Caso Djidja: mãe gravava vídeos dos filhos sob efeito de cetamina
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram que Cleusimar Cardoso, mãe de Djidja e Ademar, gravava os filhos sob efeito de cetamina dentro da própria casa. Em alguns momentos, ela também havia usado a droga.
O que aconteceu
Gravações foram feitas na casa onde Djidja Cardoso foi encontrada morta, na zona norte de Manaus. A principal suspeita é de que a ex-sinhazinha do Boi Garantido sofreu uma overdose de cetamina.
No vídeo, Cleusimar mostra a quantidade que ela e os filhos aplicaram da droga. "Eu tenho cetamina aqui, estou filmando", diz. Em seguida, ela pontua que Ademar aplicou "três seringas" com a substância. "Ele tomou três seringadas e não está conseguindo ficar em pé".
Ademar Cardoso aparece no vídeo sem conseguir se mexer em cima da cama. "Djidja, o que está acontecendo com ele [Ademar], por que tu está duro, te endireita, menino", pede a mãe, que grava a cena com o próprio celular.
Ela mostra ainda que a própria perna está sangrando devido às aplicações. "Tem que ter cautela com mamãe. Eu não posso me machucar", diz Cleusimar.
A gravação também mostra que Djidja pedia para usar mais cetamina. "Tu pediu permissão da mamãe, Djidja?". Em seguida, Cleusimar questiona: "Por que eu não fico 'bugada' assim? Aqui em casa a gente fala 'bugada'. Tu tá vendo coisas na cabeça? Eu vejo coisas na minha cabeça", afirma.
"Controle seus poderes, eu controlo os meus", diz Cleusimar. Segundo as investigações, ela liderava a seita "Pai, Mãe, Vida", que forçava o uso da cetamina.
Cícero Túlio, delegado responsável pelo caso, afirmou que não tem conhecimento das imagens. A reportagem havia questionado se os vídeos que circulam nas redes sociais seriam incluídos na investigação da polícia. Ele destacou que as imagens devem ter vazado "provavelmente de redes sociais ou de grupos familiares". "Jamais vazaríamos vídeos de aparelhos apreendidos", afirmou.
O UOL procurou defesa de Cleusimar e Ademar, presos após a morte de Djidja, para comentar os vídeos. A advogada Nauzila Campos informou que não irá se pronunciar.
Mãe e irmão de Djidja têm crise de abstinência no presídio, diz defesa
Ademar e Cleusimar Cardoso estão sofrendo com crises de abstinência dentro dos presídios onde estão presos. Verônica da Costa, gerente da rede de salões de beleza da família, também apresenta os mesmos sintomas.
Advogadas disseram que Ademar e Verônica estão mais "tranquilos", enquanto Cleusimar apresenta sintomas mais graves. A informação foi divulgada no domingo (2) em entrevista coletiva concedida pelas advogadas da família, Lidiane Roque e Nauzila Campos.
Trio estaria passando mal devido à abstinência de cetamina. A substância era usada pelos familiares nos rituais religiosos, de acordo com a investigação da polícia. "Essa cetamina tem efeitos pavorosos e a abstinência é da mesma maneira, terrível. Ele estão passando mal no presídio", afirmou Nauzila Campos.
Defesa negou a existência da seita. "Não existe esse negócio de ritual e de que funcionários e amigos eram obrigados ou coagidos a usar a droga. Não existia isso. Eles ofereciam sob efeito de drogas, com aquele argumento, com aquela alegação da transcendência da evolução espiritual", argumentou a advogada Lidiane Roque.
Lidiane contou que Cleusimar chegou a oferecer a droga para ela, mas que não aceitou. "Mas nunca houve coação, nunca houve obrigação, inclusive, confirmei isso com os funcionários".
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Quero receberNão existe seita, não existe ritual macabro. Todas as declarações deles, os vídeos que circulam na internet, todas as provas que estão no inquérito são fruto de alucinações extremamente severas, de uma droga que está destruindo famílias.
Nauzila Campos
As advogadas também cobraram a prisão do dono da clínica veterinária que fornecia a droga à família. "Os fornecedores de droga são os verdadeiros traficantes. E a gente questiona, cadê o dono dessa clínica veterinária que não foi preso até agora? A pessoa viciada, o dependente químico faz de tudo para alcançar a droga, e o dependente químico não é traficante. O traficante é um comerciante que precisa lucrar e faz de tudo e se aproveita da vulnerabilidade dos dependentes", questionou Nauzila.
A defesa considera que a operação da Polícia Civil salvou a vida dos envolvidos. "A prisão salvou a família, salvou a vida deles. Se essa operação tivesse sido deflagrada algumas semanas atrás, a Djidja estaria viva. Ela estaria presa, mas estaria viva", destacou Lidiane.
Relembre o caso
Djidja foi encontrada morta dentro de casa em Manaus no dia 28 de maio.
Família Cardoso já era investigada por liderar um grupo religioso. Seita forçava seguidores a usar cetamina para "transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação", diz a polícia. A polícia detalha que Ademar assumia a figura de Jesus, Cleusimar seria Maria e Djidja, Maria Madalena.
Grupo religioso se chamava "Pai, Mãe, Vida". Segundo a polícia, eram realizados rituais com o uso indiscriminado de cetamina, que tem efeitos alucinógenos. As investigações apontam que algumas vítimas passaram por violência sexual e aborto.
Investigações começaram com pai de vítima na delegacia. "O pai da companheira de Ademar resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos há cerca de 40 dias", diz o delegado. Segundo a polícia, "seita" funcionava há pelo menos dois anos no bairro Cidade Nova, em Manaus.
Mãe e filho têm dependência química
Estão presos Cleusimar e Ademar Cardoso e três funcionários da redes de salão de cabeleireiro. Segundo a polícia, os funcionários Verônica da Costa Seixas, Claudiele Santos da Silva e Marlisson Vasconcelos Dantas são suspeitos de induzir pessoas a se associar ao grupo.
Advogado Vilson Gomes Benayon Filho disse ao UOL que a mãe e o irmão de Djidja faziam uso prolongado de drogas. "Eles são dependentes químicos, não tinham condições psicomotoras de se locomover", afirmou.
Cleusimar e Ademar teriam se apresentado na delegacia como Maria e Jesus, diz advogado. "A mãe de Djidja se identificou como Maria, mãe de Jesus, e disse que o filho era Jesus, eles não tinham noção. Isso aconteceu logo depois da prisão, entrei na sala e eles falaram isso", afirma Benayon Filho. "Eles também convidaram o delegado para experimentar, tomar conhecimento da espiritualidade".
Como era o local dos rituais
Cheiro ruim no espaço dos rituais. "A casa tinha cheiro de carne em estágio de putrefação", disse o delegado. Segundo ele, os suspeitos tinham lesões na pele "tipo necrose por conta das aplicações". A polícia esteve no local no dia em que Djidja Cardoso morreu e na ocasião das prisões preventivas.
Foram encontradas seringas, doses de cetamina, frascos vazios, medicamentos, computadores e documentos. Vítimas eram mantidas "despidas e sem se banhar durante todo período", aponta investigação.
Duas vítimas identificadas até o momento. Cárcere privado e estupro de vulnerável estão entre os crimes apontados. A polícia identificou ao menos duas vítimas que teriam sido mantidas sob cárcere privado e sido estupradas sucessivas vezes por membros do grupo durante dias.
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