Diretora da USP se desculpa por comparar greve de alunos ao Holocausto
Uma professora e diretora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em São Paulo, pediu desculpas após comparar a greve organizada por estudantes ao Holocausto. A associação foi considerada "infeliz e infundada" pelos alunos, que decidiram paralisar as atividades no último dia 7.
O que aconteceu
Professora reconheceu que escolha de palavras foi 'inadequada'. Em nota publicada no site da FMUSP, Eloisa Dutra Silva de Oliveira Bonfá disse que não teve a intenção de estabelecer uma comparação direta entre a greve estudantil e "eventos históricos de grande dor e sofrimento". "Reconheço a necessidade de esclarecer uma menção feita por mim em um recente encontro com alunos", afirmou.
Docente condenou, porém, o que chamou de 'desrespeito' e a 'agressividade'. "O objetivo de minha fala era refletir sobre a importância da memória e do respeito mútuo dentro de nosso ambiente acadêmico, enfatizando que comportamentos marcados por desrespeito e agressividade devem ficar registrados para que não mais se repitam dentro do ambiente acadêmico", completou Bonfá.
Acredito veementemente na capacidade de nossa comunidade de resolver conflitos por meio do diálogo aberto, da compreensão e do respeito pelas diferentes perspectivas. Comprometo-me a promover esses valores e a trabalhar incansavelmente para que nosso ambiente acadêmico seja um espaço de crescimento, aprendizado e respeito mútuo.
Eloisa Bonfá, professora e diretora da FMUSP
Declarações foram feitas durante reunião com os alunos grevistas. Segundo o Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC), que representa os estudantes de medicina da USP, a diretora comparou a "memória" da colagem de cartazes pelos movimentos de greve à memória do Holocausto — o genocídio de cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Centro Acadêmico repudiou as falas da professora: 'Injustiça'. "É crucial que a instituição se comprometa a promover um diálogo construtivo e respeitoso com os estudantes, buscando soluções para as questões levantadas e evitando comparações insensíveis e ofensivas no futuro", diz a nota divulgada pelo CAOC (veja no post abaixo).
O Holocausto foi um dos eventos mais sombrios e horríveis da história da humanidade, no qual milhões de pessoas foram sistematicamente perseguidas, torturadas e assassinadas pelo regime nazista. A colocação da comparação entre esse evento histórico e a situação atual da greve estudantil na FMUSP reflete uma injustiça e desrespeito com a memória de tal evento.
Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC), em nota
Greve na FMUSP
Os alunos de medicina da USP decidiram paralisar as atividades no último dia 7. O movimento foi discutido em assembleia, e a greve foi aprovada por mais de 300 votos, segundo o CAOC.
Os estudantes protestam contra:
- As ameaças de rescisão do termo de permissão de uso do Porão, espaço de convivência "histórico e simbólico" para os estudantes;
- O fim do subsídio alimentar para os alunos;
- A privatização do ensino público e o programa "Experiência HC", no qual alunos de outras instituições pagam para ter acesso ao complexo do Hospital das Clínicas;
- O atual modelo da prova de residência, sem prova prática. Para os alunos, o sistema resume a aprovação a uma "preparação teórica, sustentada por 'cursinhos' de residência".
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