Laudo diz não ser possível concluir se idoso estava morto ao chegar a banco

O laudo de exame de necropsia de Paulo Roberto Braga, 68, idoso que aparece morto em um vídeo dentro de uma agência bancária em Bangu, na zona oeste do Rio, não confirmou se ele morreu antes de chegar ao banco ou no local. O motorista de aplicativo que levou Paulo e a mulher que o acompanhava disse ele estava vivo durante o trajeto.

O que aconteceu

O laudo afirma não haver "elementos seguros" para afirmar que ele faleceu no "trajeto, no interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver à agência bancária." O UOL teve acesso ao documento.

O documento diz ainda que o homem pode ter morrido até sete horas antes da gravação do vídeo na última terça-feira (16). O socorrista do Samu foi acionado às 15h, e ao chegar já encontrou o corpo com livores de hipóstase — mudança de coloração que surge na pele de cadáveres.

A perícia diz que foram identificados no idoso sinais de bronco aspiração, congestão pulmonar e falência cardíaca por doença isquêmica prévia. A conclusão depende do resultado de exames toxicológicos. Paulo foi levado ao banco por Érika de Souza Vieira Nunes, 43, presa em flagrante por suspeita de levar o idoso já morto ao local.

O perito também teve acesso ao prontuário médico da UPA de Bangu onde o paciente esteve internado entre 8 e 15 de abril. Seu diagnóstico um dia antes de morrer era de "pneumonia não especificada", dependente de oxigênio. No prontuário, consta que, no dia da alta, o paciente estava taquicárdico, com "frequência cardíaca de 97 batimentos por minuto, saturação de oxigênio no sangue periférico de 95%, com dificuldade para deglutir e disártrico, com dificuldade na fala".

O que diz o laudo

De forma indireta, o perito não se opõe que o óbito tenha ocorrido entre 11h30h e 14h30h do dia 16/04/2024. Dessa forma, o perito não tem elementos seguros para afirmar, do ponto de vista técnico e científico, se o sr. Paulo Roberto Braga faleceu no trajeto ou interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver à agência bancária.

O exame demonstra cadáver de um homem previamente doente com necessidades de cuidados especiais, com morte por broncoaspiração do conteúdo estomacal e falência cardíaca. Aguardo exames toxicológicos para determinar se houve fator externo contribuindo para a morte com drogas.

Tais dados corroboram o achado necroscópico de desnutrição e broncoaspiração. A cardiopatia prévia encontrada também favoreceu a morte.

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Entenda o caso

Erika de Souza Vieira Nunes, que se apresentou como sobrinha e cuidadora de Paulo, foi filmada pelas funcionárias do banco, que desconfiaram da situação. "Tio Paulo, está ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como", diz Erika, no vídeo. "Eu não posso assinar pelo senhor, tem que ser o senhor. O que eu posso fazer, eu faço", acrescenta. Ela pergunta às funcionárias do banco se elas viram o idoso segurar a porta, para mostrar que ele pode assinar o documento. "Não vi", respondem.

Uma das funcionárias diz que o homem não está bem, e a suposta sobrinha nega. "Mas ele é assim mesmo". A mulher, então, pergunta se ele quer ser levado a uma unidade de saúde: "Se o senhor não ficar bem, vou te levar pro hospital. O senhor quer ir pra UPA [Unidade de Pronto Atendimento] de novo?", diz, no vídeo.

Em seguida, as funcionárias acionaram o Samu, que constatou a morte do idoso. O caso está sendo investigado pelo 34ª DP, que também ouviu o motorista do Uber que levou os dois até a agência bancária.

O motorista afirmou que Paulo estava vivo no trajeto e que "chegou a segurar na porta do carro". A polícia também colheu depoimento de um rapaz que teria ajudado Erika a colocar o idoso no veículo. Ele confirmou que o homem estava vivo.

A mulher chegou até a agência com o idoso em uma cadeira de rodas. No vídeo gravado por funcionárias, o homem está inerte, de boca aberta e sem qualquer firmeza nos braços e na cabeça.

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A defesa de Erika afirmou que o homem estava vivo quando foi levado ao banco. Ela tentou sacar um empréstimo de R$ 17 mil e disse em depoimento que estava atendendo ao pedido do tio, que queria comprar uma televisão nova e fazer uma reforma em casa.

Ela vai responder por tentativa de furto mediante fraude e por vilipêndio — ato de fazer com que alguém se sinta humilhado, menosprezado ou ofendido. Isso pode acontecer por meio de palavras, gestos ou ações. No vilipêndio a cadáver, o crime é desrespeitar o corpo ou as cinzas de um cadáver.

Assim que vi o vídeo, de imediato vi que não tinha como a pessoa não saber que aquele idoso na cadeira de rodas estava morto. Ouvimos a gerente do banco e a mulher que estava com o idoso. Ela disse que ele estava vivo no caminho, quando chegou na agência bancária, e que ela tinha ido sacar o dinheiro a pedido do idoso.
Fábio Luiz da Silva Souza, delegado responsável pela investigação

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