'Fiquei desnorteado': surfista tem hipotermia após salvar animais no RS

O surfista Noa Danucalov, 19, resolveu ir de Santos (SP), onde mora, até Porto Alegre (RS), para ajudar com o resgate de animais. Ao lado de um amigo, conseguiram reunir um grupo de dez pessoas e seguir de carro até a capital gaúcha, em uma viagem que levou 25 horas.

Perto de completar sete dias de resgate, a maioria dentro da água, o jovem começou a ter sintomas de hipotermia, uma doença grave causada pela redução da temperatura do corpo.

Ele estava com roupas que surfistas usam na água, que ajudam a proteger do frio, além de botas de borracha. "A roupa até protege, mas era tão frio que nem ela foi capaz de ajudar", conta.

Fiquei desnorteado, minha memória falhava. Tremia de frio e não conseguia nem falar. Parecia que eu estava realmente morrendo.

Noa teve hipotermia depois de sete dias de resgate
Noa teve hipotermia depois de sete dias de resgate Imagem: Arquivo pessoal

Os sintomas da hipotermia envolvem sensação de frio, alteração de comportamento e confusão mental, cansaço extremo e tremores (casos graves).

"Amigos me levaram correndo ao hospital"

Em cerca de 20 minutos, socorrido de carro pelos amigos, Noa foi atendido em um hospital de Porto Alegre, onde foi internado para receber soro, tomar medicamentos e fazer exames —para descartar a presença de bactérias.

Foi quando percebi que era hora de parar. Estava no meu limite. Não via ninguém querendo entrar em locais que eu conseguia entrar. Queria bancar o super-herói, mas chegou uma hora que não dava mais.

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A médica que o atendeu comentou que o estrago poderia ter sido pior caso o tempo de resgate tivesse sido maior. Noa passou sete dias entre as cidades mais afetadas do Rio Grande do Sul, como Eldorado do Sul e Canoas, e voltou nesta terça-feira (14) para São Paulo.

Quando você resgata um cachorro, por exemplo, e olha para ele, você sente que precisa fazer mais. É uma cobrança insana na cabeça.

Noa com cachorro resgatado
Noa com cachorro resgatado Imagem: Arquivo pessoal

"Vi muito cadáver de animal. É cenário de guerra"

O grupo em que Noa participou começou pela cidade de Eldorado do Sul. Eles tinham diversos equipamentos para ajudar nas buscas, como os próprios barcos, coletes salva-vidas e roupas específicas para nado.

Na primeira passagem por lá, vi muito cadáver de animal morto. Muito mesmo. É um cenário de guerra, com todos os riscos envolvidos.

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Muitas vezes, o surfista conta que nem os bombeiros queriam fazer o resgate pelo risco envolvido. Mas como pesa cerca de 60 kg, Noa conseguia subir em telhados e passar por lugares mais estreitos para salvar os animais, mesmo sabendo do risco envolvido.

"No primeiro dia, resgatamos mais de 25 bichos, incluindo cachorros, gatos, galinhas, patos, papagaios", lembra.

Em um dos resgates, Noa precisou entrar totalmente na água, que não dava pé para ele, enquanto segurava um cachorro assustado.

Estava muito quente ainda e o cachorro estava em uma laje, quase morrendo. Ele me 'afundava' um pouco e, depois, eu subia para respirar. As pessoas foram ajudando de cima de um muro e deu certo.

Amigos se reuniram para fazer resgate de animais no Rs; eles saíram de São Paulo
Amigos se reuniram para fazer resgate de animais no Rs; eles saíram de São Paulo Imagem: Arquivo pessoal

O surfista conta que, no final de cada resgate, não era tanto o cansaço físico que pesava, mas a parte mental.

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Toda vez que conseguíamos salvar um cachorro, era um cadáver de um bicho que ficava ao lado. Era muito forte. Tive um esgotamento mental.

"Convencemos pessoas a deixarem suas casas"

Ao chegar na cidade de Canoas, Noa precisou convencer idosos com animais a deixarem suas casas, devido ao risco de a água subir ainda mais.

Estava chovendo e fazia muito frio, além de um vento forte. Lembro que era sensação de 8ºC, então conversamos com as pessoas, explicando que a água ia subir e que eles teriam apoio nos abrigos. conseguimos trazer os idosos com os animais deles.

O surfista lembra ainda do apoio recebido perto dos locais onde as pessoas saíam de barco para realizar resgates.

Tinha muita gente fazendo comidas e oferecendo atendimento médico para cuidar das pessoas que entravam na água. Se não fosse por esse grupo, eu não teria tomado remédios para evitar leptospirose, por exemplo. Meu pé tinha bolhas e estava em carne viva, o que era ainda mais perigoso.

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Noa conta que o grupo conseguiu resgatar cerca de 100 bichos. Uma parte precisou voltar para São Paulo e outra parte continuou por lá. Muita gente nova também apareceu para participar dos resgates.

Alguns deixaram seus equipamentos por lá para ajudar, porque sabemos que a situação não vai se resolver tão cedo.

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