Conteúdo publicado há 1 mês

Vale barra na Justiça sepultamento de cacique em terra sob disputa em MG

A mineradora Vale obteve na 8º Vara Federal Cível de Belo Horizonte uma liminar para impedir o sepultamento do cacique Merong Kamakã Mongoió na terra que está sob disputa com indígenas, em Brumadinho (MG), onde ele vivia. A liderança foi encontrada morta na segunda-feira (4).

O que aconteceu

Vale acionou a Justiça para impedir que o cacique fosse sepultado nas terras no Vale do Córrego de Areias, área sob disputa entre indígenas e a mineradora. A juíza Geneviève Grossi Orsi deferiu liminar em favor da empresa devido "a notória controversa acerca da titularidade das terras objeto da ação".

É certo que não foi formulado qualquer pedido dos réus afeto ao sepultamento noticiado. Outrossim, é objeto desta ação de Reintegração de Posse, a área em que se pretende realizar o alegado sepultamento, a despeito da controvérsia instaurada sobre sua efetiva titularidade. Diante do exposto, defiro, por ora, a tutela inibitória requerida, para que seja impedida a realização do sepultamento do Sr. Merong Kamakã, nas terras objeto desta ação. Geneviève Grossi Orsi em decisão favorável à Vale

A magistrada também determinou que a Polícia Federal e Polícia Militar auxiliassem para que a determinação fosse cumprida.

Os familiares de Merong Kamakã anteciparam a cerimônia de sepultamento. O enterro foi realizado na madrugada de hoje na terra que está sob disputa com a Vale, segundo o frei Gilvander Luiz Moreira, da comissão Pastoral da Terra.

Estou profundamente indignado porque a mineradora Vale entrou na Justiça Federal e conquistou uma liminar para proibir o sepultamento do cacique Merong. Queremos repudiar com veemência esse pedido da Vale e essa decisão absurda, inconstitucional, que desrespeita e viola todos os direitos dos povos indígenas e, às pressas, os parentes já plantaram, semearam, o corpo do cacique Merong aqui no território. Nós exigimos o cancelamento dessa liminar e que esse território seja reconhecido pela Justiça Federal como indígena. Frei Gilvander Luiz Moreira

No X, a deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), repudiou o pedido da Vale e a liminar concedida pela Justiça. A parlamentar ressaltou que já acionou o Ministério Público Federal, que entrou com embargo de declaração para que seja "reconhecido o direito legítimo de realizar o sepultamento de Merong conforme as nossas tradições".

Ao UOL, a Vale disse lamentar o falecimento do cacique e se solidarizar com seus familiares e a comunidade indígena. "A Vale respeita os povos indígenas e seus ritos de despedida e busca construir uma solução com a comunidade que preserve suas tradições, dentro da legalidade". A empresa disse considerar que a terra em disputa é privada.

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A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Merong Kamakã Mongoió. O cacique liderava indígenas que há mais de dois anos vivem em um terreno da Vale, em um movimento de retomada da aldeia.

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