PMs que abordaram adolescentes no RJ não usavam câmeras corporais

Os policiais militares acusados de abordagem racista contra adolescentes estrangeiros não usavam câmeras corporais no momento da ação.

O que aconteceu

Um dos agentes envolvidos contou ontem em depoimento que estavam sem câmeras na abordagem. A informação foi confirmada pela delegada Danielle Bulus ao UOL nesta sexta-feira (11). O segundo policial ainda não prestou esclarecimentos.

Segundo a Polícia Militar, o uso das câmeras corporais é obrigatório. A corporação afirmou em nota que a ausência do protocolo é considerado pela Corregedoria como uma ''falta grave''.

A Deat (Delegacia de Apoio ao Turismo) havia solicitado as imagens das câmeras corporais na segunda (8). No entanto, a delegada informou que a Polícia Militar não havia respondido sobre o pedido, que auxiliaria na investigação.

Ao UOL, PM falou que a ausência do equipamento será apurada. ''Cabe destacar que a investigação segue em andamento e que a Corregedoria da Corporação instaurou um procedimento apuratório para investigar o caso.''

'Ação racista e criminosa', diz mãe

Os jovens, que têm entre 13 e 14 anos, foram colocados contra a parede e tiveram armas apontadas contra eles. Os meninos passam férias no Rio de Janeiro. Segundo o relato da mãe de um dos jovens, seu filho e os demais, filhos de diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Fasso, planejaram o passeio durante meses.

Eles estão acompanhados pelos avós de um dos jovens na cidade. "A ação da Polícia Militar é caracterizada pela violência direcionada à população negra, utilizando força excessiva de imediato, mesmo quando se trata de filhos de diplomatas em um bairro nobre", disse a deputada.

Garotos chegavam em casa quando foram abordados. De acordo com relatos da mãe, os quatro jovens chegavam de uma partida de futebol para deixar um dos amigos em um prédio, na quarta-feira (3), quando a viatura chega, sobe a calçada, e dois policiais descem.

Continua após a publicidade

"Adolescentes com armas na cabeça", descreve mãe. Em seu testemunho, o filho da mulher, que é um menino branco, diz que os policiais apontaram armas para as cabeças dos outros jovens, negros, e os trataram com truculência. Ao UOL, a mulher descreveu a ação como "racista" e "criminosa".

Policiais obrigaram jovens a tirar a roupa. Em um primeiro momento, descreve a mãe, a polícia não argumentou sobre a motivação da abordagem e apenas os colocou enfileirados na parede do condomínio — um porteiro presencia ação. Um dos meninos ficou machucado, segundo a mãe. Em determinado momento, captado em vídeo, o policial empurra a cabeça de um dos jovens e diz para todos levantarem as mãos.

Caso relatado ao Itamaraty

A mãe do adolescente entrou em contato com todos os familiares dos jovens e acionou o Itamaraty. Segundo ela, os consulados do Canadá, Gabão e Burkina Fasso também já têm conhecimento do caso.

O Ministério das Relações Exteriores informou que recebeu, na manhã da sexta-feira (5), os embaixadores do Gabão e de Burkina Faso. Eles são pais dos adolescentes abordados. O governo brasileiro entregou aos diplomatas nota verbal com pedido de desculpas.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.