De voluntária no RS a fisiculturista, tragédia interrompe sonhos de 61 pessoas
Professores, médicos, farmacêutica, fisiculturista. O voo da Voepass Linhas Aéreas que partiu de Cascavel, no interior do Paraná, nesta sexta-feira, 9, levava pessoas para compromissos profissionais, outras que visitariam a família, uma voluntária no resgate de animais nas enchentes de Canoas (RS), um árbitro internacional de judô, entre outros. A queda do avião interrompeu bruscamente a vida de 61 pessoas - 4 tripulantes e 57 passageiros.
Silvia Cristina Osaki, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e médica veterinária, foi confirmada como uma das vítimas na queda da aeronave em Vinhedo. A universidade lamentou a morte da profissional. "É com profundo pesar que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) lamenta o falecimento da professora Silvia Cristina Osaki", registra o comunicado, que também traz depoimentos de ex-colegas de Silvia.
"Sua dedicação à educação e à pesquisa, bem como seu compromisso com o desenvolvimento de nossos estudantes, deixará um legado que será lembrado por todos que tiveram o privilégio de trabalhar ao seu lado", lamentou o diretor Wilson de Aguiar Beninca. O comunicado lembra que Silvia atuou como voluntária em Canoas no resgate de animais da enchente que assolou o Rio Grande do Sul.
Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Silvia fazia parte do quadro de professores da UFPR desde 2009. Atualmente, ministrava as disciplinas de Zoonoses, Epidemiologia Veterinária, Saúde Pública e Educação para Saúde no Setor Palotina, além de participar no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal.
Professor
Outro professor universitário, Deonir Secco, também uma das vítimas, faria sua primeira viagem à Europa. Era o passeio dos seus sonhos, pela qual tinha esperado por décadas. O roteiro internacional fazia parte de um plano maior: desacelerar o ritmo de trabalho e aproveitar mais a vida, no momento em que passava dos 60 anos e se aproximava da aposentadoria.
Secco estava viajando sozinho porque a mulher, também professora, já tinha retomado as aulas. A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), local onde o professor Secco lecionava, publicou uma nota de pesar pela morte. Ele lecionava no curso de Engenharia Agrícola, câmpus de Cascavel. A universidade perdeu docentes e alunos também em outros câmpus.
Quem se lembra dos detalhes da vida de Secco é o professor Reginaldo Ferreira Santos, que leciona Meteorologia Agrícola. Eles eram amigos havia quase 40 anos e dividiam a mesma sala na Unioeste. "Não sei se eu usaria a palavra exigente para descrevê-lo, mas sim cuidadoso com tudo o que faz. Competente, ele se dedica muito à preparação das aulas. Ele se preocupa muito que os alunos tivessem uma boa formação", relatou, ainda usando verbo no presente.
Árbitro de judô
O árbitro internacional de judô e professor universitário Edilson Hobold, de 52 anos, também está entre as vítimas. Sensei Hobold, como era conhecido nos tatames, era um "kondansha", título que representa uma espécie de pós-graduação na arte marcial. A qualificação é concedida aos lutadores que alcançam altos níveis de mestria prática e teórica.
Em 1993, Edilson fundou a Associação de Judô Fujiyama, que funciona no município de Marechal Cândido Rondon, cidade onde ele vivia com a família, a 80 km de Cascavel. A entidade desenvolve parcerias com escolas e universidade das regiões, oferecendo aulas gratuitas da arte marcial.
Dedicando grande arte da vida ao esporte, Edilson conseguiu destaque como um dos árbitros mais importantes do País. Promovido a árbitro internacional Nível A, em 2011, em solenidade na Austrália, era reconhecido como o único paranaense a atingir o posto na história da Federação Paranaense de Judô.
O sensei arbitrou em competições como a Olimpíada Mundial Universitária, o Grand Slam de Judô, o Campeonato Mundial das Forças Armadas, Copa do Mundo de Judô e Campeonato Sul-Americano e Pan-Americano.
Além de sensei, Edilson era professor-doutor de educação física na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Na instituição, ele coordenava o projeto Futuro do Judô: iniciação e alto nível através do esporte social, voltado para alunos de nove a 17 anos. Em nota, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e Comitê Olímpico Brasileiro (COB) lamentaram sua morte.
Farmacêutica
A farmacêutica Eliane Andrade Freire havia embarcado no voo da Voepass para visitar a família. Eliane trabalhava na Prati-Donaduzzi como supervisora de Garantia da Qualidade.
"Neste momento de imensa tristeza, transmitimos nossas condolências, além de oferecer todo o apoio aos familiares, amigos e colegas de trabalho", afirmou a companhia em nota de pesar. "Eliane sempre será lembrada por sua dedicação e profissionalismo."
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) também expressou pesar. "Com mais de 20 anos de experiência em garantia da qualidade, Eliane construiu uma sólida carreira, tendo atuado em diversas indústrias de renome, tanto no âmbito nacional quanto internacional", elogiou o órgão.
Médicos
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), havia ao menos quatro médicos no voo. Estavam a caminho de um congresso de oncologia na cidade de São Paulo. De acordo com o Hospital do Câncer de Cascavel (UOPECCAN), duas das vítimas eram as médicas residentes Arianne Risso e Mariana Belim. Os nomes dos outros dois médicos não haviam sido confirmados.
Em nota, o CFM manifestou solidariedade às famílias das vítimas, afirmando que elas "estavam em busca de conhecimento e atualização, prática comum e necessária entre os membros da categoria". "A trágica perda desses profissionais deixa de luto a medicina brasileira, cujos membros continuarão a honrar o legado dos que nos partiram de forma tão inesperada com seu compromisso com a defesa da saúde e da vida", diz o comunicado.
O Conselho de Medicina do Paraná também se manifestou. "O CRM-PR expressa profundo pesar pelas vítimas envolvidas no trágico acidente aéreo ocorrido nesta sexta-feira (ontem)", disse um post publicado nas redes sociais.
Fisiculturista
Um casal de Ubiratã (PR), Daniela Schulz e Hiales Fodra, embarcou ontem em Cascavel com os EUA como destino final. Mas os planos da fisiculturista Daniela e do seu marido, um engenheiro agrônomo, foram interrompidos pela tragédia em Vinhedo.
No perfil do Instagram de Daniela, também uma influenciadora digital com mais de 16 mil seguidores, ela relatou seus momentos antes do embarque. Daniela gravou stories do aeroporto afirmando que estava a caminho dos EUA para uma viagem com o marido. "Muitas horas de espera e de voo, mas se Deus quiser vai dar tudo certo", disse na postagem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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