Golpe requintado: 'Fizeram chamada de vídeo com meu rosto pra pedir R$ 600'

A advogada criminal Hanna Gomes, de 34 anos, e sua mãe, Karla Pinto, de 50, contam que escaparam por pouco de um golpe virtual.

O que aconteceu

Pouco depois de se despedir da filha, que foi para o trabalho, Karla recebeu uma chamada de vídeo supostamente de Hanna. O caso ocorreu no dia 17 de janeiro, em Brasília.

Na tela do celular, estava o rosto de Hanna. A voz também era da filha, pedindo R$ 600 emprestados. No entanto, segundo Hanna, ela nunca fez essa ligação.

Alguns elementos levaram Karla, que também é advogada, a desconfiar da situação: na chamada de vídeo, a filha usava uma blusa diferente da que havia saído de casa pouco tempo antes; a conta para a transferência do valor pedido era de uma amiga de Hanna, e não dela. Além disso, a filha não a chamou pelo apelido carinhoso que costuma usar.

A pessoa disse "mãe" e eu não a chamo assim desde pequena. Depois, ela (Karla) reparou que a voz que saía na ligação não estava sincronizada com os movimentos da boca. Mas, ainda assim, minha mãe achou que poderia ser uma conexão ruim de internet. Hanna

O criminoso pediu que o Pix fosse para a conta de uma amiga, mas a mãe sabia que Hanna não faria isso.

Para finalizar, minha mãe fez uma pergunta que certamente eu saberia a resposta: "Qual o nome dos meus cachorros e do vizinho da frente?".
Hanna

Após os questionamentos de Karla, os golpistas encerraram a ligação. A advogada acredita que tenha se livrado do crime pela experiência de sua profissão e por sempre desconfiar da tecnologia. Ao UOL, ela contou que tem cautela ao receber mensagens, especialmente pelo WhatsApp.

Quando alguém me envia uma mensagem, sempre solto, do nada, uma perguntinha capciosa, para levar o interlocutor ao erro e descobrir se estou sendo vítima de fraude. Não fiquei surpresa com a ligação de vídeo. Na verdade, estou esperando a próxima. Acho que vão fazer de novo e, dessa vez, estou preparada para o flagrante. Dessa vez, caso eu tivesse sido vítima, como provaria a ligação e a fraude, já que não consegui gravar?
Karla

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Hanna Gomes diz que teve vídeos manipulados para golpes
Hanna Gomes diz que teve vídeos manipulados para golpes Imagem: Arquivo pessoal

Golpistas podem ter usado redes sociais

Hanna suspeita que a ligação tenha sido feita após os criminosos usarem inteligência artificial para criar uma imagem parecida com a do rosto dela. Alguns programas podem simular a voz de uma pessoa, recriar o rosto e animá-lo com movimentos.

Hanna e Karla; mãe descobriu golpe após fazer perguntas específicas
Hanna e Karla; mãe descobriu golpe após fazer perguntas específicas Imagem: Arquivo pessoal

Eles podem ter usado aulas online que tenho nas redes sociais para criar essa deep fake, já que, além de advogada, também sou professora. Fiquei espantada com a novidade e a ousadia. Trabalho e estudo sobre vários tipos de golpes e fraudes, mas esse foi realmente um choque.
Hanna

A advogada criminal diz que vai continuar usando as plataformas, mas com mais cuidado e atenção.

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Não pretendo mudar minha relação com as redes sociais, pois acredito que sair delas ou me expor menos não resolverá o problema. Além disso, estar presente nas redes faz parte da minha profissão e da minha personalidade.
Hanna

"Agora, verifico os pagamentos e transações bancárias com mais atenção. Também passo a duvidar de vídeos e mensagens com rostos e vozes de políticos e celebridades, e procuro estudar e verificar mais as informações que recebo, pois tudo pode ser manipulado."

Sempre desconfie de tudo

Elas levaram o caso à Delegacia de Crimes Virtuais da Polícia Civil do Distrito Federal (DF), que investiga o ocorrido.

A advogada especialista em direito digital e inteligência artificial Bruna Zanini explica que esse tipo de golpe está cada vez mais comum. Segundo ela, os crimes podem ser tipificados como estelionato e organização criminosa —se coordenados em grupo.

Hoje é muito fácil simular um vídeo ou áudio, existem várias inteligências artificiais que facilitam esses mecanismos. Por um pequeno trecho de um vídeo original, é possível recriar uma nova fala, totalmente manipulada. Por isso sempre digo: desconfie de tudo o que encontrar na internet.
Bruna Zanini, advogada

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Para não ser uma próxima vítima, a especialista aconselha:

Crie uma senha, uma palavra única, que só a família saiba, para comprovar se é mesmo a pessoa que está falando quando receber uma chamada suspeita.

Em caso de pagamento, confira sempre a conta repassada para o Pix.

Fique atento à qualidade da ligação de vídeo. Detalhes como a falta de sincronia, imagens muito perfeitas (que não parecem reais) ou de qualidade muito ruim podem indicar um golpe.

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