Dono de joalheria em Higienópolis é acusado de revender joias roubadas

O Ministério Público de São Paulo denunciou um dos donos da joalheria Orit e dois funcionários da loja do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. Eles são acusados de comprar joias furtadas por uma empregada doméstica. A empregada foi denunciada por furto qualificado. A denúncia foi apresentada na terça-feira (20) e ainda não houve decisão judicial.

O que aconteceu

De acordo com o inquérito, ao qual o UOL teve acesso, a empregada furtou 64 joias da casa de sua ex-patroa em algumas ocasiões entre setembro e dezembro de 2022. Em oito visitas, ela vendeu as joias à Joalheria Orit do Shopping Higienópolis por R$ 47,5 mil. As joias foram avaliadas em R$ 69,4 mil.

Foram denunciados Rony Sztokfisz, sócio da joalheria - o outro sócio é Sami, pai de Rony, sem relação com o caso -, além de dois funcionários, Maria Aparecida e Eder, por receptação. A empregada, chamada Zeni, foi denunciada por furto qualificado.

Entre os objetos furtados estão cordões de ouro, aneis cravejados de pedras preciosas, pulseiras e brincos.

A polícia também investiga outro furto de joias e de um relógio Tissot da mesma vítima, mas por outra empregada doméstica, e vendidos a outra unidade da mesma joalheria, no Shopping Ibirapuera. Os objetos foram avaliados em R$ 75 mil.

A Joalheria Orit é conhecida em São Paulo como uma das principais casas de compra e venda de joias e relógios usados, atividade conhecida no mercado como "joias de segunda mão".

Em nota enviada ao UOL, a defesa da empresa e dos funcionários, feita pelo escritório Bialski Advogados Associados, disse que "os funcionários da empresa adotaram todas as medidas de cautela e os protocolos de conformidade para garantir a lisura do processo de aquisição das joias, sendo igualmente vítima".

Procurada, a defesa de Zeni, feita pelo advogado Fabio Costa, disse que vai se pronunciar depois que tiver acesso à denúncia.

Sem documento

Em depoimentos à Polícia Civil em dezembro de 2022, Zeni disse que os funcionários pediram a ela apenas para tirar foto das joias e de um documento dela. Não pediram nada que comprovasse a procedência dos produtos, ou quem seria o proprietário. Ela contou ter conversado com os dois funcionários e com o próprio Rony, a quem reconheceu depois por foto.

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Na primeira vez que foi à loja, Zeni disse que tinha feito um curso de culinária e precisava de dinheiro para abrir uma "confeitaria gourmet". À polícia, ela disse que precisava pagar dívidas.

Foi a própria Zeni quem contou à ex-patroa, Adriana, ter furtado as joias e vendido à Orit. Adriana contou aos investigadores que procurou a joalheria, mas ouviu que a Orit não tinha qualquer responsabilidade sobre a origem das joias.

Um advogado de Adriana entrou em contato com a loja ainda em dezembro de 2022 e recebeu uma proposta: comprar de volta as 16 joias que ainda não haviam sido revendidas por R$ 14.925,00, "além do imposto".

O negócio não saiu, e a polícia apreendeu as joias semanas depois.

Compro ouro

Em petição enviada à Justiça, a defesa de Adriana, que entrou no caso depois da conclusão do inquérito e agora acompanha o processo judicial, disse que a história "em muito se assemelha aos 'compro ouro' espalhados pelo centro da cidade, conhecidíssimos antros de receptação. A diferença? O bairro".

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Com a simples assinatura da pessoa de que aquela joia lhe pertence, e nada mais, a loja do investigado compra produtos oriundos do crime, sem mínima diligência para averiguar a procedência do item Marcelo Feller, advogado da dona das joias, em petição

A defesa de Rony Sztokfisz, feita pelo advogado Daniel Bialski, contesta a denúncia contra o cliente. Em petição, ele disse que Zeni foi à loja "muito bem vestida e falante" e foi atendida por vendedores, e não pelos sócios. Por isso, Rony não poderia responder pelo crime. Os vendedores também são representados por Bialski no processo.

O advogado também argumentou que "costuma ser frequente" a falta de documentos de origem dos produtos no mercado de comércio de joias, por isso ninguém pediu comprovante de propriedade dos produtos.

Mas o delegado do caso, Felipe Nakamura, disse que, "como empresário do ramo de joias, com pelo menos duas lojas em locais de alto poder aquisitivo (Shopping Higienópolis e Ibirapuera), o mesmo [Rony] tem a obrigação de se certificar da origem dos produtos que adquire e revende".

Em outra petição enviada à Justiça, Bialski chamou o relatório do delegado de "arbítrio" e disse que o policial "se valeu de uma investigação tendenciosa, temerária e precária". Na interpretação do advogado, Rony não participou da compra ou da revenda das joias, por isso é "inaceitável" que ele "seja guindado à condição de criminoso".

Modus operandi

O Ministério Público concordou com a polícia. Principalmente porque as investigações descobriram outro caso de joias furtadas da mesma vítima e revendidas à Orit, mas à unidade do Shopping Ibirapuera.

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Para o promotor de Justiça Walmar Pinto Correa, responsável pelo caso, a segunda compra de joias furtadas mostra "o modus operandi ilícito habitual da empresa".

A Orit nunca disse aos investigadores quanto recebeu pelas joias que vendeu. A defesa da vítima disse que esse fato deveria ser interpretado como "exercício do direito à não incriminação" por parte dos donos da joalheria.

Em depoimento à polícia, a mãe da vítima, dona de algumas das joias, disse não saber quanto os objetos valiam. Só disse desconfiar que Zeni os vendeu pelo peso do ouro, o que seria errado por desconsiderar as pedras preciosas de algumas das joias.

Ela disse ainda saber que, "por muitos anos", Sami, pai de Rony, manteve sociedade com os sócios da Vecchio Joalheiros, "que sempre teve fama de comprar joias de origem duvidosa".

Já Bialski disse, numa terceira petição, que Adriana é uma "pseudovítima" que cobrou R$ 230 mil da Orit para deixar de ir à polícia.

Ao UOL, Adriana disse que "nega a ofensiva afirmação" de que tentou subornar os sócios da empresa. Segundo ela, "bem sabe a Orit" que a investigação independe de sua vontade. A acusação não foi explorada nas investigações.

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