Frio e fome: 'Fui procurar abacate, caí em cisterna e fiquei preso 4 dias'

Djalma Jesus Nascimento, 43, é considerado um verdadeiro milagre pelos médicos que o atenderam. Enquanto procurava por abacates próximo à chácara onde mora, no Distrito Federal, ele caiu em uma cisterna com cinco metros de profundidade. Surpreendentemente, após mais de 100 horas, ele foi resgatado pelo sobrinho, sem sofrer nem sequer um arranhão.

O acidente aconteceu na segunda-feira (11), por volta de 10h e Djalma foi socorrido na sexta-feira (15), por volta das 17h. A cisterna fica a 2,5 km de distância da chácara, localizada na Ponte Alta do Gama, área rural e de difícil acesso. O buraco estava coberto de folhas e galhos de árvores.

"Desespero bateu quando vi a profundidade"

Eu não vi a cisterna. Quando pisei, só senti o mato descer e caí no buraco. Em nenhum momento desmaiei e fiquei fora de mim, mas o desespero bateu quando eu percebi a profundidade.

O local onde Djalma caiu fica localizado em uma região de mata e distante de outras casas. O lavrador conta que pediu socorro por dois dias. No entanto, percebeu que ninguém o ouviria e decidiu poupar energias para continuar vivo, já que estava sem se alimentar.

A minha sorte foi a água que estava dentro da cisterna. O local tinha muita água mesmo, já que havia chovido nos dias anteriores. Eu passava o dia rezando muito e bebendo dessa água. Mentalizava o tempo inteiro que não era minha hora de partir e que alguém iria aparecer para me resgatar. Foi quando ouvi de Deus, no terceiro dia, que eu sairia daquela situação terrível vivo.

Resgate

Djalma é pai de uma bebê recém-nascida, mas mora sozinho. A família só foi perceber o desaparecimento na quarta-feira à noite, após o lavrador não responder às mensagens no celular.

As mensagens só chegavam, mas ele não visualizava. Então, meu irmão foi até a chácara onde ele mora e encontrou o portão trancado. Meu irmão chamou, gritou, mas ninguém respondeu e ele foi embora. Porém, eu fiquei com aquilo na minha mente, agoniado, não conseguia dormir, sabe? Então, liguei para um amigo do meu tio (Djalma) que mora perto da casa dele para saber se tinham notícias. O amigo disse que também estava preocupado e decidiu ir até a chácara. Lá, ele encontrou a chave na porta, entrou e viu tudo ligado. O celular carregando, as luzes acesas e eu já imaginei que algo tinha acontecido, relata o sobrinho de Djama, Márcio Lima Nascimento, que trabalha como produtor rural.

Márcio Lima conta que foi até o local na quinta-feira (14). Ele e vizinhos vasculharam o terreno e um bananal que fica próximo à chácara, mas não encontraram nada. Então, o sobrinho do lavrador decidiu publicar fotos de Djalma em grupos de redes sociais informando que o tio estava desaparecido.

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Uma dessas pessoas que estava no grupo me ligou na sexta-feira (15) e disse que ouviu uma voz no meio da mata, uma voz pedindo socorro. Corremos para esse local e ouvimos uma voz bem baixinha de socorro e começamos a gritar e revirar cada centímetro daquela mata. Até que gritei pelo nome dele e ele falou: 'Eu estou aqui, socorro'. Bem do nosso lado, parecia ser Deus mesmo, sabe? Não tínhamos nenhum material de resgate, nem sequer uma corda, nada para tirar ele. Então, cortamos um pau, uma madeira bem grande e aí perguntamos se ele tinha força, se aguentava segurar pra gente puxar e ele confirmou, relata o sobrinho.

O produtor rural conta que foram momentos de desespero, já que ele e o amigo não sabiam se Djama teria forças para segurar a madeira.

Inacreditavelmente ele conseguiu e o tiramos daquele buraco de cinco metros. Só conseguimos agradecer a Deus, porque foi um grande livramento, né? Já estávamos esperando encontrar ele morto. E ele tá aí, são e salvo. Não tem um arranhão. É um milagre, diz Márcio Lima.

Após o resgate, Djalma conta que foi encaminhado para o hospital da cidade para fazer exames. Ele conta que os médicos consideraram o caso um milagre.

Perdi peso, mas não quebrei nenhum osso. Nem sequer tive um arranhão. Passei dias sofrendo, sentia muito frio e muita fome, mas nunca pensei que iria morrer. Tinha convicção que iria sair e contar essa história. Não quero que o trauma abale minha vida, então já estou trabalhando, vou morar com meu irmão e ter muito cuidado por onde piso agora, né?

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