TRF-2 mantém condenação de acusado de matar ex-namorada na Austrália
Colaboração para o UOL, de Belo Horizonte*
22/11/2024 13h37
O TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) manteve a prisão de Mario Marcelo Ferreira dos Santos Santoro pelo homicídio de Cecília Müller Haddad. O tribunal também condenou o homem a indenizar os pais da vítima em R$ 250 mil.
O que aconteceu
A segunda turma do TRF-2 julgou recursos do réu, do MPF e do assistente de acusação. Em primeira instância, ele foi condenado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, asfixia e feminicídio) e ocultação de cadáver.
Os desembargadores reduziram a pena do autor para 26 anos e 11 meses de reclusão. Na primeira instância, a pena aplicada foi de 27 anos.
Durante o julgamento dos recursos, o homem foi condenado a indenizar os pais da vítima. Ele deverá pagar uma multa fixada em R$ 250 mil, a título de danos morais. A condenação inicial não havia previsto essa indenização.
O UOL procurou a defesa de Mario Marcelo Santoro e aguarda um retorno.
Relembre o caso
Cecília Müller Haddad desapareceu no dia 28 de abril de 2018, em Sydney, na Austrália. Seu corpo foi localizado no dia seguinte, na beira de um rio, a oito quilômetros de sua casa.
Mario Marcelo Ferreira dos Santos Santoro voltou para o Brasil logo após o crime. A polícia brasileira começou a apurar o caso em maio, após contato dos familiares da vítima.
A partir da análise pericial de documentos, a Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou ser possível evidenciar que Santoro era o autor do crime. Ele foi preso no dia 7 de julho de 2018, após a Justiça decretar sua prisão preventiva.
Inicialmente, a polícia australiana não considerava Santoro como suspeito pelo crime. Porém, no final de junho de 2018, foi emitido um mandado de prisão contra ele na Austrália.
Segundo a investigação feita pela Polícia Civil, o autor teria estrangulado Cecília. Ele foi condenado pelos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Durante o júri popular, em junho de 2023, Santoro confessou o crime. De acordo com a denúncia oferecida pelo MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), com base na investigação da Polícia Civil, o autor não concordou com o fim do relacionamento e por isso cometeu o crime.
Cecília relatava ter medo de Santoro
O voto do relator, desembargador Flavio Oliveira Lucas, cita que o relacionamento de Cecília e Mario terminou pois ela sofria violência psicológica. 15 dias antes do assassinato, o homem teria invadido a residência da vítima, o que a deixou extremamente insegura. "A insegurança levava a vítima a ligar para o pai e para a madrasta antes de chegar em casa para que eles a acompanhassem ao menos por telefone no ingresso na casa após o trabalho, temendo a presença ameaçadora do réu", disse o desembargador no voto.
Em entrevista ao UOL em 2018, familiares e amigos de Cecília relataram que ela sofria terror psicológico, ciúme doentio e perseguições em seu dia a dia, mesmo após o fim do relacionamento. "Eu sempre falava para ela avisar a polícia e contar o que ele estava fazendo com ela. Eu dizia para ela não ter medo, apenas para ela ser vigilante. A Cissa não via o Marcelo como um perigo na vida dela, apenas como uma pessoa chata que vivia no pé dela, mesmo ela não querendo mais nada com ele", conta Carolina Câmara, amiga de Cecília.
"Em algumas vezes ela disse para mim e para a minha esposa que ele [Santoro] estava perseguindo ela na rua", contou João Müller Haddad, irmão de Cecília. Segundo João, Santoro chegou a dizer que se mataria se ela não retomasse o relacionamento. "Ela nunca fez nada contra ele, pelo contrário, sempre o ajudou, pois sempre teve muita pena dele, por conta das filhas que ele tem no Brasil e por ele não ter emprego fixo", completou.
* (Com matérias publicadas em 07/07/2018 e 29/04/2019)