Ele narra a rotina de 'marido' de presa: 'Nunca vi um rapaz nas visitas'

Lucas Leal, 20, conheceu Ester Torres pelo Instagram há pouco mais de dois anos, quando a jovem de 24 anos estava em liberdade condicional. Desde que foi condenada, duas infrações fizeram Ester voltar para a prisão em Santa Catarina, a última delas em março, quando ela e Lucas já moravam juntos.

O jovem, então, virou "marido de presa" e passou a registrar sua rotina no TikTok, onde relata a saudade que sente —mas evita comentar sobre o passado da companheira, que ainda não pode falar por si.

O primeiro 'cunhado'

Nas redes, ele se define como o "Chablau da Barbie", trocando os nomes pelos apelidos dele e da mulher, que ostenta longos cabelos loiros.

O rapaz ainda brinca que é "o primeiro cunhado", fazendo referência às "cunhadas" —mulheres de preso que se definem assim por todos serem irmãos dentro da prisão.

Lucas, que hoje ganha a vida como influenciador, conta que é uma figura solitária durante as visitas, que costumam incluir mães e até alguns pais, mas raramente os namorados e maridos.

Lucas e Ester estão juntos há dois anos
Lucas e Ester estão juntos há dois anos Imagem: Arquivo Pessoal

Durante toda essa vida em que eu fui (às visitas), nunca vi um rapaz, só pai. Mas eu não abandono ela não, porque a amo muito e sei que ela nunca me abandonou, dou a minha vida por ela.
Lucas Leal

Ele faz três visitas ao mês para a companheira e gasta cerca de R$ 500 nos itens que ela precisa para se manter. Nas redes, faz vídeos rebatendo comentários comuns sobre sua idade e a jornada apoiando uma mulher detida, como "já já ele abandona ela" ou "ele é muito novo, não aguenta todo esse tempo de cadeia".

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Lucas não quis comentar se existe uma previsão para a saída de Ester, mas diz sonhar com a volta à rotina antiga.

"A gente vivia junto, morava junto, e a gente se apega, né? É muito triste ver alguém que a gente ama nessa situação, se eu pudesse ficar no lugar dela eu ficaria. Meu maior sonho é que ela tenha liberdade para sempre. Viver em paz e ter uma filha."

Violações na tornozeleira

Lucas conta que Ester foi parar na cadeia após algumas violações nas regras de uso da tornozeleira. "Ela estava comigo na rua, em liberdade, era para ter tirado a tornozeleira em 6 de março e ela fez o pedido. Mas a juíza decidiu regredir o regime dela por causa de algumas violações na tornozeleira", explicou Lucas.

Cada tornozeleira tem regras diferentes, de acordo com a pena de quem usa. Alguns detentos não podem sair de casa, outros podem circular apenas por "áreas de inclusão" previamente definidas, outros podem ir ao trabalho e voltar até um determinado horário.

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Se alguém vai até onde não poderia ou sai de casa fora do horário permitido, isso é registrado pela central de monitoramento e pode gerar punições, como a perda da liberdade condicional.

O universo das 'cunhadas'

Muito mais comum do que maridos como Lucas é ver esposas de presos relatando suas rotinas nas redes sociais.

Nos últimos anos, várias mulheres ganharam fama nas redes sociais contando como é ser mulher de preso, as dificuldades, a saudade, e até fazendo piada com a própria vida.

Elas usam a hashtag #mulherdepreso e fazem parte de uma comunidade online com mulheres na mesma situação. O resultado são milhões de visualizações, likes e seguidores —e algumas ofensas.

"Muita gente aparece julgando os vídeos, dizendo, por exemplo, quando postamos os alimentos que enviamos, que um trabalhador não é tão bem tratado quanto um preso, muita coisa negativa", disse uma das "cunhadas", em reportagem de Universa.

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