Crise climática reforça divergência entre Haddad e Silveira
A discussão sobre crise climática gerada a partir da catástrofe ambiental no Rio Grande do Sul reforça a divergência de pensamentos entre o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e seu colega de Esplanada Alexandre Silveira (Minas e Energia). Desta vez, em um setor crucial para o desenvolvimento econômico: a matriz energética.
Durante entrevista na manhã desta quarta-feira (8), Haddad criticou a exploração de combustíveis fósseis ao tratar da desoneração da gasolina feita no fim da gestão Jair Bolsonaro. Disse que "nenhum país do mundo deixa de cobrar imposto de combustível fóssil" e defendeu o incentivo à energia limpa.
Em geral você incentiva energia eólica, solar, hidrogênio verde, biocombustível. O Brasil negacionista do tempo anterior foi o único do mundo que desonerou combustível fóssil. Essas coisas vão na contramão do que o país precisa para gerar um meio ambiente melhor. Se a gente quer evitar desastres climáticos, a gente tem que descarbonizar o planeta. O Brasil está numa vantagem enorme em relação a isso.
ministro Fernando Haddad, em 8/5
Cinco semanas antes, Silveira disse em entrevista à Folha que o país deve continuar a exploração de petróleo até alcançar os mesmos indicadores sociais de economias desenvolvidas — posicionamento que vai na direção oposta ao que Haddad defendeu ontem.
Em nenhum lugar do mundo podem afirmar em quanto tempo nós vamos poder abrir mão das fontes energéticas fósseis. (...) O petróleo é uma fonte energética importante para combater desigualdade.
ministro Alexandre Silveira, em 3/4
Lados opostos sobre Petrobras
As divergências entre Haddad e Silveira já tinham ficado expostas durante a crise que quase derrubou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, por causa da distribuição dos dividendos extraordinários da companhia —posição que havia sido assumida por Prates e era um dos motivos da crise entre ele e Silveira.
O ministro da Fazenda foi determinante para manter Prates no cargo, sob argumento de que não haveria motivos técnicos para sua demissão.
Também em entrevista à Folha no início de abril, Silveira reconheceu que havia um conflito entre seu papel e o do presidente da Petrobras. Além da questão sobre dividendos, eles se opõem justamente nas discussões sobre o fôlego da estatal para investimentos —inclusive em energia limpa.
E o presidente Lula?
O discurso de de Lula é paradoxal. Por um lado, o presidente vai na linha da idealização de uma nova matriz energética baseada em energia limpa. Por outro, Lula afirmou que o país aceitaria o convite de integrar a Opep+, grupo dos maiores exportadores de petróleo do mundo. Segundo ele, não haveria contradição com as políticas defendidas por seu governo de preservação ambiental e transição para uma energia verde.
Ambientalistas, no entanto, viram a posição com desconfiança, uma vez que o governo federal ainda não apresentou uma discussão nacional sobre o abandono gradual dos investimentos em combustíveis fósseis.
Além disso, a gestão Lula tem defendido a exploração de petróleo na foz do Amazonas, apesar de até o Ibama, órgão do próprio governo federal, ser contra a medida por causa do impacto ambiental. Em maio de 2023, o Ibama negou a licença para exploração da área.
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