'Ele era recordista em queda livre', diz amigo de paraquedista morto em SP

"Nós estávamos saltando juntos, nos divertindo nos céus com os amigos, e tudo corria bem", conta o comerciante e paraquedista Paulo Pires, 45. Na quarta-feira passada (11), ele viu quando um de seus melhores amigos, o empresário goiano Humberto Siqueira Nogueira, 49, morreu ao pousar com seu paraquedas no CNP (Centro Nacional de Paraquedismo), em Boituva (SP).

"Ele veio para Boituva, com a esposa, Ghoevanna, que também é paraquedista, para fazer o que amávamos fazer. Após o salto, nós nos separamos a uma determinada altura e abrimos nosso paraquedas. Eu fui o primeiro a pousar, e o Humberto foi o quarto", lembra Paulo.

"No momento [do acidente], eu não estava olhando pra ele. Quando vi algumas pessoas correndo, me dei conta que algo havia acontecido e então também corri até ele", diz.

Segundo ele, as condições climáticas eram favoráveis e os equipamentos, como sempre, foram checados antes do salto.

As causas do acidente ainda não foram determinadas, mas, segundo testemunhas, o empresário teria colidido fortemente com o solo durante o pouso.

Uma perícia nos equipamentos estava marcada para esta segunda-feira. "Nós ainda não encontramos nenhuma imagem conclusiva que mostre que pode ter sido uma falha humana", afirma Paulo, que explicou ainda que Humberto não usava câmeras corporais no momento do salto.

Humberto Siqueira Nogueira morreu durante o pouso após saltar de paraquedas em Boituva
Humberto Siqueira Nogueira morreu durante o pouso após saltar de paraquedas em Boituva Imagem: Reprodução

Recordista de saltos

Humberto, segundo o amigo, praticava de diversos esportes de alta performance e em todos se destacava pela "disciplina, foco e determinação, desde a alimentação ao preparo com atividades físicas, que o mantinham pronto para qualquer desafio".

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Foi campeão da Copa Fly Factory em 2015, que tem regras um pouco diferentes de um campeonato brasileiro de freefly (modalidade mais avançada do paraquedismo que permite com que o atleta voe seu corpo em todas as direções).

Foi ainda recordista sul-americano de Head Down, modalidade em que as pessoas saltam de cabeça para baixo em 2016, 2018 e 2023, além de recordista brasileiro nessa modalidade, em 2019 e 2021.

Os dois se conheceram há mais de uma década, durante uma viagem aos EUA para treinar num túnel de vento, um simulador de voo que dá ao paraquedista a possibilidade de praticar num ambiente controlado as manobras que fazem no céu.

"O Betão, como eu o chamava, demonstrou interesse em se juntar a um grupo de 'vertical training', que treina atletas nessa modalidade de voo vertical para participar de recordes", comentou.

Em 2018, durante os preparativos para estabelecer um novo recorde sul-americano, Humberto exibiu uma habilidade notável que se tornaria sua "característica distintiva": uma leitura precisa da engenharia por trás de uma formação em queda livre.

Após uma série de conversas com outros dois paraquedistas, Vitor Cruz e Jean Agostinho, surgiria o grupo responsável pela coordenação dos futuros recordes sul-americanos e brasileiros.

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Sonho em comum

Os dois amigos tinham um sonho: fazer com que a America do Sul fosse reconhecida no cenário mundial de grandes formações de paraquedistas em queda livre.

Em agosto deste ano, ambos foram convidados para capitães do setor sul-americano na organização do recorde europeu de head down, na Alemanha.

Ele desempenhou papel fundamental como organizador durante os recordes. Betão foi de aprendiz a professor, de comandado a comandante, líder por natureza, ser humano fantástico, sempre disposto a ajudar os outros. Ele se tornou uma referência mundial dentro do nosso esporte. Amado por toda nossa comunidade e admirado em todos os lugares por onde passava, deixou um vazio que não pode ser preenchido, somente lembrado e celebrado como ele gostaria que nós fizéssemos, voando com segurança e se divertindo, fazendo aquilo que ele amava.
Paulo Pires, comerciante e paraquedista

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