'GLO não é mágica, mas é o que temos contra crime', diz secretário de Dino

O secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, afirmou ao UOL que a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) nos portos e aeroportos "não soluciona todos os problemas", mas é parte de iniciativas para combater o crime organizado no Brasil.

O que aconteceu

A operação tem provocado atritos entre militares e policiais federais e é alvo de críticas de especialistas. "É mais um capítulo no enfraquecimento das instituições públicas, um remédio que não funciona. Enquanto isso, o crime cresce", afirma Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O governo federal não está vendendo nenhuma bala de prata, nenhuma solução mágica. A ansiedade com relação a dados não faz parte do nosso trabalho. É algo que vamos fazer com calma e integração.
Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça

Cappelli disse que haverá uma nova reunião do comitê de monitoramento hoje (21) para discutir termômetros para a eficiência da operação. "Há uma equipe trabalhando na unificação desses indicadores", afirmou, citando Polícia Federal e Forças Armadas, além de um convite para Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal participarem do encontro.

O governo quer apresentar um balanço dos trabalhos ao final do primeiro mês e disse, sem dar detalhes, que a operação pode ser ampliada. "Essa experiência da integração das Forças Armadas nesse trabalho, essa cooperação, pode ser expandida para outras áreas."

A GLO nunca é uma solução, é uma iniciativa para crise, uma iniciativa esporádica diante de uma convulsão. O ideal é ela não existir.
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Sobreposição de forças

O presidente do fórum afirma que a atuação de agentes das Forças Armadas de forma conjunta à Polícia Federal pode gerar atritos. "A Marinha e a Aeronáutica querem assumir o controle e a PF não quer. Esse é um dos pontos centrais da operação", diz ele. "As Forças Armadas entram somente quando há o esgotamento das forças tradicionais."

A GLO colocou em xeque a capacidade da PF de cumprir algumas atribuições que possui, diz Lima. "Esse modelo de interagência funciona num formato em que os militares estão acostumados a mandar", diz.

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Para fortalecer a Polícia Federal, Lima diz que seria necessário aprovar o plano de carreiras para os agentes. "Durante esses seis meses de vigência da GLO deveriam ser abertas novas vagas e treinados policiais para atuarem nos postos aeroportuários."

Cappelli afirma que o entrave para isso é a "difícil situação fiscal que o Brasil enfrenta". "O caminho é reestruturar, mas de onde sai o orçamento?", diz. "No mundo real, temos que utilizar o que temos disponível."

Estamos utilizando homens que têm doutrina e treinamento e fazem parte do Estado brasileiro, para integrar e fortalecer o trabalho que já é feito.
Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça

O secretário diz ainda que tem conversado sobre reestruturação de cargos e abertura de concurso com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Mas, segundo ele, enquanto a situação fiscal do país não for favorável, "a alternativa não é ficar sem fazer nada".

Em relação a atritos entre os agentes, o secretário diz que esteve com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e que ele se disse satisfeito com a operação. Segundo Cappelli, Rodrigues elogiou a integração. "Só vamos enfrentar o crime organizado com cooperação, unindo tudo o que temos disponível e considerando as condições reais."

Ação pode gerar novas rotas para tráfico

A GLO instituiu a presença de 3.700 militares da Aeronáutica, do Exército e da Marinha para ações de combate ao crime em três portos e dois aeroportos dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

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Um das críticas feita à operação é que ela foca, sobretudo, em ações de repressão ao tráfico de drogas em rotas utilizadas pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa que atua em São Paulo. A efetividade da operação para coibir o escoamento de drogas do Comando Vermelho tem sido questionada.

As organizações criminosas passam a buscar outras saídas para o tráfico nacional e internacional de drogas. "Com a ação localizada em alguns portos, as facções buscam outras saídas quando se criam constrangimentos nos negócios", diz Lima.

As rotas utilizadas pelo Comando Vermelho se concentram nos estado do Norte do país. Como o policiamento proposto pela medida se concentra nos estados do Sudeste, o tráfico de drogas tende a continuar por outras vias.

Para Cappelli, a reestruturação de rotas do tráfico gera novos custos. "Embute movimentações e alterações de planejamento, e a inteligência das Forças vai continuar acompanhando isso", diz.

Ele disse que o governo federal "dobrou" a capacidade de investigação da PF sobre organizações criminosas no Rio de Janeiro — o que, segundo o secretário, pode contribuir com os trabalhos da GLO. "Não existe bala de prata, não existe solução mágica."

Em relação à regiões Norte, Cappelli diz que os estados tem recebido investimentos em segurança pública. Ele afirmou que estão sendo instaladas na Amazônia 34 bases de segurança e que um centro de cooperação internacional será montado em Manaus, coordenado pela Polícia Federal.

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Hoje existe um equilíbrio precário, já que PCC e Comando Vermelho não competiam entre si pelas rotas. Mas, se o PCC precisar usar rotas do CV para o tráfico de drogas, pode ocasionar um aumento no número de mortes e confrontos armados.
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

Marinha fala em revista de bagagem; Exército não responde

O UOL entrou em contato com as Forças Armadas para obter um balanço das atividades realizadas nos primeiros dias da GLO. Mas somente a Marinha e a Aeronáutica informaram pontualmente as primeiras ações. O Exército não respondeu à reportagem.

A Marinha afirma ter realizado inspeções em cascos de navios, patrulhas navais e terrestres. Segundo a instituição, foram abordadas em uma semana 505 embarcações e seis foram apreendidas por irregularidades administrativas. Lima destaca que a Capitania dos Portos já tem a atribuição de executar o policiamentos dos mares.

O secretário diz que, embora a Marinha já tenha essa função, mais embarcações foram enviadas para fortalecer o trabalho. "No momento em que o presidente decreta uma GLO nos portos isso ganha uma importância, reforçando o trabalho na parte seca do porto, que, sem a GLO, a Marinha não poderia atuar."

Em relação ao trabalho nos aeroportos, Cappelli diz que a Aeronáutica deslocou militares para atuar, principalmente, em áreas internas. "Eles estão atuando para apoiar a parte de vistoria de bagagens e transporte de cargas", afirma.

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O comandante da operação pela FAB (Força Aérea Brasileira), major-brigadeiro do ar Luiz Guilherme da Silva Magarão, afirmou que as principais ações são atuar na revistas de bagagens, carga e passageiros. A Aeronáutica disponibilizou 600 militares para a operação.

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