Faixas destruídas e intimidação: família agredida em velório denuncia PMs

Familiares de Guilherme Marques de Oliveira, cujo velório foi invadido por policiais em Bauru (SP), denunciaram à Corregedoria da Polícia Militar que sofrem perseguições de PMs desde que o caso repercutiu, há quase dois meses.

O que aconteceu

Atos de constrangimento aconteceram pelo menos quatro vezes desde as agressões no velório, diz a família. A primeira delas foi em 17 de novembro, um mês após a morte do jovem, quando faixas erguidas em homenagem a ele foram queimadas. Elas tinham dizeres como "Queremos paz" e "Não há confronto sem arma" e foram colocadas no terreno onde Guilherme e um colega foram mortos.

Novas faixas, colocadas para substituírem material queimado, também desapareceram de madrugada. Segundo a família, policiais do 13º Batalhão de Ações Especiais de Polícia seriam os responsáveis pela destruição.

Irmão da vítima foi parado pela PM e questionado sobre parentesco com jovem morto. Ele contou que "estava com medo e disse que não era irmão de Guilherme" na ocasião, entre 24 e 25 de novembro.

Outro irmão da vítima foi perguntado sobre o bairro em que morava e, ao responder, ouviu que a comunidade estava "devendo uma" à polícia. Esse caso aconteceu em 19 de novembro. Além dos dois, um terceiro irmão de Guilherme foi preso e agredido no dia do velório, em 18 de outubro, quando imagens das agressões foram publicadas nas redes sociais.

Família também notou viaturas passando devagar na porta de casa, com agentes "encarando" quem estivesse no local. Segundo a mãe de Guilherme, Nilceia Alves, 43, em uma das vezes um policial se referiu a ela como "vagabunda". Um dos episódios foi gravado por câmeras de segurança.

Denúncia de perseguição foi protocolada na Corregedoria da PM de São Paulo. Ao UOL, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que recebeu a denúncia e "apura todas as circunstâncias dos fatos" em um Inquérito Policial Militar.

Relembre o caso

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Dois jovens foram mortos durante uma operação da PM no Jardim Vitória, em Bauru, no dia 17 de outubro. Eles foram identificados como Guilherme Alves Marques de Oliveira, 18, e Luis Silvestre da Silva Neto, 21. A versão da polícia foi de que eles foram baleados em confronto e que drogas tinham sido encontradas com eles.

Sinais de tortura. Ao UOL, o advogado Ariel de Castro Alves, presidente de honra do Grupo Tortura Nunca Mais, afirmou que os ferimentos que os corpos dos jovens tinham no momento da morte podem sinalizar que eles foram torturados antes de morrer, o que confronta a versão da polícia de que houve confronto.

Além de terem sido assassinados por meio de disparos de armas de fogo dos policiais, os corpos tinham escoriações, que indicam que podem ter sofrido tortura antes das execuções.
Ariel de Castro Alves, advogado

Guilherme Oliveira havia completado 18 anos no dia 27 de setembro
Guilherme Oliveira havia completado 18 anos no dia 27 de setembro Imagem: Cedido ao UOL

Nilceia diz que Guilherme não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Ao UOL, ela falou que o filho completou 18 anos no dia 27 de setembro e trabalhava com conserto de celular. "Não existe nada disso do que eles estão falando. O Guilherme era um menino de 1,40 m, pesando 40 kg. Nunca foi envolvido com coisa errada, nunca passou no Conselho Tutelar, nunca colocou uma mão em uma arma.", contou. O UOL não conseguiu contato com a família de Luís.

Durante o velório de Guilherme, policiais agrediram familiares ao lado do caixão dele. As agressões aconteceram no dia 18 de outubro no Cemitério Cristo Rei, em Bauru. A família deixou o velório e o irmão do jovem morto, Fabio Nascimento, 27, foi levado pelos policiais em uma viatura.

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Vídeo mostra que ao menos cinco PMs participaram das agressões. Nas imagens, é possível ver que os agentes tentaram render um Fabio, que estava com a mãe, ao lado do caixão. Segundo a família, a confusão começou porque uma viatura da PM parou em frente ao cemitério assim que o corpo de Guilherme chegou ao local.

"Só pedia misericórdia", diz mãe. Após ser agredida, Nilceia saiu do velório em busca do filho levado pela polícia. Ela só conseguiu o encontrar no pronto-socorro do Hospital Central. Ele estava preso, mas por causa das agressões, precisou ser atendido. Em seguida, foi encaminhado para a delegacia, onde um boletim de ocorrência de desacato, resistência e abuso de autoridade foi registrado contra ele. Fábio foi liberado em seguida.

Quatro agentes foram afastados das atividades operacionais. Dois pela ação no velório e dois pelas mortes no suposto confronto que matou Guilherme e outro jovem.

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