Josmar Jozino

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Reportagem

Peritos só podem analisar até 150 kg de drogas em SP; excedente é devolvido

Por falta de segurança, peritos do IC (Instituto de Criminalística), órgão subordinado à Superintendência de Polícia Técnico-Científica, só podem receber para análise o limite de 150 kg de drogas em São Paulo à noite. O excedente é devolvido aos responsáveis pelas apreensões.

A informação consta em um boletim de ocorrência com a tipificação de flagrante de tráfico de drogas. O documento foi lavrado à 0h31 de anteontem pelo delegado Fernando César de Souza, no plantão do 37º Distrito (Campo Limpo).

A equipe de investigadores havia prendido Douglas Soares Câmara, 37, em uma casa no Jardim Rosana, zona sul de São Paulo. No ímóvel, foram apreendidos, além de porções de maconha, 27 sacos com substâncias de pó branco.

Os policiais civis levaram o material para o IC. Os peritos argumentaram aos agentes que, por razões de segurança, no período noturno, o IC estabeleceu o limite de 150 kg de substâncias para exame pericial de constatação; o restante do material não seria objeto da análise, legalmente requisitada.

Os peritos do Instituto de Criminalística comunicaram ainda aos investigadores do 37º Distrito Policial que a quantidade excedente deveria ser encaminhada para posterior análise, mediante agendamento a critério da Polícia Científica.

Boletim de ocorrência informa que  IC (Instituto de Criminalística) só pode receber até 150 kg de drogas para análise no período noturno; excedente é devolvido aos responsáveis pelas apreensões
Boletim de ocorrência informa que IC (Instituto de Criminalística) só pode receber até 150 kg de drogas para análise no período noturno; excedente é devolvido aos responsáveis pelas apreensões Imagem: Reprodução

"Argumento arbitrário", diz delegado

O delegado mencionou no boletim de ocorrência que os argumentos do IC "não se justificam juridicamente, tampouco administrativamente, em qualquer norma legal ou supra legal, sendo mera discricionariedade, injustificada, irregular e arbitrária dos peritos da Polícia Científica, de plantão quanto dos fatos".

Segundo o delegado, a decisão adotada pelo IC "inevitavelmente prejudica sobremaneira a devida cadeia de custódia [provas materiais] já que "grande parte do material cuja perícia foi devidamente requisitada, retornou sem análise e sem pesagem".

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Uma perita analisou parte do material e apreendido e constatou a presença de tetrahidrocannabidiol (THC), cafeína e lidocaína. O delegado observou no B.O. que "a quantidade de substâncias auferidas em mais de 160 kg entre drogas e insumos é suficiente para indicar a traficância em grande escala.

Os policiais civis afirmaram que chegaram ao endereço de Douglas Soares Câmara ao investigar denúncias de possível tráfico de drogas no local dos fatos. O suspeito foi abordado na frente da casa dele e foi visto, segundo os agentes, entrando e saindo do imóvel carregando caixas e sacos.

Douglas Soares Câmara, preso sob suspeita de tráfico de drogas
Douglas Soares Câmara, preso sob suspeita de tráfico de drogas Imagem: Reprodução

Ainda segundo a versão policial, Douglas confessou que armazenava em casa substâncias para preparo das drogas. Os investigadores disseram que o preso não revelou quem era o empregador e suposto proprietário das substâncias apreendidas, que seriam insumos para misturar com cocaína.

Procurada, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), disse que a medida "é feita para dar transparência, segurança e agilidade aos exames".

A reportagem tenta contato com os advogados de Douglas. O espaço segue aberto para manifestações da defesa.

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Leia a nota da SSP na íntegra

A Secretaria de Segurança Pública esclarece que há um protocolo acordado entre o IC e a Polícia Civil, com anuência do Ministério Público, para grandes apreensões de entorpecentes ocorridas no período noturno e finais de semana. Nesse protocolo é feita a constatação provisória até 150 kg de entorpecentes. O restante é armazenado pela Polícia Civil para análise posterior. A medida é feita para dar transparência, segurança e agilidade aos exames, uma vez que o laboratório do IC atende todas as delegacias da capital.

Reportagem

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