Estudo: PM do RJ atua 10x mais nas áreas de tráfico do que nas de milícias
Um relatório produzido pelo Instituto Fogo Cruzado com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da UFF, aponta que, entre 2017 e 2022, a polícia do Rio de Janeiro atuou 10 vezes mais em regiões controladas pelo tráfico do que em áreas dominadas pelas milícias.
O que aconteceu
Pesquisa aponta que 49% dos conflitos armados no Grande Rio tem presença da polícia. Polícia carioca esteve presente em 18.760 confrontos, de 38.271, de maneira não uniforme. Por exemplo, os policiais estiveram presentes em 56,1% dos conflitos na Baixada Fluminense, mas apenas em 37,5% conflitos na Zona Oeste.
Polícia entra em menos confrontos com milícia. Segundo os dados obtidos pelos pesquisadores, 40,2% dos conflitos com presença da polícia ocorrem em áreas de tráfico, enquanto apenas 4,3% ocorrem em áreas dominadas por milícias.
"Os dados deixam claro que a ação das polícias é parte importante na dinâmica violenta de disputas por território na região metropolitana do Rio de Janeiro", diz o relatório.
Territórios dominados pelo crime tem duas vezes mais chance de conflito. "A chance de um território controlado por algum grupo armado registrar confronto é quase o dobro (1,99 vezes maior) do que a chance de um território não controlado ter confronto", explica o relatório. Além disso, constatou-se que um relatório dominado pelo tráfico tem chance 3,71 vezes maior de apresentar confronto, com polícia ou sem, do que um território dominado pela milícia.
Apenas 3,7% dos bairros do Grande Rio tiveram conflitos regulares e intensos desde 2017. Em determinados anos, se destacaram Paraíso (2017), Comendador Soares (2018) e Danon (2018), em Nova Iguaçu; Brisa Mar (2018) em Itaguaí; Engenho Pedreira (2019) em Japeri; Salgueiro (2020 e 2021) em São Gonçalo; Jardim Primavera (2021) em Duque de Caxias; Inoã (2021) em Maricá; e, Jacarezinho (2022).
Pesquisa mostra dez bairros com maior número de conflitos. São eles: Vila Kennedy, Bangu, Complexo do Alemão, Cidade de Deus, Tijuca, Praça Seca, Pavuna, Costa Barros, Maré e Realengo.
O domínio territorial por parte de facções do tráfico e a atuação das polícias são dois fatores que deixam os territórios mais expostos a conflitos. Esses conflitos se distribuem de maneira desigual entre áreas de tráfico e de milícias, mas também pela própria região metropolitana. E isso é fundamental para pensarmos a política pública de segurança. Porque os confrontos intensos e regulares são hiper localizados e a participação da polícia nesses casos é decisiva.
Daniel Hirata, coordenador do GENI e da pesquisa
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