Capitais têm quase 4 vezes mais médicos por habitante do que interior
O Brasil tem 7 médicos para cada mil habitantes nas capitais — contra menos de 2 para cada mil habitantes nas cidades do interior. O dado é da pesquisa Demografia Médica 2024, divulgada nesta segunda (8) pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), que revela um 'boom' de novos profissionais e vê com preocupação a desigualdade demográfica na distribuição dos agentes pelo país.
O que aconteceu
Segundo dados de 2024 do CFM, o Brasil tem 575.930 médicos. Do total de registros médicos, 330.278 trabalham nas capitais, que reúnem menos de um quarto da população do país. Já o interior, que abriga 77% da população, tem 299.789 registros médicos, menos que nas capitais.
(nota da edição: a diferença entre o número total de médicos e o de registros se dá pelo fato de que alguns profissionais têm inscrições secundárias ou pendentes de atualização).
Os números mostram disparidade entre grandes e pequenos municípios. A cada dez médicos, quase seis estão em cidades com mais de 500 mil habitantes. Já os municípios com menos de 100 mil habitantes contam, juntos, com menos de 15% dos profissionais em atividade no país.
A taxa de médicos por habitante é 12 vezes maior em grandes centros urbanos do que nas menores cidades. Em municípios com mais de 500 mil moradores, a proporção é de 6,12 profissionais para cada mil habitantes. Já em cidades com até 5 mil pessoas, há 0,48 médico por grupo de mil habitantes.
O estudo do CFM vê um "um cenário de profunda desigualdade na demografia médica". Para o Conselho, os locais longe dos grandes centros urbanos ainda "enfrentam desafios consideráveis para reter e atrair" os profissionais.
É notável que a concentração de médicos é significativamente maior em áreas que se destacam como grandes centros econômicos, aglomerações populacionais e locais onde se agrupam instituições de ensino superior e uma vasta gama de serviços de saúde, criando assim, uma maior oferta de oportunidades aos profissionais
Trecho da pesquisa Demografia Médica 2024
Em 10 anos, número de escolas médicas quase dobrou
O Brasil tem 389 instituições do tipo, segundo o levantamento. Em 2014, eram 190.
Quantidade cresceu cinco vezes desde 1990. Naquele ano, o Brasil contava com 78 escolas médicas.
Cenário favorece 'boom' de médicos. Em 1990, o Brasil contava com cerca de 130 mil profissionais na área — número quatro vezes menor do que o atual. Só em 2023, mais de 35 mil novos médicos começaram a trabalhar no país e pouco mais de 500 deixaram a profissão.
Aumento foi maior do que o verificado na população como um todo. Enquanto a quantidade de brasileiros cresceu 42% no período, o número de médicos registrou crescimento de 339%.
CFM vê aumento com preocupação. Para o Conselho, não basta ter um crescimento no número de profissionais se a desigualdade na distribuição territorial também aumenta. Para Donizetti Giamberardino, conselheiro federal e supervisor do censo, a explosão de novas escolas atende a "interesses políticos e motivação mercantil".
Nos últimos anos, houve um grande acréscimo do número de médicos formados. Isso resolve o problema de assistência à saúde no Brasil? Não. Isso só resolve se nós tivermos uma boa distribuição. Ao formarmos mais médicos, estamos concentrando-os mais em capitais e centros urbanos e não conseguimos ainda fixá-los nas cidades de difícil provimento. Há necessidade de uma política de interiorização e fixação desses profissionais.
Donizetti Giamberardino, conselheiro federal e supervisor da Demografia Médica CFM 2024
Médicas já são mais frequentes que médicos em algumas faixas etárias. Entre profissionais com 39 anos ou menos, elas somam 58% — contra 42% deles. Desde 2009, mais mulheres do que homens se formam na profissão no Brasil.
Número de médicos por habitante cresce
País tem hoje 2,8 médicos para cada 1000 habitantes. O número é maior do que aqueles verificados em 2021 em países como Estados Unidos e Japão. Em 1990, havia menos de um médico para cada 1000 habitantes no Brasil.
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Quero receberA expectativa do CFM é que o Brasil tenha 3,63 médicos por mil habitantes até 2028. Se alcançar a marca, o país superará a densidade médica média registrada na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento), entidade que reúne os países considerados desenvolvidos.
Política diferente de outros países colabora para expansão. No Brasil, não há limitações para a abertura de novas faculdades de medicina. Já países europeus preferem, por exemplo, restringir a admissão de estudantes nas escolas médicas.
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