MP do RJ indica que advogada sequestrada tinha relacionamento com suspeito
A denúncia enviada pelo Ministério Público à Justiça sobre o caso da advogada sequestrada em Petrópolis, região serrana do Rio, indica que Anic Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, tinha um relacionamento amoroso com Lourival Correa Netto Fadiga, preso por suspeita de ser o mandante do crime.
O que aconteceu
Segundo o relatório das investigações a que o UOL teve acesso, Anic foi sequestrada após ser atraída por Lourival. Ela se dirigiu ao Shopping Pátio Petrópolis, no dia 29 de fevereiro de 2024 e chegou a deixar o carro com as chaves no estacionamento para, em seguida, entrar no carro dele. Imagens de câmeras de segurança mostram que a vítima andou pela calçada assim que saiu do shopping e desde então, não foi mais vista.
Mesmo após o pagamento do resgate de R$ 4,6 milhões, a advogada segue desaparecida. A polícia acredita que ela tenha sido assassinada e teve seu cadáver ocultado.
Entenda o caso
Anic é casada com o professor Benjamin Cordeiro Herdy, 78, há 20 anos e têm em comum uma filha. Além disso, ela também é mãe de mais um menino, enquanto ele tem outros quatro filhos. A fortuna de Benjamin veio da fundação e da venda de um grupo educacional pelo seu pai, José de Souza Herdy, fundador do complexo educacional que deu origem à universidade Unigranrio, no Rio de Janeiro.
Lourival Correa Netto Fadiga, conhecido como "Fatica" ou "Gordo" , era funcionário do marido de Anic e se passava por policial federal. Ele se aproximou da família há aproximadamente 3 anos e ganhou a confiança de todos, principalmente de Benjamin.
As investigações mostram que Lourival era "detentor de uma personalidade galanteadora". Ele possuía relacionamento amoroso com várias mulheres, entre elas Anic, tendo se aproveitado desta circunstância para atraí-la até a Rua Teresa, quando, então, a sequestrou e passou a exigir do marido o preço do resgate.
Suspeito recebeu todo o dinheiro do resgate. O documento afirma que após a análise dos áudios e mensagens de texto extraídas dos aparelhos telefônicos e dispositivos de informática, bem como dos depoimentos das testemunhas, todo o dinheiro do resgate foi direcionado para Lourival, já que ele manipulou Benjamin, que confiava cegamente no falso policial a ponto de não procurar a delegacia para relatar o desaparecimento da mulher. A denúncia só foi feita em 14 de março pela filha do casal, duas semanas após o crime.
Segundo os autos, foram realizadas 40 transferências bancárias por Benjamin, totalizando R$ 3.390.066,85, para compra de dólares. Além disso, ele também sacou o valor de R$ 680 mil reais em espécie, pagando o restante do resgate em bitcoins. Ainda sem desconfiar de que estava sendo enganado por Lourival, Benjamin entregou os dólares e o dinheiro sacado a Lourival.
Supostamente, a ideia era que Lourival encontrasse os sequestradores e fizesse o pagamento do resgate, tudo sob o pretexto de que estaria ajudando o amigo. No dia 11 de março, data marcada para pagamento do resgate e liberação da mulher, o denunciado Lourival, de posse do dinheiro e após despistar Benjamin, disse que iria à comunidade do Terreirão, na zona oeste do Rio de Janeiro, para encontrar os sequestradores. Entretanto, ele foi a uma concessionária para comprar um veículo avaliado em meio milhão, em nome da filha dele, Maria Luiza Vieira Fadiga.
Após o pagamento do resgate em reais, dólares e bitcoins, Anic não foi liberada pelos sequestradores. Benjamin teria recebido outra mensagem, supostamente escrita e enviada pela esposa, no sentido de que não se tratava de um sequestro, sendo certo que toda artimanha teria sido engendrada por ela para fugir em companhia do amante, segundo a mensagem, um policial civil.
Delegada diz que não há indícios de que a advogada tenha forjado o próprio sequestro. Procurada pela reportagem, a delegada Cristiana Bento, titular da 105ª DP e responsável pela investigação, não quis comentar o caso, mas afirmou que a hipótese de que Anic tenha forjado o sequestro "não ficou comprovado nos autos". "Não podemos afirmar", disse.
Para realizar o crime, Lourival teria contado com a ajuda de filhos e da companheira, segundo as investigações. Dezenas de ligações entre os suspeitos foram identificadas no dia do crime. Todos foram denunciados pelo Ministério Público: os filhos Maria Luiza Vieira Fadiga e Henrique Vieira Fadiga, além da companheira Rebecca Azevedo dos Santos e do próprio Lourival.
Lourival mantinha relacionamento simultâneo com várias mulheres, dentre elas a vítima Anic e Rebecca. A casa de Rebecca, era, portanto, frequentada assiduamente por Lourival, sendo certo, inclusive, que era para lá que ele estava indo, quando veio de Foz do Iguaçu e foi preso temporariamente. Na qualidade de amante e comparsa de Lourival, Rebecca tinha plena ciência de todo o plano criminoso por ele arquitetado, sendo certo que ela e Maria Luíza continuaram mantendo contato com pessoas do convívio negocial de Lourival, na cidade de Foz de Iguaçu e no Paraguai, dando continuidade às suas atividades ilícitas enquanto ele se encontrava preso, além de ocultar as provas do crime.
Trecho da denúncia do Ministério Público
Participação de Rebecca
Após a prisão de Lourival, em 6 de abril, Rebecca foi para Foz do Iguaçu para resolver a questão da entrega dos 950 celulares com um fornecedor paraguaio, retornando em 7 de abril. Além disso, ela foi a primeira e a última pessoa com quem ele se comunicou, no dia do sequestro, fazendo contato com ela por 17 vezes.
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Quero receberAnic continua desaparecida, e nenhum dos denunciados colaborou com a investigação, diz o MP. "Pelo contrário, todos agiram em conluio para que o recebimento do dinheiro adquirido, após o desaparecimento de Anic, exigido de Benjamin como preço do resgate, tivesse a aparência de lícito, o que demonstra que em liberdade, continuarão agindo para acobertar o provável homicídio de Anic, bem como continuarão dando destinação incerta aos valores ainda não recuperados, sendo, portanto, um risco à ordem pública", disse a promotoria na denúncia.
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