Brumadinho 5 anos depois: o que mudou no cenário da tragédia e nas buscas

A área atingida pelos 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro despejados pela barragem da Vale em Brumadinho (MG) está bem diferente cinco anos depois do rompimento — muito em função das estratégias adotadas pelos bombeiros nas buscas às vítimas e de obras da mineradora.

O que aconteceu

A lama secou, e cerca de 75% do rejeito foram vistoriados — o que corresponde a 7,2 milhões de m³. Esse material já passou pela inspeção dos militares do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, à procura de corpos, segmentos de corpos e objetos que ajudassem na localização das vítimas e identificação delas.

O trabalho está concentrado em cinco estações de buscas. As estruturas começaram a funcionar em 22 de setembro de 2021, dando início à 8ª fase da operação. Dentre os segmentos de corpos encontrados desde então, houve material que levou à identificação de quatro novas vítimas — a última delas em 20 de dezembro de 2022.

14.jan.2024 - Estação de busca instalada na área atingida pela lama despejada por barragem da Vale em Brumadinho (MG)
14.jan.2024 - Estação de busca instalada na área atingida pela lama despejada por barragem da Vale em Brumadinho (MG) Imagem: Luciana Quierati/UOL

As estações ficam na área em que funcionava o terminal de cargas ferroviário da mina. Esse terminal é o que aparece em um vídeo, divulgado e compartilhado à exaustão uma semana após o rompimento da barragem, em que a lama avança e cerca uma caminhonete e uma escavadeira. Ele fica a aproximadamente 200 metros do pé da barragem e, por isso, foi atingido pela lama em segundos.

25.jan.2019 - Imagem aérea do dia em que a barragem rompeu e a lama que se espalhou pela região de Brumadinho (MG)
25.jan.2019 - Imagem aérea do dia em que a barragem rompeu e a lama que se espalhou pela região de Brumadinho (MG) Imagem: Reprodução/TV Globo

Nos três anos iniciais da operação, porém, as buscas eram feitas ao longo dos 10 km atingidos. Quando não precisaram mais rastejar no terreno, os bombeiros passaram a contar com máquinas para a escavação do rejeito — em alguns pontos, a profundidade chegou a quase 20 metros. O trabalho era feito da barragem ao rio Paraopeba. Hoje, o rejeito dessas áreas é levado até os bombeiros, nas estações de busca.

Ainda é possível ver o que sobrou da barragem. Cerca de 2 milhões de m³ de rejeito continuam no local. Não foram feitas grandes intervenções na estrutura, a não ser em obras ao redor, e o mato rasteiro cobre o material também permaneceu

14.jan.2024 - O que sobrou da barragem 1 que se rompeu na Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG)
14.jan.2024 - O que sobrou da barragem 1 que se rompeu na Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG) Imagem: Luciana Quierati/UOL
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O pontilhão da linha férrea, que teve duas pilastras levadas pela lama, também permanece — e incompleto. Era por ele que passavam os trens com minério carregados no terminal ferroviário ao pé da barragem. Ainda não se sabe o que será feito da estrutura remanescente.

14.jan.2024 - O que sobrou do pontilhão da linha férrea, que teve duas pilastras levadas pelo rejeito que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG)
14.jan.2024 - O que sobrou do pontilhão da linha férrea, que teve duas pilastras levadas pelo rejeito que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG) Imagem: Luciana Quierati/UOL

A base operacional dos bombeiros continua montada. Depois de ocupar por 27 dias a igreja e o campo de futebol do Córrego do Feijão, bairro rural encostado na mina, os bombeiros ganharam uma segunda base, a Bravo, e estão lá até hoje. Ela está instalada em um clube da Ferteco, antiga vila de funcionários da mineradora, a 200 metros de onde ficava a portaria da mina.

A área foi transformada em um canteiro de obras. Segundo a Vale, são obras de reparação, com barreiras e dique para contenção do avanço do rejeito, recuperação do leito do córrego Ferro-Carvão e tratamento da água — o leito do córrego foi tomado pela lama — e restauração da vegetação. Houve uma perda de 140 hectares de floresta nativa.

14.jan.2024 - Estação que trata a água do córrego Ferro-Carvão, atingido pela lama que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG)
14.jan.2024 - Estação que trata a água do córrego Ferro-Carvão, atingido pela lama que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG) Imagem: Luciana Quierati/UOL

A zona quente — como os bombeiros chamam a área de buscas — está cercada e ninguém entra sem autorização. Nos primeiros dias após a tragédia, em que não se tinha policiamento suficiente ao redor da área para impedir o acesso, muita gente se arriscou na lama em busca de parentes e amigos. Hoje, o controle é total da Vale e só pessoas autorizadas, com equipamento de segurança, crachá com geolocalização e acompanhamento de batedores, podem entrar.

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Como funcionam as estações de busca

A estação de busca é composta, basicamente, de um equipamento de mineração adaptado para a operação. O rejeito retirado da zona quente é levado em caminhões até a estação, colocado em esteiras que separam o material mais espesso (acima de 5 cm) do mais fino e vistoriado por um bombeiro. O tamanho foi definido juntamente com especialistas da Polícia Civil de Minas Gerais, afirma o Corpo de Bombeiros.

14.jan.2024 - Bombeiros dentro de cabine da estação de busca fazendo vistoria do rejeito que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG)
14.jan.2024 - Bombeiros dentro de cabine da estação de busca fazendo vistoria do rejeito que vazou da barragem da Vale em Brumadinho (MG) Imagem: Divulgação/CBMMG

A inspeção é feita a partir de uma cabine. Os bombeiros ficam em uma espécie de contêiner climatizado, não precisando mais fazer buscas debaixo de sol e em meio à poeira. A escala é de duas horas de trabalho por duas de descanso, em esquema de revezamento — sempre em duplas.

12.fev.2019 - Imagem registrada poucas semanas após o rompimento da barragem mostra busca de bombeiros em meio à lama que se espalhou pela região
12.fev.2019 - Imagem registrada poucas semanas após o rompimento da barragem mostra busca de bombeiros em meio à lama que se espalhou pela região Imagem: Divulgação

O rejeito desce por uma esteira na frente da cabine. Ao visualizar qualquer material que possa ser um segmento humano ("objeto de interesse", como a corporação e a Vale chamam), o bombeiro dá o comando de parada ao operador do equipamento, deixa a cabine e vai até a esteira verificar. Toda suspeita é recolhida e posteriormente analisada por peritos da Polícia Civil.

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A operação conta com 14 bombeiros a cada semana. A equipe é distribuída entre as estações de busca e a parte administrativa. A troca é feita toda quarta-feira. Na primeira semana, quando o Corpo de Bombeiros de Minas recebeu apoio de corporações de outros estados, as buscas chegaram a reunir 400 bombeiros.

Quando as buscam terminam

Não há prazo para o encerramento das buscas. A pedido dos familiares de vítimas não encontradas e por determinação do governador Romeu Zema (Novo-MG), as buscas devem prosseguir até encontrar as três vítimas que faltam.

Quem são essas vítimas: a corretora de imóveis Maria de Lourdes da Costa Bueno, a Malu, que estava com a família em uma pousada atingida pela lama; a estagiária Nathalia de Oliveira Porto Araújo e o engenheiro mecânico Thiago Tadeu Mendes da Silva, ambos funcionários e surpreendidos pelo rejeito enquanto trabalhavam na mina.

Já são mais de 1.800 dias de buscas. As ações chegaram a ser interrompidas por duas vezes por causa da pandemia de covid-19, mas o trabalho dos bombeiros continuou internamente na elaboração de estratégias. Esta é considerada a maior operação de buscas e salvamento do mundo.

A barragem rompeu em 25 de janeiro de 2019. O número oficial de mortos é de 270 — as famílias contam 272, pois duas vítimas estavam grávidas.

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25.jan.2019 - Imagem aérea feita no dia em que a barragem da Vale rompeu na região de Brumadinho (MG), causando mortes e destruição
25.jan.2019 - Imagem aérea feita no dia em que a barragem da Vale rompeu na região de Brumadinho (MG), causando mortes e destruição Imagem: Arcanjo Major Carla/Divulgação

*A repórter viajou a Brumadinho em 2024 a convite da Vale.

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