Áudio da queda do avião, corpos identificados: o que se sabe e falta saber
Do UOL, em São Paulo
12/08/2024 15h16Atualizada em 14/08/2024 22h38
A queda de um avião em Vinhedo (SP) na última sexta-feira (9), considerada um dos cinco acidentes mais fatais da aviação brasileira, matou todas as 62 pessoas que estavam na aeronave. Nesta quarta-feira (14), o Jornal Nacional, da TV Globo, revelou que o copiloto pediu ao piloto "potência" no avião momentos antes da queda. O IML já identificou 60 corpos das 62 vítimas do acidente. Veja abaixo o que se sabe sobre o acidente.
Como ocorreu a queda?
Avião saiu de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) com 58 passageiros e quatro tripulantes. Ele decolou às 11h50 e pousaria às 13h45, segundo o FlightAware.
Aeronave despencou 13 mil pés (4.000 metros) em dois minutos. O registro de voo do Flight Radar mostra que o avião estava a 17 mil pés de altitude às 13h20 e a 4.000 pés às 13h22, quando o sinal de GPS foi perdido pela plataforma. A aeronave caiu pouco mais de 20 minutos antes de pousar.
Casas de condomínio residencial foram atingidas após a queda. O Corpo de Bombeiros mandou sete equipes para a rua João Edueta. Em imagens gravadas por moradores da região do Distrito Industrial, é possível ver o momento em que a aeronave despenca.
A TV Globo divulgou informações registradas no gravador de voz do avião da Voepass. Técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) transcreveram duas horas de áudio.
Ao perceber que o avião estava perdendo sustentação, o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva questionou ao piloto, Danilo Santos Romano, o que estava acontecendo naquele momento. O próprio copiloto então afirmou que era preciso dar potência para impedir a queda, segundo a emissora. Gritos da tripulação tentando reagir encerrariam a gravação.
Como era o avião?
O modelo ATR 72 era operado pela Voepass Linhas Aéreas e tinha capacidade para 68 passageiros. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da FAB, informou que a aeronave estava com a documentação em dia e autorizada a voar. O órgão responsável pelas investigações revelou também que os pilotos tinham o treinamento e as capacidades para operar a aeronave.
O CEO da Voepass, Eduardo Busch, destacou a experiência da tripulação. O comandante, Danilo Santos Romano, tinha 5.202 horas de voo. O copiloto, Humberto Campos de Alencar, acumulara 5.100 horas.
A companhia acrescentou que o avião passou por manutenção de rotina na noite anterior a queda. O trabalho foi realizado na base da empresa, em Ribeirão Preto (SP).
O que causou o acidente?
Apuração inicial do Cenipa foi finalizada na segunda-feira (12). Agora, estão sendo levantadas outras informações necessárias "a fim de identificar os possíveis fatores contribuintes" para o acidente, segundo a FAB.
Próxima etapa é analisar os dados colhidos. Também serão examinadas as condições do voo, como se dava a operação do avião e fatores humanos. Todos os técnicos da FAB voltarão para Brasília e avaliarão o material recuperado para transformar os dados em "informação útil para a sociedade", como havia adiantado o brigadeiro do ar Marcelo Moreno, chefe do Cenipa.
Versão sobre gelo acumulado na fuselagem ter causado perda de sustentação não é confirmada e nem descartada pelos investigadores. Eles dizem que o trabalho está só começando e é precoce apontar causas.
O acúmulo de gelo é uma possibilidade admitida pela Voepass. Mas o sistema de degelo funcionava normalmente no momento do acidente, segundo Marcel Moura, diretor de Operações da companhia aérea. Assim como os investigadores, ele acrescentou que é precoce apontar o gelo como causa da queda.
A tripulação sabia que iria enfrentar gelo no trajeto entre Cascavel e Guarulhos, afirmou o diretor de Operações. A previsão se confirmou e o local onde houve a queda do avião tinha um alerta para "formação severa de gelo".
O fato de o avião da Voepass ter passado por manutenção em março após um dano estrutural não impediria a aeronave de voltar a operar. Porém, para isso, é necessário que os protocolos de segurança tenham sido seguidos e aprovados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), afirmou Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense, em entrevista ao UOL News nesta segunda.
Pilotos pediram ajuda?
O chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, disse no domingo (11) que não houve declaração de emergência aos órgãos de controle de tráfego aéreos. A afirmação contradiz uma corrente que se formou nas redes sociais de que o comandante do voo pediu para aterrissar em um aeroporto no caminho entre Cascavel e Guarulhos e não recebeu autorização.
Diretores da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) também não confirmaram pedido de pouso em aeroporto alternativo. As autoridades ainda disseram que as primeiras respostas do órgão a respeito da queda serão apresentadas em um relatório preliminar que deve sair em 30 dias.
Caixas-pretas foram encontradas?
A FAB informou nesta terça-feira (13) que o Cenipa terminou de extrair os dados das caixas-pretas do avião. Os dados, porém, passarão por análise além de serem divulgados.
O ATR 72 era equipado com duas caixas-pretas e ambas foram encontradas ainda na tarde de sexta-feira. Na manhã de sábado, os equipamentos chegaram ao laboratório do Cenipa para extração dos dados. O chefe do Cenipa afirmou no domingo que foram obtidos os dados e áudios completos dos equipamentos.
Há dois tipos de dados gravados nas caixas-pretas. Uma delas registra a comunicação dos pilotos. O outro equipamento armazena os parâmetros do voo como altitude, velocidade e potência dos motores. Com estas informações em mãos, os investigadores podem reconstituir os instantes finais do voo.
A Anac ainda confirmou que dispensou a Voepass de registrar alguns dados que normalmente são colhidos pela caixa-preta que grava as conversas entre os pilotos. Os investigadores informaram que usarão outros elementos para descobrir as causas do acidente.
Quem eram as vítimas?
A lista com os nomes (veja abaixo) foi divulgada pela Voepass. Na noite deste sábado, o Corpo de Bombeiros retirou os 62 corpos da aeronave. Todos foram levados para o IML (Instituto Médico Legal) Central, em São Paulo.
O IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo já identificou 60 corpos das 62 vítimas da queda do avião da Voepass em Vinhedo, no interior do estado, segundo último boletim.
No início da noite de segunda-feira (12), o IML anunciou que havia concluído as análises dos 62 corpos. Todas as pessoas morreram devido ao impacto do avião com o solo. "Temos a certeza científica que todos morreram de politraumatismo. A aeronave despencou de uma altura de 4.000 metros e, ao atingir o solo, o choque é muito grande, e todos eles sofreram o politraumatismo", disse Vladmir Alves dos Reis, diretor do órgão.
Alguns corpos estão em difícil estado de identificação. A identificação começa com a análise de impressões digitais, da arcada dentária e DNA. O perito criminal federal e membro da Diretoria Técnico Científica da Polícia Federal, Marco Conde, disse ao UOL que outros elementos ajudam no trabalho dos profissionais, como próteses, marca-passos, fraturas e cicatrizes.
O governo de São Paulo reservou acomodações em um hotel na região central da capital para os familiares das vítimas. Elas têm chegado à capital para o reconhecimento dos corpos. A Secretaria de Desenvolvimento Social monitora os atendimentos.
Estrutura psicológica e jurídica está sendo oferecida aos familiares. O capitão Farina, porta-voz da Defesa Civil de São Paulo, afirmou que os familiares se mostram muito abalados especialmente no momento das entrevistas para coleta de dados sobre as vítimas. "O trabalho vai permanecer por tempo indeterminado até que todas as famílias sejam atendidas. A Defesa Civil ligou para todas as famílias assim que ficou sabendo do acidente, uma assessoria jurídica esteve presente para tirar dúvidas dos familiares", explicou.
MP investiga golpes relacionados ao desastre. O Ministério Público de São Paulo investiga 31 perfis suspeitos de aplicar golpes online usando fotos de vítimas da queda do avião da Voepass. Supostos golpistas tentavam levantar recursos sob a alegação de ser em favor das vítimas. Perfis já foram retirados do ar após contato entre a Promotoria e as plataformas na internet.
Velório
O gerente de Logística José Carlos Copetti, morador do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, foi a primeira das 62 vítimas a ser velada. O corpo foi liberado durante a tarde de domingo, 11, e o velório ocorreu à noite, no Cemitério e Crematório Parque das Flores, em São José dos Campos.
O casal Daniela Schulz e Hiales Fodra foi velado na segunda (12) no Rio Grande do Sul. Caixões foram ligados por uma fita branca com as alianças dos dois penduradas. Daniela e Hiales eram casados desde 2017.
O voo da FAB que fez transporte de três urnas funerárias de vítimas da queda do avião pousou em Cascavel (PR) no fim da tarde de terça.
Destinos são dois aeroportos. O primeiro pouso foi realizado no aeroporto de Cascavel (PR), onde duas urnas foram desembarcadas. Depois, a aeronave da FAB irá para o aeroporto de Pelotas (RS) para desembarcar a terceira urna.
A FAB fez o transporte de mais três corpos de vítimas do acidente de avião para Cascavel (PR) nesta quarta. Os corpos de Maria Valdete Bartiniki, Renato Bartiniki e Adriana Dalfovo Esteves Santos chegaram na cidade nesta tarde. Os três foram velados hoje.
Lista de passageiros
- Adriana Santos
- Adriano Daluca Bueno
- Adrielle Costa
- Alipio Santos Neto
- Ana Caroline Redivo
- Andre Michel
- Antonio Deoclides Zini Junior
- Arianne Risso
- Constantino Thé Maia
- Daniela Schulz Fodra
- Denilda Acordi
- Deonir Secco
- Diogo Avila
- Edilson Hobold
- Eliane Andrade Freire
- Gracinda Marina Castelo da Silva
- Hadassa Maria da Silva
- Hiales Carpine Fodra
- Isabella Santana Pozzuoli
- Jose Carlos Copetti
- José Cloves Arruda
- José Roberto Leonel Ferreira
- Josgleidys Gonzalez
- Joslan Perez
- Kharine Gavlik Pessoa Zini
- Laiana Vasatta
- Leonardo Henrique da Silva
- Liz Ibba Do Santos
- Lucas Felipe Costa Camargo
- Luciani Cavalcanti
- Luciano Trindade Alves
- Maria Auxiliadora Vaz De Arruda
- Maria Parra
- Maria Valdete Bartnik
- Mariana Belim
- Mauro Bedin
- Mauro Sguarizi
- Miguel Arcanjo Rodrigues Junior
- Nelvio José Hubner
- Paulo Alves
- Pedro Gusson do Nascimento
- Rafael Alves
- Rafael Fernando dos Santos
- Raphael Bohne
- Raquel Ribeiro Moreira
- Regiclaudio Freitas
- Renato Bartnik
- Renato Lima
- Ronaldo Cavaliere
- Rosana Santos Xavier
- Rosangela Maria De Oliveira
- Rosangela Souza
- Sarah Sella Langer
- Silvia Cristina Osaki
- Simone Mirian Rizental
- Thiago Almeida Paula
- Tiago Azevedo
- Wlisses Oliveira
Lista de tripulantes
- Danilo Santos Romano, 35 anos.
- Debora Soper Avila, 28 anos
- Humberto de Campos Alencar e Silva, 61 anos
- Rubia Silva de Lima, 41 anos