App faz match solidário para limpar casas no RS: 'Vi uma montanha de lixo'

Mais de dois meses depois das enchentes no Rio Grande do Sul, casas ainda seguem sujas. E, muitas vezes, quem tem de recomeçar não tem força física ou mental para dar o primeiro passo.

Foi pensando nisso, e por ver de perto esse problema, que o professor universitário Felipe Menezes, 46, criou o app Meu Lar de Volta.

O serviço conecta pessoas que querem ajudar em faxinas a quem teve o lar afetado pelas chuvas.

Eu e mais três amigos nos reunimos em 5 de maio e entendemos que, depois que a água baixasse, teríamos muita coisa para limpar. Entendemos que usando a tecnologia poderíamos encontrar pessoas com vontade de ajudar quem precisa e em apenas 24 horas já conseguimos colocar a plataforma no ar.
Felipe Menezes

A plataforma tem um "mapa de necessidades", que inclui pedidos de limpeza e até doação de móveis e eletrodomésticos. É possível se cadastrar no site ou baixar o aplicativo no celular.

Cenário ainda é de destruição em algumas áreas do Rio Grande do Sul
Cenário ainda é de destruição em algumas áreas do Rio Grande do Sul Imagem: Carlos Macedo/Folhapress

Ao todo, já são mais de 22 mil pedidos de ajuda cadastrados na plataforma e 19 mil voluntários que se registraram com a intenção de colaborar em um "match solidário".

Limpeza bruta

A artesã Maira Suarez, 52, recuperou o ânimo após a limpeza feita em sua casa.
A artesã Maira Suarez, 52, recuperou o ânimo após a limpeza feita em sua casa. Imagem: Arquivo pessoal.
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A artesã Maira Suarez, 52, que vive em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, foi uma das pessoas que recebeu ajuda por meio do aplicativo. Ela ouviu falar da plataforma pela primeira vez nas redes sociais.

Respondi um formulário e entrei no grupo do WhatsApp. Depois, eles entraram em contato comigo e esperamos até ter água encanada na minha casa para marcar a limpeza. Quatro pessoas vieram e limparam tudo a jato e higienizaram.
Maira Suarez

Márcio Schmidt, 43, se cadastrou no aplicativo e ajuda na limpeza de diversas casas na região, geralmente em um grupo de cinco pessoas.
Márcio Schmidt, 43, se cadastrou no aplicativo e ajuda na limpeza de diversas casas na região, geralmente em um grupo de cinco pessoas. Imagem: Arquivo pessoal

É muito triste ver tudo o que você tem de repente virar uma grande montanha de lixo fedido. Perdi as minhas coisas, material de trabalho, as coisas dos meus dois filhos que moram comigo e muitas lembranças de quando eles eram pequenos.
Maira Suarez

Voluntários como o vendedor Márcio Schmidt, 43, têm se dedicado a uma limpeza pesada nas casas.

"Ajudamos desde a retirada dos móveis e bens que na grande maioria não têm sido muito aproveitados e fazemos a limpeza bruta de tudo. Lavamos as paredes, forro, piso, geladeiras, fogões e máquinas de lavar", conta Schmidt

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Márcio Schmidt, 43, se acostumou a fazer limpezas brutas nos lares onde ajuda como voluntário.
Márcio Schmidt, 43, se acostumou a fazer limpezas brutas nos lares onde ajuda como voluntário. Imagem: Arquivo pessoal

Água sanitária, esfrega um pouco e lava a jato para tirar todo o barro que fica incrustado nas paredes. O odor realmente é bem forte. É um trabalho bem demorado pois às vezes temos de lavar mais de uma vez cada ambiente. Geralmente, nas limpezas que fui, foram no mínimo cinco pessoas.
Márcio Schmidt

'Recuperar ânimo'

Marcia Gonçalves, 45, que trabalha com projetos sociais, foi uma das pessoas no time de voluntários a participarem da limpeza da casa de Suarez. Ela conta que os pedidos para ajudar não param.

"É um turbilhão de emoções, mas sinto que estamos ajudando as pessoas a terem o direito de recomeçar", diz Gonçalves. Esse também foi o sentimento de Suarez.

Foi muito importante para que eu recuperasse o ânimo, sentir que não estava sozinha, pois não tenho família na cidade. Ver as coisas limpas sem toda aquela lama me ajudou a conseguir pensar em organizar as coisas para voltar para casa.
Maira Suarez

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