Como promotores reconstituem a ligação entre PCC e empresas de ônibus

A Operação Fim da Linha contra empresas de ônibus de São Paulo suspeitas de ligação com PCC apresentou novos capítulos na terça-feira (9). Até o momento, seis pessoas foram presas. Entenda como os promotores reconstituem a ligação entre a facção criminosa e o setor.

O que aconteceu

Em abril de 2000, Antônio José Muller Júnior, integrante da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) e conhecido como "Granada", foi resgatado da Penitenciária de Hortolândia, no interior de São Paulo.

Dois anos após o resgate, ele usou documento falso em nome de Agnaldo de Souza Ferreira e assumiu o cargo de diretor da Transmetro, cooperativa de transporte coletivo municipal e intermunicipal sediada em Diadema, segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo.

As investigações do MP-SP apontaram que Granada tornou-se o líder da máfia dos perueiros e passou a cobrar uma "taxa de manutenção" no valor de R$ 15 mil de cada condutor que quisesse fazer parte da cooperativa. Ele ficava com R$ 2 mil de cada motorista.

Quem não pagasse o valor e não respeitasse as determinações era ameaçado de morte. O integrante do PCC é investigado pelo desaparecimento de três perueiros, de acordo com MP-SP. A defesa negou a participação dele nos crimes investigados.

A prisão aconteceu em maio de 2003, em uma chácara de Paulínia, acusado de usar a cooperativa para lavar dinheiro do PCC. Mesmo preso na Penitenciária de Araraquara, Granada ainda era apontado como o comandante da máfia dos perueiros.

Ele também é citado como chefe da célula conhecida como "sintonia dos gravatas", o braço jurídico do PCC. Em janeiro de 2019, Granada foi condenado a 30 anos de prisão por associação à organização criminosa.

Preso na Operação Fim da Linha desta terça, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como "Pandora", dono da Transwolff, atua no setor de transportes desde a década de 1990, com o aparecimento dos perueiros clandestinos na capital.

Pandora já havia sido preso por suspeita de financiar com dinheiro da Cooper Pan, uma das principais cooperativas de transportes alternativos de São Paulo, a tentativa de resgate de um preso ligado ao PCC, em março de 2006. A defesa negou que ele tenha sido mandante ou financiador do resgate à época.

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Pandora revelou em depoimento à Polícia Civil que após a prisão de Granada, a Transmetro foi extinta, mas todos os perueiros da empresa, além dos que mantinham ligações com o PCC, tiveram de ser incluídos na garagem 2 da Cooper Pan. Na ocasião, ele era o presidente da cooperativa.

 Antônio José Muller Júnior, o Granada, integrante da cúpula do PCC
Antônio José Muller Júnior, o Granada, integrante da cúpula do PCC Imagem: Reprodução

As cooperativas de transporte surgiram por meio dos perueiros clandestinos e foram legalizadas na capital, através de licitações públicas, entres os anos de 2002 e 2003 na gestão da prefeita Marta Suplicy (PT). Em 2013 e 2014, na administração de Fernando Haddad (PT), as empresas passaram a ser S/A (Sociedade Anônima) também por processo licitatório.

Morte em Diadema

Em 2006, Pandora ficou preso por 10 dias. A Polícia Civil, na sequência, pediu a prisão de oito pessoas, mas a Justiça negou.

A lista constava os nomes de Granada; José Antônio Guerino; um ex-secretário municipal de Transportes da capital e o diretor da garagem 2 da Cooper Pan.

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Guerino foi assassinado em maio de 2021 com tiros de fuzil em um bar. Ele tinha 47 anos e era diretor da A-2 Transportes, empresa de ônibus da zona sul, e sócio da Cooperativa Líder, de Diadema. A PM afirmou, na ocasião, que Guerino tinha envolvimento com o PCC.

Segundo a SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), o inquérito que investigava o assassinato foi relatado sem chegar aos autores do crime.

Operação Fim da Linha

O MP mira empresas de ônibus de São Paulo suspeitas de ligação com a facção criminosa PCC. A ação investiga empresários da UPBUs e Transwolff.

Segundo o MP, as "organizações criminosas" lavam dinheiro do tráfico de drogas, roubos e outros ilícitos.

Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, dono da Transwolff, e Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff, foram presos. O primeiro foi detido em casa, enquanto o segundo estava na garagem da empresa.

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A Transwolff atua na zona sul. Segundo o Ministério Público, a empresa tem 1.111 veículos rodando na cidade e transporta, em média, 613.000 passageiros ou 15,07 milhões por mês.

A UPBUs administra linhas de ônibus na zona leste. São 138 ônibus na cidade, com média diária de passageiros de 67.800 e mensal de 1,68 milhão.

Acionistas da UPBUs pertencem ao alto escalão do PCC, segundo a polícia. A coluna de Josmar Jozino também mostrou em 2022 que o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes) apurou que entre eles está Décio Gouveia Luz, o Décio Português, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola. Este último, de acordo com relato de policiais civis, é dono de 56 ônibus da empresa e está foragido.

Foram quatro mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão. A Justiça determinou bloqueio de mais de R$ 600 milhões em patrimônio. Em um dos imóveis, os agentes encontraram armas, dinheiro e joias.

A Receita Federal identificou a utilização de diversos esquemas tributários para lavagem de dinheiro do crime organizado. Mesmo em anos em que registravam prejuízos, as empresas alvo da operação distribuíam ganhos milionários a seus sócios, segundo a Receita.

*Com informações de reportagem publicada em 29/06/2022

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