas" pela facção podem ser enforcadas, mortas a tiros ou até ter a cabeça decepada.
  • A facção pode deixar os corpos em porta-malas ou em locais abandonados, enrolados em cobertor e com pés e mãos amarrados a um torniquete.
  • Parentes das vítimas, depois do crime, passam a ficar na mira da facção criminosa. Quem não mostrar uma cópia do depoimento aos integrantes do PCC também corre o risco de ser morto.

* Com informações de reportagem de Josmar Jozino e Herculano Barreto Filho publicada em 21/09/2022.

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