Gucci, Levi's, Colcci: jovens relatam o que receberam em doações no RS
Calvin Klein, Gucci, Levi's, Colcci. Esta não é uma lista de marcas famosas em um bazar ou brechó, mas de roupas disponíveis para doações às vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul. Quem recebeu algumas dessas peças foi a estudante Isabelle Costa Dias, 17, que viralizou no TikTok mostrando as roupas.
A casa de Isabelle em Porto Alegre fica a duas quadras de um dique que rompeu no Sarandi, bairro da capital gaúcha. Até hoje, a moradia está completamente inacessível. A família aguarda o retorno em Tramandaí, cidade do litoral gaúcho.
"Na quinta-feira (2), percebemos que nossa casa alagaria, mas pensamos que seria como em 2013, que a água ficou abaixo do joelho. Eram umas sete horas da noite quando passou um carro de som dizendo para pegar os documentos, que teríamos que deixar a área. Foi um pavor, vizinhos gritando, uma coisa horrível. Só levamos uma mala de documentos", conta.
Isabelle saiu apenas com uma muda de roupas. A primeira remessa de doações que recebeu foi de uma prima. Depois, a família foi buscar peças em um ponto de doações em Imbé, município vizinho a Tramandaí.
"Sempre fui em bazar e estava acostumada a ver roupas e garimpar, já minha mãe ficou aflita no início. Mas havia muitas roupas de qualidade e de marca, algo que eu não esperava", contou. "Não vi roupas manchadas. Fiquei muito feliz de ter recebido roupas tão boas."
Senti como se estivesse sendo abraçada por uma pessoa que nem conheço. Fiquei muito grata. É um sentimento acolhedor. Isabelle Dias
A auxiliar administrativa Larissa Cardoso, 25, mora no bairro Rio Branco em Canoas, uma das cidades mais atingidas pelas enchentes. "Na minha casa, a água ultrapassou o telhado", conta. Ela e seus pais também saíram de casa apenas com a roupa do corpo.
Enquanto a água não baixa para começar a limpeza de sua casa, ela está abrigada no bairro de Fátima, na casa de seu irmão mais velho.
Como foi liberada do trabalho, Larissa começou a ajudar voluntariamente o abrigo montado na Ulbra, um dos maiores do estado.
"No início, fiquei sem graça em pegar alguma doação por também ajudar como voluntária, achar que não precisava até entender minha situação", diz. "Era possível ver o carinho e como tiveram pessoas que se importaram: mandaram cheirosas, lavadas, você abriria a pacote e sentia o cheiro do amaciante. Isso encheu meu coração de esperança."
Larissa também compartilhou no TikTok um vídeo com as roupas de marca que recebeu.
@laricardosoxBrechó da enchente ta bom demais
? shut up my moms calling x - maddie
"Nunca tive acesso a peças como essas. Não foram só coisas de marca que escolhi, claro. Mas algumas pessoas acham que não temos de escolha por estar nessa situação, que temos que aceitar tudo que vem", diz. "Foi importante separar coisas para meus pais, amigos, neste momento delicado em que perdemos tudo."
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Quero receberModa sempre foi importante para mim. É como a gente se expressa, nossa identidade. E, de repente, não temos nada. Me emociona ver esse cuidado e como as pessoas estão dispostas a nos ajudar. Larissa Cardoso
No galpão de doações, Larissa conta que as pessoas escolhem as roupas de acordo com seu estilo pessoal. "Roupa é um algo muito subjetivo e as pessoas poderem escolher o que vão receber é muito importante", diz.
Ela diz que o trabalho deve continuar nas próximas semanas. "Muitas pessoas ainda não conseguiram voltar para suas casas e seguem recebendo doações", diz.
Ela orienta quem quiser continuar a fazer doações fazer uma boa triagem e pensar no conforto das pessoas que receberão as peças.
"É importante doar uma roupa que você usaria. E, se possível, identificar o que está mandando, separar por tamanho, se é de inverno ou verão. Muitos bairros não têm água, e as pessoas precisam vestir aquela peça de imediato. Por isso, é importante vir limpa e num bom estado."
Já o conselho que Isabelle dá é "pensar como se fosse para ti". A jovem diz que o que aconteceu com sua família mudou sua relação com doações.
"Sempre tive acesso a roupa e no outro dia eu não tive. Antes disso acontecer, guardava roupas e não usava —por ego materialismo. Mas outras pessoas poderiam aproveitar muito mais. Agora meu roupeiro está lá, debaixo d'água", diz. "Tinha uma coleção de livros, todos que eu já tinha lido e estavam lá por decoração. Penso que alguém teria lido se eu tivesse doado."
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